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Reinaldo Azevedo

Maia nunca foi para Bolsonaro o que Cunha foi para Dilma. Pelo contrário!

Eduardo Cunha: ele foi adversário do governo quando presidente da Câmara. Rodrigo Maia apenas reagiu à agenda obscurantista - Tréplica Cristiano Mariz/VEJA
Eduardo Cunha: ele foi adversário do governo quando presidente da Câmara. Rodrigo Maia apenas reagiu à agenda obscurantista Imagem: Tréplica Cristiano Mariz/VEJA

Colunista do UOL

01/02/2021 08h06

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Poucos tratamentos são tão injustos e indignos como o dispensado pelo governo Bolsonaro a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. Já observei aqui: ele, com efeito, não deu bola para a agenda antediluvianas do presidente e de sua súcia de fanáticos. Mas é uma mentira deslavada que tenha impedido que a pauta do governo prosperasse na Casa. Mas se deve perguntar: qual pauta? Eis o problema. Não havia nenhuma.

Lembre-se sempre: sem a condução segura de Maia, não teria havido nem reforma da Previdência. Todas as vezes em que o Planalto, por intermédio do presidente ou de um de seus auxiliares, entrou em cena, fez a coisa desandar. Como esquecer que, em uma das crispações, Maia disse algo como: "Ok, cuidem vocês, estou fora"? E os mercados desabaram em seguida. Porque sabiam quem se encarregava de manter em pé o mastro do circo.

Não menos exitosa foi a condução do presidente da Câmara no debate da PEC Emergencial. Na prática, é um dos seus articuladores, quando Paulo Guedes, o ministro da Economia, era uma soma de perplexidade e chiliques. Maia foi para Bolsonaro o contrário do que foi Eduardo Cunha para Dilma. Um se encarregou de organizar a votação e de garantir a aprovação de projetos essenciais para a governabilidade. Cunha usou o cargo para chantagear o governo e para gerar instabilidade. No dia 2 de dezembro de 2015, descontente com os votos dos petistas no Conselho de Ética, em favor da continuidade da investigação das acusações que havia contra ele, admitiu uma denúncia contra Dilma. Era o primeiro ato do processo que derrubou a presidente — não sem antes plantar pautas-bomba ao longo de um ano.

A propósito: mesmo na cadeia, Cunha, a seu modo, participou da eleição. E articulou votos para Lira.

E isso foi tudo o que Rodrigo Maia não foi. O ainda presidente da Câmara fez a defesa das instituições, reagiu sempre com dureza a arreganhos autoritários do presidente, opôs-se a seus rompantes golpistas e, como já lembrei, ignorou a pauta que pretende fazer a civilização andar para trás no país.

Bolsonaro não se indispôs com Maia porque este tenha criado qualquer empecilho a seu governo. O presidente não suportava e não suporta que possa haver Poderes na República que tenham seus próprios domínios. Os protestos que liderou em 2020, como sabemos, pediam nada menos do que o fechamento do Congresso e do Supremo.

Conseguirá limpar os pés em Arthur Lira caso este realmente vença a disputa? Depende. Vai pagar bem? Nessa relação, o senhor não é quem parece ser.