Topo

Diferenças entre regiões nos EUA não sustentam apelo conservador

 Rick Perry, governador do Texas, vai concorrer à Presidência dos EUA - Richard Carson/Reuters
Rick Perry, governador do Texas, vai concorrer à Presidência dos EUA Imagem: Richard Carson/Reuters

Paul Krugman

26/08/2014 00h01

O governador Rick Perry, do Texas, está concorrendo à Presidência novamente. Quais são as suas chances? Será que ele vai voltar a ser uma piada? Não faço a menor ideia. Esta não é uma coluna de corrida de cavalos.

O que eu gostaria de fazer, em vez disso, é tirar proveito das ambições de Perry para falar sobre um dos meus assuntos favoritos: as diferenças de crescimento econômico e populacional das regiões.

Veja bem, enquanto as posições linha-dura de Perry e sua religiosidade podem ser pontos de venda para a base do Partido Republicano, seu apelo nacional, se houver, terá que se firmar no fato de que ele sabe como criar prosperidade. E é verdade que o Texas teve um crescimento de emprego mais rápido do que o resto do país, assim como outros Estados do Sunbelt (“Cinturão do Sol”) com governos conservadores. A questão, porém, é por quê.

Evidentemente que a resposta da direita é que tudo foi obtido evitando regulamentos que interferem com as empresas e mantendo baixos os impostos sobre os ricos; que, assim, eles incentivaram os criadores de emprego a fazerem seus negócios. Mas acontece que há grandes problemas com essa história, além do hábito dos economistas que promovem esse raciocínio de se basearem em fatos errados.

Para ver os problemas, vamos contar um conto de três cidades.

Uma delas é aquela que nós, que vivemos em sua órbita, chamamos simplesmente de "A Cidade" ["The City" ou Nova York]. Atualmente, é um lugar que está indo muito bem em várias frentes. Mas, apesar da entrada de imigrantes e de pessoas descoladas, um bom número de pessoas ainda está deixando a grande Nova York --uma área metropolitana que, de acordo com o censo, estende-se para a Pensilvânia de um lado e para Connecticut por outro--, de forma que sua população total subiu menos do que 5% entre 2000 e 2012. No mesmo período, a população de Atlanta cresceu quase 27% e a de Houston cresceu quase 30%. O centro de gravidade dos Estados Unidos está se deslocando para o sul e para o oeste. Mas por quê?

Será por que, como alegam pessoas como Perry, as políticas pró-negócios e pró-ricos como as que ele defende significam oportunidade para todos? Se esse fosse o caso, seria de se esperar que todas essas oportunidades de trabalho provocassem um aumento dos salários no Sunbelt e, assim, atraíssem as pessoas ambiciosas dos Estados azuis moribundos.

Acontece, porém, que os salários que estão atraindo a maioria dos migrantes são geralmente mais baixos do que os salários de onde eles vêm, o que sugere que os lugares que os americanos estão deixando realmente têm maior produtividade e mais oportunidades de emprego do que os lugares para onde estão indo. O emprego médio na grande Houston paga 12% menos do que o emprego médio na grande Nova York; o emprego médio na grande Atlanta paga 22% menos.

Então, por que as pessoas estão se deslocando para essas áreas de baixos salários relativos? Porque morar lá é mais barato, basicamente pelo custo da habitação. De acordo com o Bureau of Economic Analysis, os aluguéis (incluindo o aluguel equivalente envolvido na compra de uma casa) na região metropolitana de Nova York são cerca de 60% maiores do que em Houston, 70% maiores do que em Atlanta.

Em outras palavras, o que os fatos realmente sugerem é que os americanos estão sendo empurrados para fora da região nordeste (e mais recentemente da Califórnia) pelos altos custos de habitação, e não atraídos pelo desempenho econômico superior do Sunbelt.

Mas por que os preços da habitação em Nova York ou na Califórnia estão tão altos? A densidade populacional e a geografia fazem parte da resposta. Por exemplo, Los Angeles, que foi pioneira no tipo de expansão que hoje se vê em Atlanta, ficou sem espaço e tornou-se uma metrópole, surpreendentemente densa. No entanto, como enfatizou Edward Glaeser, de Harvard, e outros, os altos preços da habitação nos Estados de crescimento lento também devem muito às políticas que limitam drasticamente as construções.

Os limites da altura de prédios nas cidades, o zoneamento que bloqueia o desenvolvimento mais denso nos subúrbios e outras políticas restringem a habitação em ambas as costas. Enquanto isso, a regulação mais frouxa no sul manteve a oferta de habitação elástica e o custo de vida baixo.

Então, as reclamações conservadoras sobre o excesso de regulação e de intromissão do governo não estão totalmente erradas, mas o segredo do crescimento do Sunbelt não é ser bom para as corporações e para a faixa do 1% mais rico, é não atravancar a oferta de habitação para a classe média e a classe trabalhadora.

E isso, por sua vez, significa que o crescimento do Sunbelt não é o tipo de história de sucesso que os conservadores estão nos vendendo. Sim, os americanos estão se mudando para lugares como o Texas, mas, em um sentido fundamental, eles estão se mudando para o lado errado, deixando as economias onde sua produtividade é elevada para destinos onde ela é mais baixa. E o caminho para tornar o país mais rico é incentivá-los a voltarem, tornando a habitação mais acessível em áreas metropolitanas densas e de altos salários.

Então, Rick Perry não conhece os segredos da criação de emprego nem mesmo do crescimento regional. Seria ótimo ver a verdadeira chave do problema --moradias populares-- se tornar uma questão nacional. Mas não acho que os democratas estão dispostos a indicar o prefeito Bill de Blasio para presidente ainda.