Por que Bangladesh é o país do ano de 2024, segundo a The Economist?
O tradicional anúncio feito pela revista britânica premia o país que mais avançou nos últimos 12 meses. Segundo a The Economist, Bangladesh "derrubou um tirano e parece estar caminhando para algo melhor". Síria, Argentina, Polônia e África do Sul completam o top 5 anunciados pela publicação.
O que levou Bangladesh ao topo da lista?
Os protestos de rua que provocaram a renúncia da então primeira-ministra do país representam um novo início para Bangladesh. Lideradas por estudantes, as manifestações forçaram a saída de Sheikh Hasina em agosto. Até então, a premiê, atualmente com 77 anos, estava no posto há 15.
A trajetória de Sheikh Hasina foi marcada por fraudes e violência. Após presidir um rápido crescimento econômico em Bangladesh, Sheikh Hasina "tornou-se repressora", segundo a The Economist. Além de prender opositores e ordenar que as forças de segurança do país atirassem em manifestantes, há registros de fraudes nas eleições para que Sheikh Hasina permanecesse no poder. "Enormes somas de dinheiro foram roubadas durante seu mandato", relata a revista.
À época da renúncia, Sheikh Hasina teria fugido para a Índia. Após a fuga da então premiê, o chefe do Exército, general Waker-Us-Zaman, declarou que um governo interino seria formado. Com histórico de violência, a destituição de Sheikh Hasina e a transição pacífica para o líder seguinte motivaram o prêmio concedido pela The Economist. Abaixo, imagens de populares comemorando a fuga da primeira-ministra nas ruas da capital Daca.
Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, lidera o governo temporário em Bangladesh. Ao contrário de sua antecessora, Yunus tem o apoio dos estudantes, do Exército, de empresas e da sociedade civil. Segundo a análise da The Economist, Yunus restaurou a ordem e estabilizou a economia desde que assumiu o país. Segundo a publicação, Yunus terá que decidir quando Bangladesh irá realizar as próximas eleições, "garantindo que os tribunais sejam neutros e que a oposição tenha tempo para se organizar".
Por derrubar um déspota [alguém que exerce autoridade arbitrária] e dar passos largos em direção a um governo mais liberal, Bangladesh é o nosso país do ano
The Economist
Sheikh Hasina é filha de Sheikh Mujibur Rahman, chamado pela The Economist de 'herói da independência'. Sheikh Mujibur Rahman foi um dos fundadores de Bangladesh, tendo atuado como presidente e primeiro-ministro do país. O político foi assassinato em agosto de 1975, em um golpe de estado.
Completando o top 5
Em segundo lugar na lista da The Economist está a Síria. Mais de uma década após o início de uma guerra civil que assolou o país, o ex-presidente Bashar al-Assad deixou o país e procurou asilo político na Rússia. "Assad foi facilmente o pior tirano deposto em 2024", diz a The Economist.
Segundo a revista, a saída de Assad, no entanto, não garante a paz na Síria. "A Hayat Tahrir al-Sham (HTS), grupo rebelde mais poderoso que agora controla Damasco e partes do resto da Síria, tem sido pragmático até o momento. Mas, até 2016, era afiliada à Al Qaeda e, durante alguns anos, governou a província de Idlib com competência, mas de forma repressiva. Se a HTS ganhar muito poder, poderá impor uma autocracia islâmica. Se tiver muito pouco, a Síria pode se desintegrar", analisa a The Economist.
A Argentina, a Polônia e a África do Sul fecham as primeiras colocações. No país sul-americano, as medidas do presidente Javier Milei, consideradas pela The Economist como "experimento de mercado livre mais radical do mundo" fizeram com que a economia argentina voltasse a crescer, com a queda da inflação e dos juros de empréstimos. No país europeu, o novo governo de Donald Tusk, formado após as eleições parlamentares de 2023, vem reparando estragos feitos durante os anos de governo do partido Lei e Justiça. Já na nação africana o Congresso Nacional Africano (CNA) irá governar por meio de uma coalizão, cujos líderes tendem a se aproximar da Aliança Democrática, oferecendo "chances de um governo melhor".
'O país do ano' é revelado pela The Economist a cada mês de dezembro. Entre os vencedores anteriores anunciados pela revista, a Colômbia levou o título em 2016 pelo fim de uma guerra civil, a Ucrânia foi eleita em 2022 por resistir a uma invasão não provocada da Rússia, e o Maláui venceu em 2020 pela democratização local. Em 2023, o prêmio foi concedido à Grécia, graças ao reestabelecimento após enorme crise financeira e a reeleição de um governo considerado "sensato" pela revista.
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