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Reinaldo Azevedo

Para Trump, 200 mil mortes nos EUA são vitória; perto do "Mito", vira Kant

Donald Trump na Casa Branca, pouco antes de anunciar que quarentena no país vai até o dia 30 de abril e que até 200 mil mortos por coronavírus já serão uma vitória - Pere Marovich/The New York Times
Donald Trump na Casa Branca, pouco antes de anunciar que quarentena no país vai até o dia 30 de abril e que até 200 mil mortos por coronavírus já serão uma vitória Imagem: Pere Marovich/The New York Times

Colunista do UOL

30/03/2020 08h01

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A exemplo de Jair Bolsonaro, Donald Trump não dava muita bola para esse tal coronavírus. Fazia piadinhas, ironias, sugeria que isso era uma perturbação a seu governo oriunda dos democratas, que estariam tentando politizar a questão. Até que recebeu o alerta. Milhões poderiam morrer nos EUA. E ele mudou de prosa. Hoje, em todo o universo, o único negacionista é mesmo Jair Bolsonaro. Neste domingo, Trump prorrogou a quarentena até 30 de abril. Mas essa não foi a notícia mais importante — ou horripilante — do dia por lá.

No cenário mais pessimista, previa-se que a Covid-19 poderia matar até 2,2 milhões de americanos. Agora, o presidente considera que, se a doença matar 100 mil ou mesmo 200 mil, isso já será uma vitória.

Não se trata de delírio. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, estima que haverá mais de 100 mil mortes nos EUA em razão da Covid-19. Informa a Folha: "Desde 2010, gripes matam entre 12 mil e 61 mil americanos por ano, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês)." Aqui no Brasil, alguns cafajestes leriam assim esses números: "Estão vendo, isso é normal..."

Ocorre que as, digamos, gripes tradicionais continuarão a fazer seus cadáveres. Mas notem que a Covid-19, na estimativa mais modesta, faria em 2020 quase o dobro de vítimas do que fizeram as outras em seu pior ano.

Como se vê, não é verdade que Bolsonaro não tenha ideias próprias e se limite a ser um capacho do presidente americano. Quando o assunto é morticínio em massa, ele tem a sua própria concepção de mundo. E faz Trump parecer um verdadeiro Kant.