Maiores economias industriais estão levando mudança climática mais a sério
Com a China e a Índia acabando de anunciar grandes planos para conter suas emissões de carbono, o som que se ouve é o da inflexão em um ponto de inflexão. Rumo à Cúpula do Clima das Nações Unidas, em Paris, em dezembro, todas as maiores economias industriais do mundo estão levando a mudança climática mais a sério agora. Isto inclui os EUA --exceto por alguns dos cabeças-duras que pretendem ser os próximos presidentes, o que não é um problema menor.
No debate presidencial republicano na CNN, o moderador Jake Tapper leu declarações do então secretário de Estado de Ronald Reagan, George Shultz (que dirige um carro elétrico abastecido por painéis solares instalados no telhado de sua casa), sobre como o ex-presidente pediu que a indústria abordasse, de maneira proativa, a questão da camada de ozônio e porque Shultz acredita que devemos ser igualmente proativos hoje para enfrentar a mudança climática. Tapper recebeu respostas habituais como "não sei de nada".
O senador Marco Rubio disse: "Não vamos destruir nossa economia como o governo de esquerda que temos hoje quer que façamos". Enquanto o governador Chris Christie opinou sobre Shultz: "Ora, todo mundo comete um erro de vez em quando".
Com certeza, e não é Shultz que vem dizendo de maneira sábia e corajosa aos republicanos, que a coisa conservadora a fazer agora é um seguro contra a mudança climática, porque se ela realmente avançar, os resultados poderão ser "catastróficos". O furacão Sandy - provavelmente reforçado pelo aquecimento das águas oceânicas --causou prejuízos de mais de US$ 36 bilhões ao Estado de Christie, Nova Jersey, em 2012.
Mas, ora, "coisas acontecem".
Houve um tempo em que podíamos tolerar esse tipo de pensamento idiota. Mas terminou. Os próximos oito anos serão críticos para o clima e os ecossistemas do mundo e, se você votar em um cético do clima para presidente, é melhor conversar com seus filhos primeiro, porque terá de responder a eles mais tarde.
Se você tiver tempo para ler um livro sobre o assunto, recomendo fortemente o novo "Big World, Small Planet" (Mundo grande, planeta pequeno), de Johan Rockstrom, diretor de Stockholm Resilience Center, e Mattias Klum, cujas fotografias surpreendentes de distúrbios no ecossistema reforçam a urgência do momento.
Rockstrom começa sua discussão com o lembrete de que, na maior parte dos 4,5 bilhões de anos de história da Terra, o clima não foi muito hospitaleiro para os seres humanos, já que oscilava entre "eras do gelo punitivas e períodos de calor luxuriante" que forçaram a humanidade a adotar estilos de vida seminômades.
Foi somente nos últimos 10 mil anos que desfrutamos as condições climáticas estáveis que permitiram que as civilizações se desenvolvessem, com base na agricultura capaz de sustentar as cidades. Esse período, conhecido como Holoceno, foi um "equilíbrio interglacial quase milagrosamente estável e quente, que é o único estado do planeta que sabemos com certeza ser capaz de suportar o mundo moderno como o conhecemos". Finalmente ele nos deu "um equilíbrio estável de florestas, savanas, recifes de coral, pastagens, peixes, mamíferos, bactérias, qualidade do ar, camada de gelo, temperatura, disponibilidade de água doce e solos produtivos".
É "o nosso Éden", acrescentou Rockstrom, e agora "estamos ameaçando empurrar a Terra para fora desse ponto ideal", desde meados dos anos de 1950, quando a revolução industrial alcançou a maior parte do globo e as populações e as classes médias explodiram. Isto provocou "a grande aceleração" do crescimento industrial e da agricultura, o que colocou todos os ecossistemas da Terra sob tensão. Os impactos hoje são óbvios: "mudança climática, poluição química, poluição aérea, degradação da terra e da água... e a perda maciça de espécies e habitats".
A boa notícia é que nesse período muitos destituídos do mundo escaparam da pobreza. Eles entraram na festa. A má notícia, segundo Rockstrom, é que "a antiga festa" não pode continuar como antes. A Terra é muito boa em encontrar maneiras de se adaptar à tensão: os oceanos e as florestas absorvem o CO2 extra; ecossistemas como a Amazônia se adaptam ao desmatamento e ainda produzem chuva e água doce; o gelo no Ártico encolhe, mas não desaparece. Mas eventualmente podemos esgotar as capacidades de adaptação do planeta.
Estamos sentados sobre esses limites planetários neste momento, afirma Rockstrom, e se esses sistemas mudarem de um estado estável para outro - se a Amazônia virar uma savana; se o Ártico perder sua camada de gelo e, ao invés de refletir os raios do sol, começar a absorver luz na água; se as geleiras derreterem e não puderem alimentar os rios - a natureza ficará bem, mas nós não.
"O planeta demonstrou uma capacidade impressionante de manter seu equilíbrio, usando todos os truques que tem na mala para continuar no estado atual", explica Rockstrom. Mas há cada vez mais sinais de que talvez tenhamos atingido um ponto de saturação. As florestas mostram os primeiros sinais que estão absorvendo menos carbono. Os oceanos estão rapidamente se acidificando ao absorver mais CO2, prejudicando os peixes e os corais. As temperaturas médias globais continuam aumentando.
Isto é o que receberá o próximo presidente - um planeta resiliente que, antes podia absorver nossos excessos aparentemente sem custo para nós, e de repente muda para um planeta saturado, que nos envia "faturas diárias" que ficarão maiores a cada ano. Quando a natureza vai contra você, cuidado.
"Pela primeira vez precisamos ser inteligentes", diz Rockstrom, "e enfrentar a crise antes que ela aconteça", antes de cruzarmos os pontos de inflexão da natureza. Mais tarde será tarde demais. Elegemos um presidente que ignora esta ciência para nosso risco.
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