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Reinaldo Azevedo

Se empresários rejeitam ser confundidos, que então desconfundam. Ou afundam

Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e um grupo de empresários deixam o Supremo depois de uma verdadeira blitz ao tribunal, ainda que consentida. Absurdo sem precedentes - Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e um grupo de empresários deixam o Supremo depois de uma verdadeira blitz ao tribunal, ainda que consentida. Absurdo sem precedentes Imagem: Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

08/05/2020 08h09

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Parece que Jair Bolsonaro é mesmo um mago ou tem tal poder abducente que consegue fazer com que as pessoas se afastem da própria razão para realizar os seus desígnios. Então ficamos assim.

Dias Toffoli diz que foi surpreendido pelo presidente. Nem estava no prédio. Correu para lá quando avisado que o presidente chegaria. O resto vocês sabem: houve marcha na Praça dos Três Poderes, live, o diabo a quatro - sobretudo isso...

Também os empresários dizem ter sido surpreendidos. Consta que o fim do isolamento nem estava na pauta da reunião. Leio na Folha o que segue. Volto em seguida:

A reunião desta quinta-feira (6) do grupo conhecido como Coalizão Indústria com o presidente Jair Bolsonaro e outros membros do governo tinha uma pauta bem precisa: situação da indústria, ações e doações para o combate ao novo coronavírus, retomada do setor produtivo -com a explicação de que a pandemia veio logo após uma longa crise que atingiu as indústrias- e retomada do crescimento econômico, com diminuição do custo Brasil e a volta da agenda de refomas.

O encontro, no entanto, acabou sendo marcado por uma discussão sobre a flexibilização da quarentena que foi levantada pelo presidente Bolsonaro.

Segundo relatos ouvidos pela Folha, quem entrou no assunto foi o próprio presidente ainda durante a reunião no Palácio do Planalto . Só após isso, segundo relatos, Marco Polo de Mello Lopes, da Açobrasil, concordou com o presidente.

Foi neste momento, dizem os industriais, que Bolsonaro perguntou se eles teriam coragem de falar que a indústria brasileira está na UTI, precisando de oxigênio, com quem estivesse de plantão no STF (Supremo Tribunal Federal).
(...)

COMENTO
Está bem. Então é preciso repor a verdade. Os empresários que compuseram a blitz bolsonariana representam setores do empresariado. Todos dispõem de assessores de imprensa e falam por muitos outros.

Emitam, pois, nota deixando claro que não pediram o fim do isolamento social, como tem defendido o presidente, sem qualquer critério ou estudo. Pior: o país que está ficando sem leitos de UTI não dispõe de meios para a ampla testagem.

Ninguém me obriga a falar o que não quero falar ou a participar de um evento que considero insensato.

Se os empresários não se sentiram representados pela fala de Bolsonaro, que deixem, então, isso claro numa carta conjunta.

Que todos estão posando para a história, ah, isso estão. E a conta chega quase sempre quando há um erro dessa magnitude.

Estiveram presentes à patuscada os seguintes empresários:
José Ricardo Roriz Coelho, da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria de Plástico), Fernando Valente Pimentel, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), José Velloso Dias Cardoso, da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Paulo Camilo Penna, presidente do Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento), Elizabeth de Carvalhaes, da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), Synesio Batista da Costa, da Abrinq, Haroldo Ferreira, da Abicalçados (Associação Brasileira da Indústria de Calçados), Ciro Marino, da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), José Jorge do Nascimento Junior, da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), José Rodrigues Martins, da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Reginaldo Arcuri, da FarmaBrasil, José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), Marco Polo de Mello Lopes, da Coalizão Indústria, Humberto Barbato, da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) e um representante da Anfavea.

O que dizem a suas mães, pais, mulheres, filhos? "Saiam, não tema o vírus. O Brasil não pode parar"? Não creio. Não alcançaram a projeção profissional e social porque burros. E não posso crer que defendem para o "povão" aquilo que eles mesmos não praticam.