O desconhecido 'Da Vinci inglês' que era detestado por Isaac Newton
Os escritores da sua época o chamavam de "desprezível", "desconfiado" e "ciumento". E Isaac Newton, o grande matemático, astrônomo e físico, o detestava tanto que após sua morte mandou queimar o único retrato que existia dele.
Apesar disso, vários historiadores do século XXI o chamam de "Leonardo (da Vinci) inglês".
Sem dúvida, Robert Hooke (1635-1703) é um homem difícil de definir.
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É possível ter uma ideia de como era sua fisionomia pelo retrato feito pela pintora de história Rita Greer, em 2012, a partir de descrições escritas de Hooke.
Margeando o quadro, há nada menos que 13 especialidades, de astrônomo a arquiteto, de físico a fisiologista.
Mas talvez seja preciso destacar algumas de suas conquistas e frustrações para tentar entender a razão pela qual Hooke foi qualificado de maneiras tão discordantes.
Ficou famoso por...
Ainda que você nunca tenha ouvido falar dele, pode conhecer ao menos uma parte de seu trabalho, porque foi Hooke quem deu o nome da unidade básica da vida: a célula.
Deu esse nome porque porque sua forma o fez recordar das celas onde viviam monges, conhecidas como cellulas.
A palavra apareceu em Micrographia, um livro que teve um enorme êxito - que, acredita-se, tenha sido o primeiro best-seller científico da história - devido a sua linguagem simples e, em algumas partes, até engraçadas.
Além disso, as ilustrações eram gravuras espetaculares do mundo em miniatura, mostrando detalhes nunca antes vistos, maravilhas como a estrutura do gelo e da neve.
Isso foi possível graças a uma ferramenta que naquele momento era uma novidade: o microscópio.
Hooke aprimorou a precisão do microscópio adicionando um mecanismo de enfoque de parafuso e uma fonte de luz. Antes disto, para focar algo com um microscópio era preciso mover o objeto que se estava observando.
Além disso, há uma lei que leva seu nome: a lei de Hooke, sobre o comportamento das molas, que permitiu o desenvolvimento dos primeiros relógios verdadeiramente precisos e se usa, entre outras coisas, na ciência de materiais e na engenharia de construção.
E fez muito mais
Hooke deixou um legado extraordinariamente amplo, que inclui o desenho de vários edifícios conhecidos de Londres.
Trabalhou com o reconhecido arquiteto Christopher Wren após o grande incêndio de Londres. Juntos, deram à cidade desde o Observatório Real de Greenwich e o Monumento ao Grande Incêndio até a Catedral de São Paulo, cuja cúpula usa um método de construção concebido por Hooke.
Além disso...
Hooke chegou à teoria de que a luz era feita de uma onda, uma ideia que séculos mais tarde formaria a base da física por partículas do século XX e a teoria quântica.
Descobriu que a matéria se expande quando é aquecida.
Compreendeu que o ar que respiramos é formado por pequenas partículas com grandes espaços entre elas.
Seus primeiros estudos sobre madeira petrificada e outros fósseis fizeram dele um dos primeiros a se dar conta de que eram restos de seres vivos. É uma ideia que parece óbvia agora, mas que naquele momento era revolucionária.
Choque de egos
Por que então um indivíduo tão significativo não é tão conhecido?
Não era porque Hooke não era apreciado em sua época. Não somente o seu livro foi muito bem recebido como também durante muito tempo ele foi presidente da prestigiosa Royal Society, uma prova do respeito que contava no mundo científico.
Mas Hooke tinha um poderoso rival: Sir Isaac Newton.
Os dois tiveram graves embates porque ambos queriam ser conhecidos como a mente científica mais brilhante da época.
Enquanto Hooke estava vivo, a concorrência entre ele e Newton era equilibrada. Mas, historicamente, Newton foi o vencedor, indiscutivelmente.
A tensão entre eles explodiu quando Newton publicou o seu livro "Philosophiæ Naturalis Principia", mais conhecido como Principia, em 1687, que continha sua lei da gravitação universal.
O problema era que Newton não foi o primeiro a postular sobre a força que mantinha os corpos celestiais em seu lugar.
Tratava-se de uma ideia que a comunidade científica vinha desenvolvendo ao longo de anos. E Hooke tinha sido peça chave nesse desenvolvimento, durante a década de 1670, quando observou que os planetas eram atraídos pelo Sol e que essa força era mais forte quanto mais próximos estivessem os objetos.
No entanto, foi Newton que criou a rigorosa prova matemática necessária.
Mas Hooke estava convencido de que Principia não existiria sem a sua contribuição pessoal e começou a mais amarga de suas disputa, exigindo o crédito e Newton negando-se a dá-lo.
Hooke morreu em 1703 e Newton ocupou seu cargo de presidente da Royal Society.
Dizem que Newton se esforçou para manchar a reputação de Hooke. Teria mandado retirar o único retrato que havia de Hooke, que teria sido destruído ou abandonado intencionalmente quando a Royal Society se mudou para outro prédio.
O certo é que, à medida que a boa reputação de Newton crescia, a de Hooke se deteriorava, sendo visto como um cientista amargurado que tentava ganhar crédito pelo trabalho dos outros.
A disputa contaminou mais de 200 anos de literatura histórica sobre aquele que hoje é chamado por alguns de "Leonardo da Vinci inglês".
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