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O novo governo da Itália e as ameaças ao euro

Líder do Movimento Cinco Estrelas, Luigi Di Maio cumprimenta o novo premiê, Giuseppe Conte (d) - Remo Casilli/Reuters
Líder do Movimento Cinco Estrelas, Luigi Di Maio cumprimenta o novo premiê, Giuseppe Conte (d) Imagem: Remo Casilli/Reuters

25/05/2018 13h37

O novo governo italiano formado pela coligação entre o Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga representa uma nova ameaça para a zona euro e a União Europeia (UE).

Há dois atores principais e dois secundários no governo da Itália. Os dois secundários são o presidente da Itália (eleito por voto indireto) Sergio Mattarella e o primeiro-ministro Giuseppe Conte. Os dois principais são Matteo Salvini, líder da Liga do Norte, e Luigi Di Maio, que dirige o M5S.

O partido de Salvini é o mais organizado e mais homogêneo do novo governo. Nomeado ministro do Interior, com o controle da segurança pública e da imigração, Salvini defende um programa parecido com o de Marine Le Pen, do Front National, na França.

Favorável à expulsão em larga escala de imigrantes ilegais e contrária ao multiculturalismo, o governo central de Roma e as instituições europeias, a Liga não abandonou inteiramente a proposta de sair da zona euro. Embora tenha mudado o seu nome de Liga do Norte para Liga, o partido, cujas bases estão sobretudo nas regiões urbanas do norte de Itália, tem fortes tendências autonomistas e mesmo separatistas.

Dirigindo uma formação política mais recente e mais heterogênea, Luigi Di Maio, que tem apenas 31 anos, ascendeu à liderança do M5S, fundado em 2009 pelo palhaço Beppe Grillo, na sequência de expulsões e cisões de membros do partido. Embora os deputados do M5S no Parlamento Europeu se alinhem ao lado do movimento xenófobo e anti-europeu britânico UKIP, Luigi Di Maio não fala mais em tirar a Itália do euro.

Articulado às redes sociais e bastante descentralizado, o M5S compartilha a política anti-imigrantista propugnada pela Liga, mas incorporou também propostas tradicionalmente progressistas como a defesa do meio-ambiente e da renda mínima para os pobres.

Este último ponto configura uma primeira contradição entre os dois partidos, na medida em que a Liga propõe uma redução de impostos, sem que se saiba o impacto das medidas sobre a dívida pública do país. Correspondendo a 132% do PIB, a dívida pública italiana é a segunda mais alta da Europa, logo atrás da dívida grega.

No plano internacional, tanto a Liga quanto o M5S expressam simpatias pelo regime de Vladimir Putin e propõem o fim das sanções econômicas e financeiras decretadas pela UE contra a Rússia em 2014, depois da crise russo-ucraniana e da anexação da Crimeia por Moscou. Na formação do ministério, nem Di Maio nem Salvini não conseguiram impor seu nome para a chefia do governo, que acabou sendo confiada a Conte.

Universitário pouco conhecido, mas com um CV acadêmico pomposo que logo revelou-se ser fraudado, Conte foi escolhido precisamente por ser inexpressivo. Sua presença na chefia do governo lhe confere apenas uma autoridade protocolar sobre Salvini ou Di Maio, que dirigirá um grande ministério do trabalho e do desenvolvimento econômico.

De comum acordo, a Liga e o M5S indicaram o novo ministro da Fazenda, Paolo Savona. Ocorre que, com 81 anos, o economista Savona é conhecido por sua hostilidade à União Europeia e, em particular, à Alemanha, descrevendo o euro como uma "gaiola alemã". Ciente do desconforto gerado em Bruxelas, Paris e Berlim pela indicação de Savona à pasta da Fazenda, o presidente italiano, Sergio Mattarella, segundo a imprensa europeia, teria expressado suas restrições aos dois líderes da coalizão.

Matteo Salvini logo declarou que não poderia haver nenhum "veto" à nomeação de Paolo Savona, configurando assim a primeira crise no frágil governo que está sendo formado na Itália.