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O mundo segundo Bill Gates

O cofundador da Microsoft Bill Gates, na 44ª edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça - 24.jan.2014 - Jean-Christophe Bott/AP
O cofundador da Microsoft Bill Gates, na 44ª edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça Imagem: 24.jan.2014 - Jean-Christophe Bott/AP

Em Nova York (EUA)

31/01/2014 00h01

Bill Gates, o cofundador da Microsoft Corp. e um dos homens mais ricos do mundo, não se importa com as más notícias. De fato, durante uma entrevista em uma gélida manhã nova-iorquina, ele tinha duas boas notícias: uma, o mundo está muito melhor que antes; e duas, não, ele não está jogando seu dinheiro fora.

Comecei com o mais óbvio. ‘Quanto dinheiro tem?’, perguntei.

Mais de US$ 70 bilhões, disse ele. Além disso, já doou --por meio da Fundação Bill e Melinda Gates-- mais de US$ 28 bilhões. Seu plano é doar quase tudo antes de morrer. "Meus filhos tiveram uma ótima educação e seremos generosos com eles", disse esse pai de 58 anos, "mas o dinheiro pertence à sociedade e investiremos em descobertas e programas que realmente ajudem o mundo."

Gates é um homem de números. Há décadas viu o futuro e criou os programas de computador que hoje dominam o planeta. Assim ganhou dinheiro. E, embora ainda seja presidente do conselho da Microsoft, há anos dedica a maior parte de seu tempo a distribuir sua fortuna.

Quantas vidas já salvou?

"O trabalho que fizemos salvou 8 milhões de vidas", ele conta, sem elevar o tom de voz. "Fizemos isso inventando novas vacinas e ajudando a fazer essas vacinas chegarem às crianças mais pobres."

Apesar disso, seus críticos afirmam que os Gates jogam dinheiro fora, ajudando países onde há ditadores e sem consequências econômicas em longo prazo. Eu disse a ele: muitos acreditam que o senhor é um homem bom, mas que está desperdiçando sua fortuna. Ele não concordou.

"Estou nisso com uma liberdade total para dar o dinheiro de qualquer forma que eu deseje", disse. "Creio firmemente nas análises e medições, fui observar esses programas de saúde e agrícolas e decidi que esta é a melhor forma de usar o dinheiro, apesar de uma porcentagem muito pequena --talvez 2%, em alguns casos até 5%-- ser desviada pela corrupção.”

Gates é agnóstico e, portanto, não dá ajuda com a esperança de ir para o céu. De fato, disse-me que, se o céu existisse, ele ficaria "gratamente surpreso".

Sua filantropia "não se baseia na ideia do além”. “Creio que aqui na terra há muitas vidas que podemos salvar. É pena que as pessoas não vejam como avançamos nos últimos 25 anos; a pobreza diminuiu, as pessoas vivem mais tempo e o mundo está se transformando em um lugar melhor."

Na carta anual de sua fundação, Gates faz uma previsão: "Nos próximos 20 anos haverá muito poucos países muito pobres e de baixos recursos". Mas segundo ele essas mudanças já se notam: basta ver as opções que temos nos supermercados, o acesso à água potável, a remédios, a novos trabalhos e à janela para o mundo que nos dão as redes sociais e os meios de comunicação.

As boas notícias, ele me diz, são mais difíceis de cobrir. Muitos acreditam que mais gente morre em desastres naturais. "É a natureza das notícias", afirma. A realidade é que mais crianças morrem de diarreia ou doenças respiratórias fáceis de curar. Mas a boa notícia é que milhões de vidas foram salvas com vacinas e acesso a tratamentos de saúde. Isso é o que não aparece na TV ou na internet. É isso que, geralmente, os jornalistas não cobrem.

Uma das coisas mais surpreendentes em Bill Gates é sua absoluta certeza de que o mundo pode melhorar. Continua sendo um jovem sonhador. Ele percebeu que seus bilhões serviram para algo.

Mas, para esse homem que pode ter tudo, há algo que o dinheiro não possa comprar? Aparentemente, sim. "Sempre temos a esperança de que nossos filhos tenham uma carreira que verdadeiramente apreciem", refletiu, "ou que tenham um ótimo parceiro. Mas não tem nenhum sentido preocupar-se com isso".

Exatamente. Bill Gates é um homem muito pragmático. Não se preocupa com as coisas que não pode mudar. Nos últimos anos se concentrou nas coisas que pode mudar. Vinte e oito bilhões de dólares depois, já salvou 8 milhões de vidas. E ainda falta gastar outros US$ 70 bilhões.

É sua convicção de que aqui na terra se pode construir um pedacinho do céu.