Militares apoiam quarentena e não vão violar a lei para salvar Bolsonaro
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Muita gente fez ao presidente Jair Bolsonaro a leitura correta dos augúrios e das nuvens que se adensavam no céu. Mas falta ainda tratar do "fator militar", que contribuiu para o cavalo-de-pau no conteúdo do pronunciamento de Jair Bolsonaro. Nunca uma Ordem do Dia do ministro da Defesa, com o endosso dos três comandantes militares, que começava exaltando um golpe — o que é, por si, detestável — e evoluía para a defesa da Lei da Anistia foi tão eloquente. Hamilton Mourão, o vice-presidente, também tuitou a sua homenagenzinha a 1964 — tema ausente no pronunciamento de Bolsonaro, note-se.
Vamos lá. As Forças Armadas estão absolutamente fechadas com as medidas de isolamento social em curso no país e endossam a atuação do ministro da Saúde, Luiz Mandetta. Esse é também o consenso no Congresso, no Supremo e entre os governadores. Na tal da Ordem do Dia do dia 30, alusiva a 1964, pode-se ler:
"As instituições foram regeneradas e fortalecidas e assim estabeleceram limites apropriados à prática da democracia. A convergência foi adotada como método para construir a convivência coletiva civilizada."
Entenderam? Uma ordem do dia sobre um golpe expressava a unidade dos militares. E estes, por intermédio de várias vozes, disseram duas coisas a Bolsonaro:
1) é preciso pôr um fim ao confronto;
2) ele que não conte com os quarteis para evitar a sua deposição se esta se der de acordo com a lei.
Até porque, em caso de impeachment sem cassação da chapa, e não se cuida disso, assume o vice-presidente: o general Mourão, aquele mesmo que também tirou uma casquinha da Ordem do Dia, mas que já deixou claro a todos os interlocutores que apoia as medidas de isolamento social.
Bolsonaro vai continuar com as suas pantomimas? É sempre imprevisível. Mas sabe que não haverá autogolpe para salvá-lo.