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Paulo Sampaio

"Todo mundo se prostitui", diz 'musa do impeachment', sobre atual governo

"Ele fala as coisas na lata, eu gosto de pessoas sinceras", diz Ju Isen sobre Bolsonaro - Studio Woody
"Ele fala as coisas na lata, eu gosto de pessoas sinceras", diz Ju Isen sobre Bolsonaro Imagem: Studio Woody

Colunista do UOL

18/01/2020 17h57

Quatro anos se passaram desde que a modelo Ju Isen, 36, resolveu tirar a camiseta e mostrar os seios em uma manifestação contra o Partido dos Trabalhadores (PT) na avenida Paulista, centro de SP. Inconformada com a "situação do país", Ju repetiu o desnudo protesto em várias outras ocasiões, até que conquistou o título de "musa do impeachment". Eleitora de Jair Bolsonaro, ela hoje afirma que "o governo dele não é o ideal", mas ainda assim o apoia: "No fim, todo mundo se prostitui um pouco", acha.

Ela se refere às suspeitas de corrupção envolvendo o chefe da secretaria de Comunicação Social do governo, Fabio Wajngarten, e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

De acordo com reportagem publicada pela Folha, o primeiro recebe, através de uma empresa da qual é sócio, dinheiro de emissoras de TV e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro. Wajngarten negou conflito de interesses, e Bolsonaro o manteve no cargo: "Se for ilegal, a gente vê lá na frente", disse o presidente.

Já o ministro do Turismo apareceu em um esquema de candidaturas de laranjas, pelo qual foi indiciado sob suspeita de praticar crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa —com pena de cinco, seis e três anos de cadeia, respectivamente. Também continua no cargo.

Ju Isen - J.Domingos/Arquivo Pessoal - J.Domingos/Arquivo Pessoal
Ju Isen resolveu tirar a camiseta em uma manifestação contra o PT
Imagem: J.Domingos/Arquivo Pessoal

Plástica antirressaca

Ju, que já se submeteu a 40 cirurgias plásticas, afirma que o presidente Jair Bolsonaro "de vez em quando extrapola". Ela comenta o episódio de quinta-feira passada, quando Bolsonaro reagiu à pergunta de uma repórter da Folha sobre o caso Wajngarten com a indagação: "Você tá falando da sua mãe?"

A "musa do impeachment" se identifica com Bolsonaro pela "autenticidade". "Ele fala as coisas na lata, eu gosto de pessoas sinceras."

Muito autêntica, ela conta que na véspera da entrevista tomou uma garrafa inteira de gim, enquanto assistia a sua série preferida, "Você", sobre um psicopata disposto a controlar a mulher por quem supostamente está apaixonado. Apesar da considerável quantidade de álcool ingerida, Ju não apresentava sinais de desidratação ou ressaca: "É por isso que eu faço plástica", justifica.

Aplicação de nádegas

Da última vez em que ela se deitou na mesa de operação, em agosto do ano passado, foram nove horas de recauchutagem. O médico ("de inteira confiança") realizou uma lipoescultura em todo seu corpo e aplicou nas nádegas a gordura retirada das pernas.

"Aqui entre nós, eu gosto muito de comer e não tenho o hábito de frequentar academia."

Mas então, se gosta de comer, por que aumentar as nádegas..? "Acontece que eu 'lipei' tudo, então ia ficar desproporcional. A gordura serve também para modelar."

No mesmo procedimento, aproveitou para "fazer" boca, queixo e harmonização facial. Ela pede que eu aperte seu queixo, para checar a consistência. "Tem um produto aqui, ó", mostra. Eu aperto. Nada. Ela me orienta a apertar em outra direção, e então eu digo, sem muita segurança, que há algo se mexendo lá dentro. "Viu?", reage ela, com expressão de triunfo.

Bananinha da bunda

O médico mexeu também na mandíbula, para deixar o contorno do rosto mais anguloso. Com a face esquerda apoiada na palma da mão, ela aponta para a direita e diz: "Falta esse lado. Ficou desequilibrado, preciso acertar." O desequilíbrio a que ela se refere é físico. Parece descabido, mas Ju quer "consertar" a assimetria natural que o rosto dela (e o de todo mundo) apresenta.

Na próxima sexta-feira, ela se interna para fazer a "bananinha da bunda".

Bananinha?

"Sim, aquela curvinha abaixo das nádegas."

