Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Bolsonaro reúne 45 mil na Paulista, um quarto do que juntou em fevereiro

O ato bolsonarista na avenida Paulista, neste 7 de setembro, reuniu 45,4 mil pessoas às 16h05 horas, seu horário de pico, de acordo com contagem do Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo. Para efeito de comparação, ato semelhante, de 25 de fevereiro, também organizado pelo pastor Silas Malafaia, juntou 185 mil pessoas, segundo levantamento do mesmo grupo.

A contagem de cabeças foi baseada em fotos aéreas de alta resolução que cobriram a extensão da avenida, tiradas às 14h25, 15h25 e 16h05, e processadas com a ajuda de um software especial para esse fim. Na contagem de público, a margem de erro é de cerca de 12% para mais ou para menos.

Dessa forma, a manifestação deste sábado, cujas pautas foram a defesa do impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, responsável pelos inquéritos sobre a tentativa de golpe de Estado, e a anistia aos presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, foi mais de quatro vezes menor que a anterior, que dava apoio a Bolsonaro e criticava Moraes.

Isso mesmo tendo sido organizada após o ministro ter suspendido o X/Twitter no Brasil e da série de reportagens da Folha de S.Paulo que mostrou como ele produziu provas no Tribunal Superior Eleitoral e as enviou para si mesmo no STF.

"Foi uma manifestação grande para os padrões brasileiros. Mobilização de rua é um fenômeno difícil de controlar, então a gente vê muita oscilação", afirmou à coluna Pablo Ortellado, um dos coordenadores do Monitor e professor do curso de Políticas Públicas da USP. "Por exemplo, as manifestações anti-Dilma foram declinando em número uma após a outra durante o ano de 2015 e depois explodiram de novo em 2016. Essa ainda teve a notícia de que Bolsonaro foi hospitalizado e talvez não viesse —pode ter atrapalhado também."

De qualquer forma, o ex-presidente e aliados contavam com um número recorde para pressionar o Senado a avançar com o impeachment e à Câmara, para aprovar a anistia.

Bolsonaro mandou Polícia Militar calar carro de som

Jair Bolsonaro foi o último a falar, um pouco antes das 16h. Ele interrompeu o seu discurso diversas vezes no início reclamando de outro carro de som que participava do protesto e estaria atrapalhando sua fala.

Ironicamente, em uma manifestação que pedia liberdade de expressão e contra o autoritarismo, ele pediu à Polícia Militar arrancar o cabo da bateria do veículo.

Continua após a publicidade

"Espero que o Senado Federal bote um freio em Alexandre de Moraes, esse ditador que faz mais mal ao Brasil que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva", afirmou.

Defendeu anistia aos participantes do atos golpistas de 8 de janeiro, que chamou de "armação". Afirmou que o projeto que tramita na Câmara dos Deputados que trata da anistia irá passar pela Comissão de Constituição e Justiça - o debate da matéria está na pauta da próxima reunião.

Apesar de focar naqueles que atacaram as sedes dos Três Poderes, Bolsonaro pode ser o principal beneficiado pelo projeto. O STF ainda deve julgar a sua participação como mentor de ataques ao Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

"Para que eu não tivesse chance de voltar, decretaram a minha inelegibilidade. Porque eu me reuniu com embaixadores. Eu não me reuni com traficantes do Morro do Alemão como Lula fez", disse. Foi uma referência à reunião com embaixadores estrangeiros que ele convocou no Palácio do Alvorada, usando recursos públicos, para atacar o sistema eleitoral. Por entender que ele usou o poder público em benefício de sua campanha à reeleição, o Tribunal Superior Eleitoral o condenou por 5 votos a 2.

O principal organizador do ato, pastor Silas Malafaia, defendeu que Alexandre de Moraes tem que sofrer impeachment e ir para a cadeia por rasgar a Constituição Federal. Também atacou o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD), por não levar adiante o processo de cassação do ministro.

Enquanto isso, os manifestantes cantavam "Supremo é o povo, cabeça de ovo", em referência a Moraes. "Quem prega o fechamento do STF é um idiota alienado", disse Malafaia. "Mas quero dizer aos ministros STF que os senhores estão jogando na lata do lixo a reputação da Suprema Corte."

Continua após a publicidade

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi o primeiro a se manifestar e puxou "Fora, Xandão". Pediu "anistia aos presos políticos".

E atacou a suspensão do X/Twitter no Brasil por decisão do ministro Alexandre de Moraes ratificada pela Primeira Turma do STF. E elogiou o seu proprietário, o bilionário Elon Musk. A rede se negou a cumprir decisões judiciais de retirada de contas e de conteúdo e descumpriu a obrigação legal de ter representação no país.

Tarcísio foi criticado por não exigir o impeachment de Moraes

O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi criticado nas redes bolsonaristas por não pedir o impeachment de Moraes. Mas também fez coro à anistia.

O ato bolsonarista acontece exatos três anos após o então presidente reunir seus seguidores na mesma na avenida Paulista. Naquele moment0o, ele afirmou que não respeitará "qualquer decisão" de Alexandre de Moraes, jogando seus apoiadores contra o STF. Pediu a saída do ministro e o xingou.

"Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair. Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha!", afirmou. Na época, o magistrado já era o responsável pelos inquéritos que apuram o financiamento e a organização de atos antidemocráticos que atingiam aliados de Jair.

Continua após a publicidade

Dias depois, o ex-presidente Michel Temer ajudou Bolsonaro a reduzir a fervura que se estabeleceu. Depois, em entrevistas, ele negou que tivesse xingado Moraes.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.