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Comentário: Você ouviu a última notícias sobre os banqueiros?

01/11/2011 00h00

O Citigroup teve sorte pelo fato de Muammar Gaddafi ter sido morto naquele momento exato. A morte do líder líbio fez com que as atenções se desviassem de um artigo letal envolvendo o Citigroup que mereceria mais atenção porque ele ajuda a explicar por que muitos norte-americanos comuns manifestaram apoio ao movimento Occupy Wall Street (Ocupar Wall Street).

A matéria disse que o Citigroup teve que pagar US$ 285 milhões de indenizações em um caso em que, por um lado, o Citibank vendeu um pacote de securities baseadas em hipotecas impagáveis a clientes que não suspeitavam de nada – securities que o Citibank sabia que provavelmente perderiam todo o valor – e, por outro lado, engajou-se em uma jogatina com essas mesmas securities – ou seja, apostou milhões de dólares na implosão dos próprios títulos financeiros que vendeu.

É impossível chegar a um nível de imoralidade maior.

Conforme dizia o texto da queixa apresentada à Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos, em 2007, o Citigroup exerceu uma “influência significativa” na escolha de US$ 500 milhões de um total de ativos no valor de US$ 1 bilhão contido no acordo, e o banco de operações globais optou deliberadamente por colaterizar as obrigações de dívida, ou CDOs, baseadas em hipotecas que estavam fadadas a um calote maciço.

Segundo o “Wall Street Journal”, o processo junto à Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos citava um corretor de CDOs não identificado – que não pertencia ao Citigroup – que descreveu essa operação como algo que lembrava aquele resíduo que um cachorro deixa sobre o gramado do vizinho.

“O negócio perdeu praticamente todo o seu valor em um período de alguns meses após a sua criação”, acrescentou o artigo do “Wall Street Journal”. “Como resultado disso, cerca de 15 fundos de hedge, gerentes de investimentos e outras firmas que investiram nele perderam centenas de milhões de dólares, enquanto que o Citigroup embolsava US$ 160 milhões em taxas e lucros de corretoria”.

O Citigroup, que atualmente está sob um novo e melhor gerenciamento, conseguiu chegar a um acordo relativo ao processo sem admitir ou negar ter feito qualquer coisa de errado. James Stewart, um colunista especializado em economia do “New York Times”, observou que a fraude perpetrada pelo Citigroup fez com que “as falcatruas dos corretores de hipotecas do Goldman Sachs parecessem traquinagens de escoteiros.

Ao pagar uma indenização de US$ 550 milhões devido às acusações de fraudes contra si no ano passado, o Goldman Sachs foi acusado pela Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos de ser o intermediário em um esquema similar, permitindo que o gerente de fundo de hedge John Paul ajudasse a escolher as hipotecas e, a seguir, apostasse contra elas sem revelar isso às outras partes envolvidas.

Já o Citigroup dispensou totalmente figuras intermediárias como Paulson, preferindo desempenhar ele próprio esses papeis lucrativos” (na quinta-feira da semana passada, o tribunal federal que supervisiona esse processo exigiu que a Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos explicasse como foi que um caso de fraude tão grave na área de securities pôde ter sido encerrado sem que o acusado nem admitisse nem negasse ter feito qualquer coisa de errado).

Isso conduz ao motivo fundamental pelo qual os grupos anti-Wall Street em todo o mundo estão causando tanto impacto. Eu estava na Praça Tahrir, no Cairo, presenciando a queda de Hosni Mubarak, e uma das coisas que mais me impressionou a respeito da manifestação foi a forma como ela era apolítica. Quando eu conversei com cidadãos egípcios, ficou claro para mim que o que estimulava os protestos, acima de tudo, não era uma busca pela democracia – embora isso sem dúvida tenha sido um fator importante. O que eles buscavam primordialmente era “justiça”.

Muitos egípcios estavam convencidos de que viviam em uma sociedade profundamente injusta na qual o jogo fora viciado pela família Mubarak e pelos seus capitalistas ladrões. O Egito demonstra o que ocorre quando um país adota um capitalismo de livre mercado sem criar um verdadeiro Estado de direito e instituições.

Mas, sendo assim, o que aconteceu conosco? A nossa indústria financeira cresceu tanto e ficou tão rica que ela corrompeu as nossas instituições reais por meio de doações políticas. Conforme afirmou sem rodeios o senador Dick Durbin, democrata de Illinois, em uma entrevista de rádio em 2009, apesar de terem provocado essa crise, essas mesmas companhias financeiras “ainda se constituem no mais poderoso lobby dentro do congresso dos Estados Unidos. E, elas, francamente, são as donas do lugar”.

Atualmente o nosso congresso é um fórum para a prática legalizada de pagamento de propinas. Um grupo de defesa dos consumidores, utilizando informações da Opensecrets.com, calcula que a indústria de serviços financeiros, incluindo o setor de operações imobiliárias, gastou US$ 2,3 bilhões em contribuições para campanhas federais entre 1990 e 2010, uma cifra maior do que o montante total combinado das indústrias de saúde, energia, defesa, agricultura e transporte. Por que há 61 membros no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados? Porque muitos congressistas desejam estar no lugar certo para venderem os seus votos a Wall Street.

Nós não podemos mais suportar essa situação. Precisamos nos concentrar em quatro reformas que não exigem novas burocracias para serem implementadas.

1) Se um banco for grande demais para fracassar, ele é de fato grande demais e precisa mesmo quebrar. Nós não podemos correr o risco de vir a financiar um outro pacote de US$ 1 trilhão para resgate de bancos.

2) Se os nossos depósitos bancários contarem com seguro federal financiado pelo contribuinte norte-americano, não se pode fazer nenhuma operação proprietária com esses depósitos. Ponto.

3) Derivativos precisam ser negociados em bolsas transparentes nas quais nós tenhamos condições de verificar se uma outra AIG está criando um risco colossal.

4) Finalmente, uma ideia vinda da blogosfera: os congressistas norte-americanos deveriam se vestir como pilotos de fórmula Nascar e usar logomarcas de todos os bancos, bancos de investimentos, companhias de seguros e companhias imobiliárias dos quais eles recebem dinheiro. O povo precisa saber.

O capitalismo e os livres mercados são os maiores motores para gerar crescimento e aliviar a pobreza – contanto que eles sejam contrabalançados por transparência, regulação e fiscalização significativas. Nós perdemos esse contrapeso na década passada. Se não o reinstituirmos – e atualmente existe um tsunami de dinheiro contrário a isso – nós teremos uma nova crise. E, se isso acontecer, o clamor por justiça poderá se tornar violento. Um conselho gratuito à indústria de serviços financeiros: procurem ser touros (o touro é o símbolo de Wall Street).

Deixem de ser porcos.