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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Maioria do eleitorado acha que Lula é melhor nas áreas que mais a afligem

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

30/05/2022 07h38

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O Brasil é um dos países mais bem-sucedidos no pós-covid e está no caminho certo. Já os ricos, na contramão, fazem tudo errado. Essa é a opinião de Paulo Guedes, ministro da Economia, sobre a sua própria gestão, expressa em Davos. Os ouvintes ficaram, assim, um tantinho chocados. Não conhecem a disposição da figura para desafiar os fatos. Falta-lhe e a seu chefe, Jair Bolsonaro, combinar com os brasileiros que tudo vai bem... Como isso parece difícil, os valentes atacam as pesquisas.

Tanto a Datafolha, divulgada nesta quinta, como a Genial-Quaest, do começo do mês, apontam a importância da economia na escolha do eleitor. Os números explicam a vantagem folgada de Lula.

QUAEST
Na Quaest, com dados colhidos entre 5 e 8, Lula marcou 46% contra 29% de Bolsonaro no primeiro turno, no cenário então mais provável, ainda com João Doria. No segundo turno, 54% a 34%.

Nada menos de 50% dos ouvidos disseram ser a economia o principal problema do país, assim divididos: crise econômica (18%), inflação (18%) e desemprego (13%).

"Crise econômica" e "inflação" somam, como se vê, 36%. Nesse grupo, 38% elegeram o combate à alta generalizada de preços como a principal tarefa do futuro presidente. Entre os 13% que responderam que a dificuldade número um do país é o desemprego, 56% consideram que aumentar os postos de trabalho é a tarefa principal do próximo mandatário.

Pois é... Lula bate Bolsonaro por 55% a 29% entre os que afirmam que combater a inflação é a prioridade do futuro governo e por 58% a 27% entre os que apontam o desemprego.

Entre os que recebem até dois salários mínimos, somam 40% os que afirmam que os maiores desafios são aumentar o emprego (21%) e combater a inflação (19%). Esse grupo dos dois mínimos forma, segundo o IBGE, 70% da população com renda. Nessa faixa, aponta a Quaest, o ex-presidente bate o atual por 57% a 19%.

Na faixa de dois a cinco mínimos, 38% veem esses dois problemas como os principais — 19% cada um. Nesse caso, o petista vence o atual mandatário por 44% a 30%. Já a turma acima de 10 mínimos vê a inflação (22%) acima do desemprego (16%). Só nesse corte, na Quaest, Bolsonaro está à frente de Lula: 42% a 35%

DATAFOLHA
Segundo o Datafolha divulgado na quinta, com dados colhidos entre os dias 25 e 26, Lula lidera por 48% a 27% no cenário já sem Doria. Teria 54% dos votos válidos e seria eleito no primeiro turno.

A economia, também nesse levantamento, explica a dianteira folgada no petista. Consideram que o tema tem muita influência no seu voto 53% dos entrevistados. Dizem ter "um pouco" outros 24%: juntos, somam 77%.

Talvez os brasileiros devessem bater um papo com Guedes para que ele os convencesse de que estão enganados sobre o próprio bolso: 52% consideram que sua situação econômica piorou nos últimos tempos — em março, eram 46%.

É... Quem paga as próprias contas sabe do que fala. O IPCA em 12 meses foi de 12,13% em abril, recorde desde 2003. Acham que a situação econômica do país piorou dois em cada três brasileiros. Não parece que o ambiente convide à continuidade da gestão.

No Datafolha, Lula bate Bolsonaro por 56% a 20% entre os que ganham até dois salários mínimos e por 41% a 34% entre os que recebem de dois a cinco. Na faixa de cinco a dez, há um empate técnico em 37%. O presidente só bate o oponente entre os que recebem mais de dez: 42% a 31%.

Renda e escolaridade são irmãs siamesas: entre os que têm o ensino fundamental, o petista vence o adversário principal por 57% a 21% — 46% a 30% no ensino médio e 40% a 30% no superior.

Bolsonaro não tem nada a fazer para mudar a realidade objetiva dos muitos milhões de pobres. Ele está disposto, diga-se, a cortar verbas de algumas pastas para garantir reajuste a servidores, que estão bem longe da turma dos dois mínimos.

Desocupado, passa os dias à caça de factoides e barulho: ameaça com golpe; busca bodes expiatórios para o desastre econômico de sua gestão — Petrobras e governadores —; investe na guerra santa contra as esquerdas, especialmente na área de costumes, e incentiva a truculência policial.

Tudo o que ele quer é que os brasileiros esqueçam o governo que ele efetivamente faz e apostem em suas alucinações ideológicas.