Reinaldo Azevedo

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Opinião

Bolsonaro indiciado. Ou: Nos EUA, golpista disputa poder; aqui, vai em cana

Restou a Jair Bolsonaro e aos demais indiciados no caso das joias alegar perseguição. As respectivas defesas certamente tentarão buscar argumentos de natureza técnica. Embora a etimologia esteja escancarada nas derivações, "indiciamento" vem do verbo "indiciar", que significa "fornecer o indício", que são os sinais, os traços, os elementos que "indicam" (mesma origem) uma possibilidade. Ainda não é denúncia nem condenação. Mas as coisas não vão bem para o ex-presidente e a turma.

Enviado o trabalho final da PF a Alexandre de Moraes, relator do caso do STF, o ministro o remete à Procuradoria-Geral da República, que pode fazer uma de três coisas: recomendar o arquivamento, oferecer a denúncia à Corte ou pedir novas diligências.

Dados os elementos apontados pela PF, não resta dúvida de que uma cadeia de comando que tinha Bolsonaro na ponta atuou para passar as joias nos cobres e até para recomprar uma delas na tentativa de amenizar as suspeitas contra o ex-presidente, que tem duas linhas de defesa não harmônicas: 1) ficar com as joias não seria crime; 2) ele não deu a ninguém autorização para a venda nem conhecia as operações, o que já foi desmentido, em colaboração premiada, por Mauro Cid, outro indiciado, junto com o pai, general Mauro Cesar Lorena Cid.

Esse não é o primeiro indiciamento do Muso de Michelle, poupada pela PF. Há também o da fraude no sistema de registro de vacinas. E isso não diz tudo. Bolsonaro só saberá o tamanho da encrenca quando se concluírem os seguintes inquéritos:

- 4781: apura o cometimento de crimes de denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de "animus caluniandi, dijfamandi ou injuriandi", que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal;

- 4.874: foi instaurado após determinação nos autos do Inq.4.828 em virtude da presença de fortes indícios e significativas provas apontando a existência de uma verdadeira organização criminosa, de forte atuação digital e com núcleos de produção, publicação, financiamento político absolutamente semelhantes àqueles identificados no Inq.4.781/DF. É nesse inquérito que se apuram as ações de Bolsonaro em favor de um eventual golpe de estado;

- Inq.4878: apura o vazamento de dados de operações sigilosas em curso perante a Polícia Federal.

VAI FAZER O QUÊ?
O que Bolsonaro vai fazer com o indiciamento? Ora, tentar a "Saída Trump": mobilizar a sua tropa para que o evento negativo se transforme num fator de mobilização. Para a nossa sorte, há uma diferença de institucionalidade entre os EUA e o Brasil. E que conta muito a nosso favor. A nossa legislação é clara: os crimes de responsabilidade, que podem resultar no impeachment de um presidente da República, obviamente desaparecem com o seu mandato. Se o sistema político escolheu não lhe dar consequência, nada há a fazer.. O "Mito" cometeu mais de 30. As denúncias que chegaram à Câmara não prosperaram. Até porque não havia dois terços para aprovar o impedimento.

Os crimes comuns, no entanto, não desaparecem. Não temos coisas obscenas como a "imunidade relativa" para o vale-tudo, que a Suprema Corte concedeu há pouco a Trump. Nos EUA, um golpista pode voltar, impune, à Casa Branca. No Brasil, vai para a cadeia.

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Neste fim de semana, haverá o evento com a "reacionarada" em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Acontece na cidade a quinta edição da tal Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC). Javier Milei, o delinquente que governa a Argentina, chega no sábado, encontra-se com Bolsonaro num jantar oferecido por Jorginho Mello, governador do Estado, e discursa no domingo. Voltarei a esse particular em outro texto.

Com um novo indiciamento, restará a Bolsonaro posar de vítima triunfante entre os que falam a sua língua. Ocorre que, por aqui, o prémio é a Papuda, não a Presidência da República.

Ele é perseguido? Sim. Pelo seu passado e por sua concepção de mundo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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