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Partilha da África entre China e Ocidente prenuncia nova crise no horizonte internacional

18.nov.2010 - O então vice-presidente da China Xi Jinping participa das comemorações do 10º aniversário do Fórum de Cooperação China-África, em Pretória (África do Sul) - Paballo Thekiso/AFP
18.nov.2010 - O então vice-presidente da China Xi Jinping participa das comemorações do 10º aniversário do Fórum de Cooperação China-África, em Pretória (África do Sul) Imagem: Paballo Thekiso/AFP

28/07/2014 09h14Atualizada em 28/07/2014 09h14

Num prestigioso programa do canal de TV americano CBS, a ex-secretária de Estado Madeleine Albright resumiu a atual situação internacional numa fórmula abrupta: “o mundo está uma bagunça!”.

Albright se referia à multiplicidade de conflitos que pipocam e se prolongam em várias partes do mundo, ao lado dos novos enfrentamentos militares na Palestina e na Ucrânia.

Há, porém, outras crises surgindo no horizonte. Uma delas, de bom tamanho, decorrerá da nova partilha da África entre os interesses da China e dos países ocidentais.

Um infográfico publicado no jornal de Hong Kong "South China Morning Post" ilustra a estratégia do governo de Pequim e seu desejo de inscrever os sucessos atuais do país nas etapas gloriosas do passado chinês.

Mostrando o traçado transcontinental da célebre Rota da Seda, que durante mais de dois milênios uniu a China ao Ocidente, trazendo, além da seda, invenções chinesas que revolucionaram a história mundial, como a pólvora e a bússola, o infográfico sobrepõe o itinerário da Rota Marítima da Seda.

Proposto pelo presidente Xi Jinping, o plano desta rota sai do porto de Guangzhou (ou “Cantão” no português tradicional) e vai até o golfo Pérsico, passando pelo estreito de Malaca e Colombo (no Sri Lanka). Singrada pelos navios da China, que já é atualmente o maior operador mundial de marinha mercante, esta rota – que traz muitíssimo mais que seda – expande o poderio chinês para o oceano Índico, o Médio Oriente e os portos da África Oriental.

Obviamente, no Oriente Médio, os chineses se interessam pelo petróleo. Mas, no caso da África, os objetivos vão além das matérias primas e agora visam a mão de obra barata africana.

Uma reportagem divulgada pela agência Bloomberg tem um título que resume essa nova realidade: "A Etiópia se torna a China da China na busca global pela mão de obra barata”. País pobre, com baixos salários, mas com eletricidade relativamente barata, a Etiópia está atraindo indústrias chinesas com uso intensivo de trabalho, como a indústria de sapatos, de camisas esporte e de bolsas.  Assim, enquanto o salário industrial mensal na China é, em média, US$ 560, na Etiópia o salário beira US$ 40.

A imprensa e o governo americano seguem de perto a nova redistribuição de cartas na África causada pela presença chinesa. Todos esses assuntos serão certamente discutidos, em público ou discretamente, em Washington na próxima semana quando se reúnem em volta do presidente Obama quase todos os chefes de Estado africanos na Cúpula Estados Unidos – África.