Topo

Reinaldo Azevedo

Deputada ligada a protesto é afilhada de Moro, a quem se subordina a PF

Sergio Moro, padrinho de casamento de Carla Zambelli, discursa no casamento da deputada. Ela é uma das incentivadoras do evento que atenta contra a Lei de Segurança Nacional. E ele é chefe funcional da PF, que deve investigar a farra liberticida - Reprodução/Redes sociais
Sergio Moro, padrinho de casamento de Carla Zambelli, discursa no casamento da deputada. Ela é uma das incentivadoras do evento que atenta contra a Lei de Segurança Nacional. E ele é chefe funcional da PF, que deve investigar a farra liberticida Imagem: Reprodução/Redes sociais

Colunista do UOL

21/04/2020 07h56

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Por que Augusto Aras resolveu recorrer ao Supremo para pedir a abertura de investigação. Porque foi notória a participação e/ou apoio de deputados federais na promoção da patuscada golpista. Um dos destaques do, digamos, evento é a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), afilhada de casamento do ministro Sergio Moro, da Justiça, a quem está subordinada a Polícia Federal, que vai conduzir o inquérito.

"Mas a PF não é independente, Reinaldo?" Posso dizer, com certeza, que foi independente, por exemplo, nos governos Lula, Dilma e Temer, para ficar nos três últimos — basta ver os perrengues sofridos pelo trio. Em alguns casos, diga-se, houve excessos contra os respectivos presidentes. Como atuará a PF subordinada a Moro?

Vi a rapidez com que conseguiu chegar a hackers quando isso era do interesse do próprio Moro e da Lava Jato. Se exibir o mesmo padrão para identificar a bandidagem que financia a agressão sistemática ao Estado de Direito e à democracia, a coisa pode caminhar bem.

Ah, sim, daqui a pouco começa o berreiro: "Eu tenho o direito de dizer o que penso..." Ir à porta de quartel e incitar homens armados a pôr fim à democracia? Ninguém tem esse direito. É diferente de escrever um artigo afirmando que bom mesmo é a ditadura, né? Ou de financiar alguma publicação que tenha tal viés. O presidente, o não-investigado, discursou diante de faixas que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo pelos militares e a volta do AI-5, quando se torturou e matou à farta no país.

Leio na Folha:
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) também exaltou os atos e disse que as manifestações não foram antidemocráticas. "Oras, o único motivo pelo qual o povo teve motivo de ir às ruas foi o autoritarismo de Rodrigo Maia e o desrespeito à legítima eleição de Jair Bolsonaro. Quem é o ditador afinal?"

A deputada não sabe a diferença entre "oras" e "ora", mas é o de menos. Ela não sabe mesmo é o que distingue uma ditadura de uma democracia. Qual foi o autoritarismo de Rodrigo Maia? Pôr um projeto para tramitar — no qual, inclusive, ela votou? E se a sua turma tivesse vencido? Ela ainda o consideraria um "ditador"?

Pergunto: a deputada não aceita as regras da Constituição e da Casa Legislativa a que pertence, para a qual foi eleita? ORA, então não aceita a democracia, e isso explica seu endosso ao ato. O movimento ao qual é ligada, o Nas Ruas, estava presente. A propósito: quem financia?

Já o deputado Bibo Nunes (PSL-RS) escreveu nas redes sociais:
"As pessoas querem a volta do regime militar por verem tanto desrespeito pelo presidente eleito".

Desrespeitar o presidente, no caso, é discordar dele... Sendo assim, que venha a ditadura?

Há outros parlamentares. Isso justifica, sim, que o pedido seja enviado ao Supremo. A investigação, se for bem-feita, chegará também a pessoas sem prerrogativa de foro. Uma vez concluído o inquérito, que se ofereça a denúncia. Quem tiver foro especial será processado pelo Supremo; quem não tiver, pela Justiça Federal de primeira instância.