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Reinaldo Azevedo

Na Folha: Preparem-se! O Bolsonaro do confronto voltou para tentar ficar

Bolsonaro saúda manifestantes que defendem o fechamento do Congresso e do Supremo - Sergio Lima/|AFP
Bolsonaro saúda manifestantes que defendem o fechamento do Congresso e do Supremo Imagem: Sergio Lima/|AFP

Colunista do UOL

13/11/2020 08h42

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Leiam trechos.
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Jair Bolsonaro vai dar trabalho. O cerco dos fatos ao senador Flávio Bolsonaro afeta o seu equilíbrio instável, e ele abre a tampa do bueiro. Chama os brasileiros de "maricas", ameaça os EUA com retaliação militar, mente sobre efeitos colaterais da vacina, anuncia a cura da Covid-19, mergulha numa espiral de demência. Chega mesmo a ter um rasgo de sinceridade ao afirmar: "A minha vida aqui é uma desgraça, é problema o tempo todo, não tenho paz para absolutamente nada". E lá vem um novo ataque aos de sempre, aos urubus: "Não posso mais tomar um caldo de cana na rua, comer um pastel. Quando eu saio, vem essa imprensa perturbar."

Imagine aí, leitor, que atividades a palavra "nada" resume. Não enchêssemos tanto a paciência de Bolsonaro, não existisse um país para ele governar, em que ocuparia o seu tempo, além de tomar caldo de cana e comer pastel? FHC foi entrevistado logo depois de deixar o poder. Quiseram saber se experimentava alguma sensação de vazio, alguma melancolia de rei destronado. Respondeu muito calmamente, cito de memória, que levava consigo as preocupações de antes, suas inquietações intelectuais, seus livros. Tinha com que ocupar seu tempo distante das rinhas políticas e da disputa pelo poder. Estas, sim, ao lhe impor a ética da responsabilidade, eram mais maçantes do que as convicções de quem tem uma vida intelectual ativa, pautada por utopias, desejos, prefigurações.
(...)
Circunstâncias que agora não vêm ao caso, que provocaram um desequilíbrio ecológico na política, o alçaram, de fato, à Presidência. E é aí que tem início a combinação de pesadelos que o leva a dizer sandices e que pode, sim, torná-lo uma pessoa perigosa. A função o obriga a fazer escolhas sobre temas que desconhece. Quem não desenvolve a empatia também é incapaz de manter relações de confiança. Deve ser um inferno experimentar a sensação permanente de que está sendo trapaceado. Tudo à sua volta fala um idioma que ele ignora. A vida assim já deve ser um tormento. Mas há bem mais do que isso: o passado assombra o presente (...)
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