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O valor da liberdade no trabalho

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Imagem: Thinkstock

Richard Branson

13/12/2012 00h01

Como eu sempre trabalhei para mim mesmo, eu nunca tive de jogar de acordo com as regras estabelecidas por outras pessoas – e, de qualquer forma, eu não ia querer ter de obedecê-las. Essa atitude moldou minha abordagem em relação à gestão desde os primeiros dias da Virgin, quando eu decidi conceder aos nossos funcionários muitas das mesmas liberdades de que eu desfruto. Hoje, o Grupo Virgin é composto por dezenas de empresas dirigidas por CEOs (principais executivos) e gestores que têm liberdade para administrar seus negócios como bem entenderem. Essa filosofia vai contra as regras usuais do mundo dos negócios, e pode até parecer incontrolável – mas ela acabou por se transformar em uma das chaves do nosso sucesso.
 
No ano passado, abrimos novas empresas Virgin de celulares no Chile e na Polônia, países onde a nossa marca ainda não havia entrado. Esse normalmente seria um projeto muito difícil e um tanto arriscado para qualquer empresa, mas nós temos um processo que funciona muito bem. No Chile e na Polônia, as equipes avaliaram as necessidades e exigências desses mercados e, em seguida, estruturam as empresas de acordo – não houve pressão de cima para baixo ditando como as empresas deveriam fabricar ou vender seus produtos e serviços nem como elas deveriam conduzir os negócios no dia a dia. Após os funcionários terem sido contratados para administrar as novas empresas, as equipes responsáveis pelo lançamento do negócio se certificaram de que todos conheciam bem o espírito da Virgin e sabiam por que nossas empresas são diferentes das da concorrência.
 
Certos de que essas novas empresas estavam prontas para fazer negócios à maneira da Virgin, nós conseguimos dar aos funcionários a liberdade necessária para administrá-las da melhor forma e de acordo com os respectivos mercados em que elas se encontram – a responsabilidade era toda deles. Ambas as empresas iniciaram suas operações com muito sucesso.
 
Outro quesito em relação ao qual pedimos a vários funcionários para que tomem suas próprias decisões – quesito que muitas outras empresas não podem se dar ao luxo de flexibilizar – é o lucro de curto prazo: nós nos concentramos menos nessa métrica do que a maioria das empresas. Todos nós compreendemos a importância do lucro – caso contrário, o Grupo Virgin não se manteria em atividade por muito tempo. No entanto, essa não deve ser –nem nunca foi – nossa força motriz. Nossos funcionários são livres para correr riscos positivos e sabem que não serão apenas julgados pela margem de lucro da empresa, mas também por fatores que todos nós na Virgin valorizamos, como o aumento do conhecimento sobre a marca, a atração de clientes satisfeitos e leais e um impacto positivo sobre a comunidade do entorno e além. Ao oferecer aos empregados as mesmas liberdades que eu e gerentes seniores concedemos a nós mesmos, nossa equipe são capazes de assumir projetos que outras companhias não conseguem, como a Virgin Galactic e a Virgin Oceanic –agências de turismo voltadas, respectivamente, para a expansão das viagens ao espaço e das viagens às profundezas do oceano.
 
Essa política também ajuda nossos funcionários a terem sucesso, pois eles têm a liberdade de ir atrás de suas paixões. Nosso mais novo negócio, a empresa global de shows Virgin Live, teve um grande lançamento por conta desse motivo. Embora a marca Virgin seja bem respeitada na indústria da música, considerando-se as nossas raízes – no passado, a Virgin Records e a Virgin Music se saíram muito bem nas áreas de produção e distribuição musical –, nós não tínhamos um histórico relacionado à promoção de turnês mundiais. No entanto, a pequena e entusiasmada equipe da Virgin Live superou a concorrência de gigantes do mercado e ganhou o direito de promover a série de shows “50 & Counting” dos Rolling Stones. Esse foi um momento de muito orgulho para nós: se você quiser entrar nesse negócio, realmente não há uma forma maior ou melhor de mostrar suas intenções.
 
Antes de seu show na Arena O2, em Londres, eu chamei Mick Jagger para conversar rapidamente e tirar algumas fotos com ele e com minha família. Quando nós estávamos conversando, ele me perguntou, em tom de brincadeira, se eu ia embora antes do show, pois “é isso que todos os outros promotores fazem”.
 
Eu não tinha intenção de fazer isso. “Eu vou te ver da primeira fila”, eu disse a ele.
 
Minha família e eu assistimos ao show de pé, diante de nossos assentos localizados perto do palco. Foi uma noite fantástica – e eles fizeram um show maravilhoso. O motivo pelo qual alguém deixaria escapar a oportunidade de ver essa apresentação está além da minha compreensão. Depois, eu fiquei pensando que a pergunta Mick mostrou por que ganhamos o contrato: nossos funcionários amam o que fazem e se atiram de cabeça no trabalho. Por isso, eles alcançam muito mais do que qualquer um poderia esperar.
 
Meu conselho para que você deixe seus funcionários mais soltos pode não servir para todos – a Virgin tem uma forte cultura de ignorar as regras tradicionais do mundo dos negócios e de perseguir um propósito, além de apenas visar lucro. Nossas responsabilidades podem mudar ao longo dos anos – a aquisição de um banco ou a prestação de serviços de assistência médica –, mas a nossa fórmula para o sucesso permanece constante: “não basta jogar o jogo – mude-o para sempre”.