Topo

Minc: Com Lula, Brasil vai 'jogar pesado' em Copenhague

Enviado especial da BBC Brasil <br>Em Copenhague, Dinamarca

17/12/2009 06h50

Com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Copenhague, onde ocorre a reunião da ONU sobre o clima e onde as negociações seguem praticamente emperradas, o Brasil vai “jogar pesado”, segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

“O Brasil vai jogar o seu prestígio no sentido de impedir uma coisa vazia, sem substância. Vamos jogar pesado”, afirmou Minc à BBC Brasil, acrescentando que iria virar a noite da quarta-feira no Bella Center, onde acontece a conferência climática.

O ministro do Meio Ambiente afirmou que Lula já está preparando o terreno com uma série de encontros. Logo que desembarcou na capital dinamarquesa na quarta-feira, o presidente se reuniu com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e com o presidente da conferência do clima, Lars Loekke Rasmussen.

De acordo com Minc, Lula deve conversar ainda com países da América Latina, além do grupo dos países africanos, um dos mais insatisfeitos com as negociações da última semana. A agenda oficial do presidente prevê ainda um encontro com o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao.

“A gente vai jogar tudo num esforço redobrado para que se encontre uma solução para essa negociação, que está muito travada”, disse o ministro do Meio Ambiente.

Longa suspensão
Na quarta-feira, as negociações passaram praticamente todo o dia suspensas, depois que a presidência da conferência anunciou que apresentaria um novo texto-base.

A iniciativa provocou confusão e irritação entre os negociadores. Nas palavras de um integrante da equipe brasileira, “as pessoas sentiram como se tivessem jogado dois anos de negociação fora”.

O motivo para a revolta é que as delegações já vinham trabalhando em uma versão de acordo. De acordo com Minc, a forma do texto apresentado “é muito boa, mas falta o recheio, falta sustança”.

Ao ser indagado sobre as possibilidades de se fechar um acordo com metas ambiciosas em Copenhague, Minc foi menos otimista.

“Muito ambicioso já acho que é para mais tarde, mas um acordo razoável, honrado, honesto, possível, ainda assim a gente vai ter que ralar muito a camisa para conseguir.”

No início da noite, após uma suspensão de quase nove horas, os trabalhos foram retomados no Bella Center e durante a madrugada, grupos de trabalho tentaram avançar na produção de um esboço de acordo que possa ser assinado pelos chefes de Estado que se reúnem em Copenhague até sexta-feira.

Desagrado
Minc admitiu que o rascunho de acordo apresentado pelo primeiro-ministro da Dinamarca, que preside a conferência da ONU desde a manhã de quarta-feira, após a renúncia da ministra dinamarquesa da Energia e do Meio Ambiente, Connie Hedegaard, não agradou à delegação brasileira.

O negociador-chefe brasileiro, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, também manifestou desagrado.
Diante do impasse, a equipe brasileira espera que a atuação do presidente Lula faça a diferença.
“O presidente é uma pessoa super-respeitada, o Brasil está com uma posição forte, nos temos diálogo tanto com países em desenvolvimento quanto com alguns desenvolvidos, com quem temos uma relação muito boa”, afirmou o ministro Carlos Minc.

Na segunda-feira, as negociações já tinham sido temporariamente suspensas depois que representantes de países africanos se retiraram em protesto contra o que chamaram de "abandono das metas firmadas no acordo de Kyoto".

Esses países criticaram a organização da conferência por, supostamente, se concentrar apenas nas negociações para um novo acordo climático, em vez de trabalhar paralelamente em uma extensão do Protocolo de Kyoto.

Países emergentes insistem que países desenvolvidos que ratificaram o protocolo devem se comprometer com maiores cortes de emissões dos gases que causam o efeito estufa.

A conferência da ONU sobre o clima vai até sexta-feira na capital da Dinamarca.