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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Abstenção por medo de violência política pode ajudar Bolsonaro na eleição

O guarda municipal Marcelo Arruda (esq) foi morto a tiros pelo policial penal Jorge Guaranho (dir), que invadiu a festa temática do PT onde a vítima fazia a festa de 50 anos em Foz do Iguaçu (PR) - Arte/UOL
O guarda municipal Marcelo Arruda (esq) foi morto a tiros pelo policial penal Jorge Guaranho (dir), que invadiu a festa temática do PT onde a vítima fazia a festa de 50 anos em Foz do Iguaçu (PR) Imagem: Arte/UOL

Colunista do UOL

17/09/2022 08h14

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Entre os eleitores de Lula, 10% afirmam que podem deixar de votar com medo da violência política no dia das eleições, segundo o Datafolha. Coincidentemente, essa é, em média, a vantagem do petista para Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. Sim, o medo como estratégia pode entregar urnas que não traduzam fielmente a vontade da população.

A campanha de Lula, que já se preocupava com o impacto da abstenção tradicional em sua tentativa de liquidar a fatura no primeiro turno, também acendeu o alerta para a abstenção provocada pelo medo. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos.

Por mais que agressões não sejam monopólio de um determinado grupo político, os assassinatos por motivos eleitorais têm sido. Os petistas Marcelo Arruda, morto a tiros em Foz do Iguaçu (PR), e Beneditos dos Santos, executado com 15 facadas e uma machadada, em Confresa (MT), por bolsonaristas são provas disso.

Tanto que, considerando apenas os eleitores de Bolsonaro, são 5% os que podem deixar de votar por temer violência. Neste momento, os seguidores do atual presidente desfrutam de uma sensação de segurança no país que não é compartilhada pelos apoiadores do petista.

O que, claro, impacta na estética da campanha.

Com apoiadores de Lula sendo mortos, petistas evitam colocar adesivos em carros e bandeiras em suas casas, como em outras eleições, com receio do que possa vir a acontecer. Ainda mais após o presidente ter facilitado a aquisição de armas de munição a seus seguidores, que montaram arsenais domésticos.

O Datafolha apontou também que 67,5% afirmam temer serem agredidos fisicamente pela sua escolha política ou partidária, questão encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade). E 3,2% dizem ter sofrido ameaças por motivos políticos no mês anterior.

Isso não é aleatório, mas vem sendo fomentado. Um dos efeitos colaterais do presidente afirmar que é necessário "fuzilar a petralhada" (01/09/2018), realizar "uma limpeza" para "varrer do mapa esses bandidos vermelhos" (21/10/2018) ou "extirpar da vida pública" (07/09/2022) os adversários, é que muitos de seus seguidores tornam essas declarações realidade.

Na média da sociedade, 9% dizem que podem deixar de votar com medo de sofrer violência de origem política. Se as pessoas são impedidas de fazer campanha e de votar por medo do que pode acontecer com sua vida, uma eleição não está transcorrendo como deveria.

Isso sim, e não as mentiras contadas sobre as urnas eletrônicas, é um indicador de que as eleições podem não ser livres.