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Reinaldo Azevedo

DEM escolhe ser mixuruca do Centrão. Jamais será centro-direita moderna

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Imagem: Freepik

Colunista do UOL

01/02/2021 07h55

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Com Rodrigo Maia na Presidência da Câmara, o DEM passou por uma espécie de, como posso chamar?, recuperação moral. Depois de flertar com a extinção — chegou-se a falar em fusão com outras legendas —, o partido se levantou. Elegeu um bom número de prefeitos, ensaiou o discurso de um partido de centro-direita alinhado com a contemporaneidade.

Ocorre que, fica claro agora, Maia e mais uns dois ou três estão alinhados com esse esforço. O próprio presidente da Câmara diz que, ao retirar o apoio a Baleia Rossi, o DEM se mostra como o partido de direita que é — e da direita atrasada, digo eu —, que ele, Maia, tentou levar para o centro. Não conseguiu.

O deputado Luís Miranda (DEM-DF) deu esta espetacular declaração, justificando o desembarque do DEM:
"São 31 votos a menos no bloco dele [Baleia], e um alívio para os 21 deputados e deputadas que já tinham declarado voto para o Arthur Lira e não gostariam de ter a sua imagem vinculada a um bloco que foi literalmente construído com pautas da esquerda, sem sermos escutados, ouvidos e respeitados".

Vocês leram direito. Miranda acha que a pauta do moderadíssimo Baleia Rossi, que seria chamado de um homem de direita nas boas democracias do mundo, é muito "esquerdista".

ACM Neto, presidente do partido, como se nota, não preside, mas é presidido. E não parece também, com a devida vênia, que tenha se esforçado para manter a legenda no bloco liderado por Baleia. Dele não se ouviu uma só declaração de princípio, nada.

Parece evidente que aquela ambição de se transformar o DEM num partido de centro-direita afinado com a contemporaneidade do mundo vai por Lira abaixo. A legenda quer mesmo é ser Centrão, gozar dos benefícios e privilégios de um apaniguado do governo.

Parece-me difícil — embora essas coisas não sejam fáceis, e partidos contem, muitas vezes, com correntes conflitantes — que Rodrigo Maia permaneça no DEM. É claro que foi traído — por muitos, inclusive, que lhe dispensavam salamaleques e rapapés até outro dia. O DEM, obviamente, é formado por uma maioria de bolsonaristas ou de pessoas que estabeleceram com o Planalto uma relação de compra e venda.

Depois do golpe deste domingo, quem será Maia no partido? Será uma voz respeitável numa legenda que decidiu ficar no colo de Bolsonaro, seja porque partilhe de seus pensamentos tortos, seja porque gosta do cofre do governo? Como creio que pretenda ficar na política, Maia terá de pesar, claro, suas possibilidades futuras em outras legendas.