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Reeleito, presidente da Portela busca enredo patrocinado para 2020

Magalhães com o presidente de honra Monarco e o vice Fábio Pavão - Leo Cordeiro/Divulgação
Magalhães com o presidente de honra Monarco e o vice Fábio Pavão Imagem: Leo Cordeiro/Divulgação

22/05/2019 17h25

Poucos personagens no mundo do Carnaval têm uma trajetória tão inusitada quanto a de Luis Carlos Magalhães. Até 2013, era um apaixonado pesquisador e comentarista de desfiles quando aceitou o convite de ser diretor cultural na gestão da chapa Portela Verdade, que assumiu a direção da agremiação de Oswaldo Cruz e Madureira. Três anos depois, virou vice-presidente e, poucos meses depois, assumiu a presidência com a morte do então mandatário, Marcos Falcon.

Com poucos meses de gestão, Magalhães conduziu a Portela a um título que não vinha há mais de duas décadas. Nos dois anos seguintes, desfiles bem classificados garantiram à escola a liderança do ranking da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), que mede os resultados dos últimos cinco anos. Reeleito presidente no último domingo, com votação expressiva (377 votos contra 73 da chapa concorrente), Luis Carlos Magalhães fala com exclusividade sobre os projetos para os próximos três anos à frente da Portela.

Como você avalia a aprovação maciça do portelense ao seu grupo político?

Primeiro, tenho a certeza de que fizemos um show de democracia e disso não abrimos mão. Foi um dia de paz, sem nenhum incidente e um resultado muito significativo. A eleição teve o sentido de julgamento de nossa administração e nos orgulhamos do que estamos fazendo - e não é pouco. Estamos de alma lavada. A vitória expressiva é muito importante, mas tem outro aspecto: nós buscamos a unidade da escola. Conversamos com o grupo do ex-presidente Serginho Procópio, com o Júnior Escafura, que é outra grande liderança, assim como o Marquinhos de Oswaldo Cruz. Chamamos todos para conversar, ouvimos e fortalecemos ainda mais a Portela. Temos um grande legado, que é a liderança no ranking da Liesa, a conquista do título, mas além disso, temos toda uma vida no bairro, com um pré-vestibular comunitário, tratamento dentário, eventos culturais como a FliPortela (feira literária). Mas com união, podemos muito mais. E temos muitos desafios.

Qual o principal?

O que será o Carnaval? Nós hoje fazemos o desfile sem saber quanto haverá e quando haverá o dinheiro. Hoje não temos a menor condição de planejar. Não podemos errar no planejamento e cometer uma gestão temerária, sem condições de fazer um bom trabalho. Estamos abertos a enredos patrocinados, mas com todo o cuidado, porque a Portela tem uma história a zelar. Mas não sabemos o que virá. Se a prefeitura irá apoiar, quanto entrará de verba. Só que as contas chegam o ano todo, temos funcionários a pagar.

Ainda é possível se conseguir um bom enredo patrocinado no Carnaval?

Com a verba garantida para as escolas, que é o da televisão e da venda de ingressos, e ainda vindo verba oficial, até dá para fazer um bom Carnaval. Mas para fazer um Carnaval campeão, é necessário mais e a Portela não pode nunca deixar de fazer um desfile para brigar por título. Nós pagamos muitas dívidas inaceitáveis e inacreditáveis e colocamos a casa em ordem. Por todas essas razões, um projeto patrocinado é muito bem visto. Já recebemos algumas propostas e estamos conversando. Um bom enredo depende do diálogo com o patrocinador. Não adianta pegar patrocínio de uma indústria do ramo automobilístico e fazer um enredo sobre a rebimboca da parafuseta. Queremos um enredo ligado à cultura brasileira e é perfeitamente viável conseguirmos um enredo patrocinado digno das nossas tradições.

O Carnaval das escolas de samba passa por uma crise financeira. Qual a solução viável?

Vivemos um momento em que a prefeitura não nos valoriza. Isso é fato. O Governo do Estado fez um meio de campo e nos ajudou com o patrocínio da Light, via lei do ICMS, que ajudou o Carnaval a sair. O problema é que temos que ter um cronograma fechado de entrada de verbas. O Carnaval é cada vez mais profissional, cada vez mais pessoas vivem dele e precisam colocar as suas contas em dia. As escolas precisam começar os seus trabalhos sabendo quanto terão e quando o dinheiro estará disponível. Se é para ser a maior festa do Brasil, ela tem que ser vista como tal. O poder público precisa dizer se é. E as escolas precisam encontrar outras formas de arrecadar. Um caso nosso de sucesso foi o camarote na Sapucaí, que lançamos no último Carnaval e já está confirmado para o próximo ano.

A Portela mantém-se aberta o ano inteiro com vários projetos. A intenção é fortalecer os já existentes ou novas iniciativas estão no radar?

Nossa intenção é fortalecer o que já existe, mas as coisas são dinâmicas. Quem imaginava que o nosso Departamento Cultural, que realiza tantos eventos na quadra, iria criar a FliPortela, que foi um grande sucesso? Assim é o nosso Departamento Comunitário, que criou um pré-vestibular que formou uma menina que ficou em terceiro lugar no Enem. Hoje temos um consultório dentário que tem custo zero para a escola e a cada dia aparecem mais iniciativas, como cursos gratuitos de dança e artes. Todos estão chegando e contribuindo. Isso é o nosso orgulho. Para conseguir essas iniciativas, tem que ter credibilidade e bons parceiros. A feijoada sai a um custo muito baixo graças aos patrocinadores. Esse trabalho é o ano todo e não depende do Carnaval. Temos que ser competitivos, sempre tirando boas colocações, com carnavalescos de ponta. Mas não abrimos mão de nossa vida comunitária. E com isso, 25% de nosso orçamento vem da quadra.

Falando do Carnaval 2020: quando teremos o enredo da Portela?

Ainda não temos data definida. O Renato Lage e a Márcia Lage estão trabalhando com várias ideias. Temos algumas opções não patrocinadas e duas ou três propostas de patrocínio. Estamos dando um tempo de maturação para poder escolher bem. Os carnavalescos estão empolgadíssimos.

Alguma novidade para a disputa de sambas?

Não abrimos mão da disputa. Temos uma ala de compositores brilhante, com gente suficiente para termos um ótimo samba para o desfile. As boas notas têm comprovado isso. O formato é complicado. A meta é fazer uma disputa em que qualquer compositor possa vencer. Sabemos que o poder financeiro tem seu peso. Procuramos contrabalançar, tentando baratear e fazendo com que não se tenha gastos com adereços. A tendência é continuarmos o que fizemos no último ano, com a redução do número de rodadas da disputa.

Anderson Baltar