Topo

Mocidade vence disputa contra o tempo e promete disputar o título

O carnavalesco Alexandre Louzada - Gilvan de Souza/UOL
O carnavalesco Alexandre Louzada Imagem: Gilvan de Souza/UOL

25/02/2019 18h34

Última escola a desfilar na Sapucaí, no Carnaval 2019, a Mocidade Independente de Padre Miguel acabou vivendo um verdadeiro dilema com o próprio enredo.

Enfocando a relação da humanidade com o tempo ao longo de sua trajetória, a verde e branca sofreu severamente com as dificuldades financeiras para fazer seu desfile -o que atrasou o cronograma de execução de alegorias e fantasias. 

Para dar tempo de ficar tudo pronto, componentes da escola passaram a fazer um mutirão no barracão. Mais aliviado, o carnavalesco Alexandre Louzada afirma que as dificuldades não tirarão a Mocidade do páreo.

Os trabalhos agora estão dentro do prazo estipulado e, se não foi possível colocar em prática tudo o que foi planejado inicialmente, o artista põe muita fé no desfile que a escola de Padre Miguel fará. Confira nesta entrevista exclusiva. 

UOL - O Carnaval passa por um momento complicado financeiramente. Como foi trabalhar nesse quadro?

Alexandre Louzada - Vivemos uma crise sem precedentes. Não há dinheiro mesmo. A solidariedade aqui dentro no barracão está imensa. Estamos reaproveitando todos os materiais que você pode imaginar. Em 34 anos de Carnaval nunca vivi algo semelhante. Não estou aqui para julgar o prefeito, mas acho que todos, sambistas e governantes, têm que sentar para conversar e buscar um caminho. O samba precisa se unir. Senão, a festa vai acabar.

A Mocidade fez uma convocação à comunidade para vir ao barracão. Esse gás está fazendo a diferença?

Meu intuito era aproximar a comunidade do problema que estávamos passando para que todos entendessem a situação. A ajuda dos componentes tem sido fundamental na confecção de adereços. É um verdadeiro exército paralelo aos funcionários contratados e está fazendo a diferença. A cada dia vêm cerca de 30 voluntários. Há o comprometimento, até porque eles querem ver tudo pronto e bonito. Lembra os tempos em que eu era chefe de ala, quando os próprios desfilantes se mobilizavam para fazer as fantasias. No final do dia, eles vêm conversar comigo. Se emocionam e choram por conta do amor pela escola. Eu me comovo com essa turma.

Vai dar tempo de ficar tudo pronto?

Acabei sendo vítima do meu enredo [risos]. Temos que trabalhar baseados no tempo de Cronos, no tempo que inventamos. E sonhamos que Kairós, o tempo de Deus, esteja regendo esse Carnaval para que tudo fique pronto e bacana. De toda forma, independente do resultado, já estou satisfeito de terminar esse desfile pelo respaldo que estamos tendo. Esse é o Carnaval da solidariedade e do milagre. Por isso acredito nos deuses do Carnaval. Quando a gente acha que não tem jeito, as coisas acontecem. 

Qual é a proporção do projeto planejado que vai para a avenida?

O que eu pude fazer foi minimizar custo de acabamento, ser mais clean. Uns 80% do que foi planejado vai para a avenida. Os 100% só eu sei como seria, mas o público verá um desfile bem limpo e agradável visualmente.

É um Carnaval feito para desfilar de dia?

O desfile foi todo programado para acontecer de dia. O abre-alas ainda entra na avenida com o escuro e tem uma iluminação feérica. Mas usarei bastantes cores cítricas, para que a luz natural reflita. Não podemos nos dar ao luxo de usar efeitos e muita tecnologia. Mas temos que usar os nossos macetes.

Em meio às dificuldades, a escola vem para disputar o campeonato?

A escola está com muita garra, tem um chão maravilhoso e um grande samba. Mas eu não sei das outras. Em um momento de crise, você não olha o vizinho. Mas tenho fé que continuamos na disputa. Estamos finalizando o Carnaval e confio no conjunto. Tenho talvez o abre-alas mais poderoso do ano. Aposto muito nele. 

Anderson Baltar