Ex-destaque de escola de samba, a modelo afirma que as cirurgias, desta vez, não têm nada a ver com a folia na avenida. Segundo diz, ela passou a ter um "profundo desapreço pelo Carnaval".

Expulsa da escola

Primeiro, em 2016, Ju foi expulsa da escola Unidos do Peruche porque não a deixaram desfilar com um tapa sexo adornado com o rosto de Dilma Rousseff e um "x" por cima; inconformada, ela se desfez do traje que providenciaram "de última hora", "um macacão horroroso, que me cobria até aqui ó (pescoço)" e atravessou o Sambódromo pelada.

Mas o grande "trauma", como ela diz, que a afastou da avenida por tempo indeterminado, foi causado por uma entrevista de TV que expôs cirurgicamente sua retaguarda (ou "fiofó", como ela diz). O objetivo era mostrar detalhes de sua fantasia, que consistia na pintura da bandeira do Brasil feita diretamente em seu corpo. "Eu era muito despreparada. Na entrevista com a [apresentadora] Leo Áquila , ela pediu que eu me abaixasse para mostrar a pintura, eu me abaixei; depois, pediu para eu repetir, só que virada de costas para a câmera. Eu me abaixei, na maior inocência."

Segundo Ju, a exposição não teria sido tão negativa se não fosse o "péssimo acabamento da pintura", especialmente "lá": "Ele simplesmente não pintou o orifício, e o cinegrafista foi direto ali. Como eu ia saber, se não tenho olho atrás? Depois me disseram que o cara não era pintor nem artista plástico, era baterista. Nem escreveu o 'Ordem e Progresso' no meu peito!"

Na mesma noite, a imagem viralizou e Ju Isen temeu ser expulsa também da escola Nenê de Vila Matilde, em que seria musa no dia seguinte. Mas "todos foram muito compreensivos" e a confortaram para que não caísse em depressão.

Primeiro nu da avenida

Pensar que, historicamente, várias musas disputam a honra de ter protagonizado o "primeiro nu da avenida". Monique Evans costuma lembrar que em 1984 fez um "topless involuntário", e afirma que foi a primeira "rainha da bateria". Adele Fátima reivindica o début para si. Diz que, até 1981, não havia "rainha da bateria" e sim "madrinha", posto ocupado por senhoras recatadas da própria comunidade da escola. "Elas não mostravam nada. Eu fui a primeira a aparecer só de calcinha e strass nos mamilos."

Mas a precursora da nudez completa na Sapucaí, frente e verso, e isso ninguém discute, foi a modelo, atriz, cantora, escultora, escritora e símbolo sexual Enoli Lara, 70 anos. Naquele ano, 1989, o enredo da escola carioca União da Ilha foi "Festa Profana". Enoli saiu de "deusa Afrodite", em cima de um carro alegórico, só de calcinha. No meio do desfile, resolveu se desfazer da peça, alegando que "deusa não usa calcinha". Por causa da transgressão, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) proibiu nu total na avenida.

Isso só fez reforçar em Enoli o orgulho pelo vanguardismo. "Depois de mim, elas deixavam cair o tapa sexo, mas não era a mesma coisa."... Digamos que Ju Isen inaugurou uma nova fase, para além da comissão de frente. Ela mesma se assustou com a repercussão do gesto político-patriótico: "Se você colocar no Google a expressão 'cu verde', ou 'cu do Hulck' vai aparecer meu nome."

Outros olhos

Por causa de "tudo o que aconteceu", Ju conta que o comportamento dos homens mudou muito com ela. Sem namorado no momento ("eu sou feliz"), ela diz que os eventuais pretendentes "acabam se afastando, por medo". "Eles olham meu Instagram, ficam receosos de me chamar para jantar, acham que não podem me levar a qualquer lugar. Pensam logo que eu sou uma mulher cara. Bobagem."

Em relação aos nudes nas manifestações da avenida Paulista e alhures, a modelo diz que lhe renderam um "bom retorno profissional". Ju participou de um reality show em Portugal, posou para a revista "Playboy" de lá e para a da Espanha. Seu sustento vem, segundo conta, de "presenças VIP em festas". "Eu sou o alicerce de minha avó, de 90 anos, e de Francisco, meu shih-tzu, de 10 anos, que eu amo de paixão", diz ela, que vive em um flat em Moema. E haja presença VIP.