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O peixinho que droga predadores com 'mordida de heroína'

Conservation International Indonesia/AFP Photo
Imagem: Conservation International Indonesia/AFP Photo

Victoria Gill

03/04/2017 17h57

Cientistas britânicos e australianos resolveram um mistério do mundo marinho: os efeitos da mordida indolor de um peixinho venenoso ornamental.

Eles constataram que o fang blenny, natural de corais do Oceano Índico, se defende de predadores ministrando opioides - um composto similar à morfina e à heroína, que causa uma queda súbita na pressão sanguínea e, aparentemente, distrai o predador por tempo suficiente para que a presa escape.

A pesquisa, que reuniu especialistas da Liverpool School of Tropical Medicine, no Reino Unido, e da Universidade de Queensland, na Austrália, foi publicada na revista especializada Cuttent Biology e é um exemplo dos segredos escondidos em nossos oceanos.

Bryan Fry da Universidade de Queensland, explica que peixes com algum tipo de mordida venenosa normalmente produzem dores imediatas.

"Uma das maiores dores que sofri na minha vida foi quando fui picado por uma arraia. Foi algo infernal", contou ele.

Por isso, o fang benny aguçou a curiosidade dos cientistas: eles queriam entender por que sua mordida era indolor.

"Mordidas ou picadas dolorosas são um mecanismo de defesa útil - os predadores aprendem a evitá-las", explica Nicholas Casewell, cientista da Liverpool School of Tropical Medicine.

Presas anestésicas

Casewell conta que os estudos sobre o fang blenny feitos nos anos 70 observaram o comportamento de peixes maiores.

"Eles colocavam os blennies na boca, mas rapidamente começavam a tremer e a abriam novamente. O fang blenny simplesmente nadava para fora."

Ao analisar a composição do veneno dos peixinhos, os cientistas descobriram o opiáceo, composto conhecido como potente analgésico e usado tanto como remédio quanto droga recreativa, como no caso da heroína.

Mas esse tipo de composto causa também queda na pressão sanguínea, levando a tonturas e estado de fraqueza.

"Isso parece causar nos predadores uma perda de coordenação, permitindo que o blenny fuja", completa Casewell.

Tesouros

A nova descoberta, diz Casewell, é uma amostra da importância de preservação dos recifes de coral, ameaçados pelo aumento na temperatura dos oceanos.

"Corremos o risco de extinguir uma espécie que pode conter algo útil para os humanos. Podemos estar destruindo um recurso antes mesmo de encontrá-lo."
 

Bryan Fry faz coro com o colega, apontando para as aplicações práticas que o fang blenny pode ter para a ciência.

"Seu veneno pode ser a fonte da mais nova droga analgésica do mercado, mas podemos perder a chance de desenvolvê-la se extinguirmos o habitat desta e de outras criaturas vivendo em corais."