Topo

O primeiro a lançar um produto (rápido demais) nem sempre é o melhor

Cama em avião da Virgin Atlantic: primeiro projeto foi um fiasco, mas nova versão superou a concorrência - Reprodução/Virgin
Cama em avião da Virgin Atlantic: primeiro projeto foi um fiasco, mas nova versão superou a concorrência Imagem: Reprodução/Virgin

16/11/2015 06h00

A primeira vez que um GPS me perguntou se eu preferia pegar o caminho mais curto ou o mais rápido para um destino, fiquei confuso. “Não são a mesma coisa?”, pensei.

O ponto é que, obviamente, um trajeto de 16 km por uma via marginal às vezes pode levar dez minutos, enquanto uma alternativa de 8 km por ruas secundárias pode levar três vezes mais tempo.

Infelizmente, no mundo dos negócios não existem dispositivos de GPS para traçar claramente o caminho a seguir, mas ao longo dos anos aprendi que o caminho mais rápido raramente é o melhor. Quando você está trabalhando no lançamento de uma empresa ou produto novo, pode ser tentador tentar apressar o lançamento no mercado, mas muitas vezes é melhor esperar e acertar o produto –fazer testes, reformular e testar um pouco mais.

Mesmo as companhias de maior sucesso às vezes cometem esse erro. Em 2008, por exemplo, enquanto esquentava a disputa para fornecer armazenamento em nuvem, a Apple se apressou para oferecer o MobileMe, um modelo pago que prometia sincronizar todos os dados que os assinantes armazenavam em dispositivos da Apple. Mas o serviço teve falhas graves; ele não funcionava boa parte do tempo. A Apple levou três anos de trabalho duro para voltar atrás e criar o iCloud, um serviço gratuito que Steve Jobs revelou com orgulho em 2011.

O estranho foi que a Apple conseguiu recuperar o atraso. Os concorrentes da Apple no armazenamento em nuvem, sobretudo a Amazon e o Google, tinham passado por aqueles três anos sem dificuldades --basicamente, permanecendo no caminho principal-- então a Apple conseguiu aprender com sua experiência ruim e se recuperar.

Pense nisso desta forma: quando você visita uma nova cidade a negócios, raramente consegue ver muito mais do que o aeroporto e o centro. Quando as pessoas me perguntam o que eu acho da China, por exemplo, sou obrigado a observar que conheço apenas uma pequena parte desse imenso país. Minha resposta normalmente tem de ser introduzida por: "bem, na verdade tudo o que eu vi foi Pequim e Xangai, mas..." Um turista que só visita Londres sabe pouco sobre a Inglaterra, e um que só visita Nova York e Los Angeles tem pouca compreensão dos Estados Unidos.

Meu ponto é que você precisa desenvolver um conhecimento consistente sobre o mercado, e tirar um certo tempo para explorar as possibilidades de seu produto ou serviço, testá-lo com clientes potenciais e pedir feedback vai lhe dar uma compreensão muito melhor do terreno. E se você se enveredar por alguns lugares fora do caminho, explorando ideias incomuns que surgiram, terá mais chances de detectar oportunidades que a sua concorrência não viu por causa da pressa.

Na Virgin Atlantic, uma vez cometemos um erro semelhante na disputa com nossa arquirrival, a British Airways. Queríamos ser a primeira a lançar uma cama totalmente plana na cabine executiva, então corremos para lançar um novo assento.

Agora, "plano" é um termo interessante. Quando eu digo que uma porta é plana, provavelmente você pensa numa superfície vertical, ao passo que se eu disser que uma cama é plana, você pensa automaticamente na horizontal. O problema com a cama plana da qual nos orgulhávamos foi que, embora ela fosse plana, não era horizontal.

Na corrida para sermos os primeiros, tínhamos tomado o caminho mais rápido e produzido um assento que se transformava numa cama plana que ficava num ângulo de aproximadamente 30 graus. Os passageiros (eu inclusive) tinham medo de escorregar enquanto dormiam! E enquanto nós estávamos correndo para entregar nossa nova ideia, a British Airways ficou sabendo do nosso novo assento secreto e tomou tempo para desenvolver uma cama verdadeiramente horizontal, passando na nossa frente.

Voltamos à estaca zero. Da segunda vez, criamos um assento horizontal totalmente novo e uma disposição revolucionária na cabine --e a Virgin passou na frente deles. Mas essa corrida para chegar primeiro nos custou muito. Foi uma lição cara, e nos lembrou que fazer as coisas direito é melhor do que trazer uma nova ideia para o mercado primeiro, mas de uma forma muito ruim.

Então, quando você estiver lançando ou melhorando algum produto ou serviço, lembre-se da história da tartaruga e da lebre. O caminho mais rápido nem sempre o fará cruzar primeiro à linha de chegada. E se isso acontecer, pode ser que o vice-campeão seja o verdadeiro vencedor.