Passagem de Moro pelo Ceará só contribuiu para fortalecer a greve criminosa
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Viram o ministro da Justiça, Sergio Moro, a desfilar sobre um tanque de guerra em Brasília, como um Mussolini de Maringá? Pois é... Ele passou pelo Ceará. Quando deixou o Estado, os delinquentes que comandam a greve da PM no Estado estavam mais radicais do que antes porque se sentiram empoderados pelo governo federal na pessoa de Moro, que, claro!, representava o presidente da República.
O governador Camilo Santana, do PT, faz um bom trabalho, e a Polícia Militar do Estado está longe de ser a mais mal paga do país. Ocorre que o Estado está sendo vítima da "milicianização" das PMs, fenômeno que se espalha Brasil afora. E, como se nota, com o nada discreto apoio moral do próprio presidente da República.
Afinal, se ele não critica uma greve que fere a Constituição e se ameaça deixar o Estado entregue à própria sorte, com grevistas armados e amotinados, está escolhendo um lado: o dos bandidos de farda — e, por consequência, em aliança com os bandidos sem farda.
É claro que o fato de Camilo ser do PT e aliado local de Ciro Gomes pesa nos juízos de Bolsonaro nestes tempos delinquentes de políticos moralmente delinquentes. Mas que os outros 25 gestores estaduais — a PM do DF é paga pela União e opera em estreita ligação com forças federais — não se enganem: a ameaça do presidente da República e a desídia de Moro afetam a todos.
Sim, senhores! Moro passou pelo Ceará e não deu um miserável pio contra os grevistas, embora todos ali estivessem fraudando a Constituição. Em vez disso, pregou a necessidade de se chegar a um entendimento. É mesmo? Entre quem e quem? Entre as forças da lei e homens armados, que são pagos para proteger a população? Quando as lideranças criminosas perceberam que chegavam de Brasília sinais de assentimento com o movimento, a disposição grevista, que estava em declínio depois dos tiros que colheram Cid Gomes, recrudesceu.
Ora, só uma ordem do governo federal era aceitável: "Ou vocês põem fim imediatamente à greve e desocupam os quarteis, ou serão postos para fora pelas Forças Armadas". Não pode existir negociação com esse tipo de bandidagem. Mas o que se ouviu foi algo bem distinto.
O Mussolini de Maringá, o incorruptível Moro, foi lá passar a mão na cabeça de chantagistas armados. Na "live" da semana passada, Bolsonaro preferiu atacar Cid Gomes, e Onyx Lorenzoni, seu ministro da Cidadania, chamou os tiros de atos de "legítima defesa". No patetada de ontem, o presidente exortou o governador a resolver o problema "de modo que os policiais possam voltar a cumprir o seu trabalho normalmente aí no Estado". É um despropósito.
O governo estadual lidera reuniões, a que comparecem representantes do Exército e dos grevistas, para tentar sair do impasse. Em si, já é um descalabro. Mas que alternativa tem Santana quando o presidente da República e o ministro da Justiça flertam com os que tratam a Constituição a tiros, chantageando o governador e a população?
Fiquem atentos: o governo Bolsonaro está forçando a mão em favor da anistia às lideranças grevistas. Quer pôr Camilo Santana contra a parede, obrigando-o a ceder a essa reivindicação, o que corresponderia a entregar a Polícia Militar do Estado à bandidagem chantagista. Afinal, o presidente da República não está de olho apenas no que acontece naquele Estado: seu público-alvo são 500 mil policiais Brasil afora, que toma como parte de sua base de apoio. Se e quando isso acontecer, a bagunça, potencialmente ao menos, toma conta dos demais Estados.