Congresso deu tudo o que o presidente pediu. Como paga, tem a hostilidade
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Diante da nova investida do presidente Jair Bolsonaro, lideranças do Congresso e membros do Supremo entendem que não convém causar mais crispação. Não, ao menos, até que se saiba o que vai acontecer no domingo. Bem, tenho aqui uma consideração a fazer: se a mobilização for modesta, os dois outros Poderes até podem manter a discrição. Se, no entanto, os golpistas realmente lotarem as ruas, aí será o caso de responder com muita dureza.
E por que tem de ser assim? Ora, porque é evidente que Bolsonaro se tornará ainda mais ousado. Há parlamentares, inclusive da oposição, que ainda não perceberam a natureza do jogo e do próprio Bolsonaro. As derrotas, claro!, o deixam irritado, agressivo, malcriado. Mas isso não traz risco nenhum. Como fica claro mais uma vez, o que excita sua saliva golpista é a vitória. E ele tomou como triunfo pessoal a manutenção dos vetos, daí a preocupação em negar que tenha havido qualquer acordo.
Observem que o Congresso entregou a Bolsonaro — e, a rigor, já o vinha fazendo desde o governo Temer — os instrumentos ditos necessários para tirar o país do atoleiro. Aprovou — e manteve — o teto de gastos; fez a reforma trabalhista; aprovou a MP da Liberdade Econômica; aprovou a Reforma da Previdência; preparou-se para receber as reformas administrativa e tributária — o governo é que, até agora, não cumpriu a sua parte... A oposição, observe-se, não foi obstáculo a coisa nenhuma, até porque ainda está na fase de encolha.
E o que o chefe do Executivo oferece em troca? Ofensas permanentes ao Parlamento e o apoio, antes meio oblíquo e agora escancarado, a uma manifestação que vai, mais uma vez, demonizar os outros dois Poderes da República.
Lembram-se do escorpião que pega carona nas costas do sapo para não morrer afogado ao tentar atravessar o rio? No meio do caminho, mete o ferrão em quem o ajuda, mesmo sabendo que ambos morrerão. Indagado pela vítima sobre a estupidez, responde ser aquela a sua natureza.