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Marcos Silveira

Confinamento vertical sugerido por Bolsonaro demandaria 2,3 mi de moradias

Bolsonaro com a mãe, Olinda, na Páscoa de 2019 - Reprodução/Instagram
Bolsonaro com a mãe, Olinda, na Páscoa de 2019 Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

26/03/2020 04h00

O "isolamento vertical" sugerido pelo presidente Jair Bolsonaro no pronunciamento de terça-feira exigiria o remanejamento de 9,2 milhões de brasileiros, que precisariam ser abrigados em novas moradias.

Esse método deixaria apenas idosos, pessoas com comorbidades preexistentes e indivíduos infectados ou com sintomas causados pelo novo coronavírus fora das atividades de suas comunidades. O presidente também pediu que escolas fossem reabertas e jovens voltassem a trabalhar, contrariando orientações da OMS.

A partir da aposta de "isolamento vertical" fizemos uma estimativa simples com a equipe da Datapedia.

A coluna, com a equipe da Datapedia, fez uma estimativa do que seria necessário para esse "isolamento vertical".

Qual seria o total da população afetada por essa medida?

Segundo o Censo 2010, 9.238.619 pessoas viviam em casas coabitadas por netos, bisnetos e avôs.

Para 2020, a estimativa pode ser bem maior, pois temos 210 milhões de habitantes enquanto tínhamos 190 milhões em 2010.

Esse remanejamento de brasileiros que precisam ser isolados e abrigados em novas moradias afetaria 7,8 milhões em áreas urbanas e 1,4 milhões em zonas rurais.

Quantas novas moradias seriam necessárias para o isolamento vertical?

Essa medida exigiria a construção de aproximadamente 2,8 milhões de domicílios. Caso haja prioridade para população urbana, estamos projetando 2,3 milhões de moradias imediatas nas zonas de alta densidade —e onde está o foco atual de covid-19, casos de São Paulo e Rio de Janeiro.

A projeção é feita com base na taxa de habitantes por domicílios em 2010 de 3,3 pessoas por domicílios.

Faltou a lição de casa

Além de ir contra todas as evidências científicas, Bolsonaro não fez a lição de casa para estimar o custo e execução prática da aposta. E muitos políticos estão entrando nesse barco.

Mas o pior de tudo: ter um presidente que não pensou que há pessoas por trás desses dados, mostrando total falta de empatia.

Será que lembrou:

  • Que tem 65 anos?
  • Que está no grupo de risco?
  • Que possui uma filha de 9 anos em sua casa?
  • Que é tão privilegiado para não ficar separado de sua filha?
  • Que sua mãe tem 93 anos?

    Nota técnica: Utilizamos as planilhas de Setores Censitários do Censo 2010, título Pessoa_13, variáveis V011 para netos, V012 para bisnetos, V014 para avôs.