Goiabinha comunista Tarcísio tem certeza de que não faz pior do que Marçal?
Pois é... Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, quem diria?, é agora um "goiabinha" na fruticultura ideológica de Pablo Marçal. Trata-se de um correspondente rebaixado, na dimensão ao menos, da "melancia", a que apelam os bolsonaristas, em derivação imprópria, adjetivando um substantivo, para qualificar aqueles que são "verdes por fora e vermelhos por dentro". Seria também Tarcísio, em suma, um "criptocomunista", para recorrer a um vocábulo que ao menos tem alguma tradição na linguagem policialesca: verde por fora e vermelho por dentro?
No Instagram, o governador ser referiu às baixarias de Pablo Marçal nestes termos:
"Não dá mais pra tolerar o que está acontecendo nessa campanha. Onde está o respeito ao eleitor que todo candidato precisa ter? Cadê o respeito à democracia que quem quer ser gestor precisa mostrar? Aonde vamos parar com tanta baixaria? As pessoas querem acompanhar o debate de ideias, querem ouvir as propostas que vão melhorar a vida delas. Tudo isso é lamentável."
Pois é, pois é...
Indago ao governador se ele já assistiu ao filme "Alien". Refiro-me àquele brilhantemente dirigido por Ridley Scott, de 1979, que ganhou um rabicho no título aqui no Brasil: "O Oitavo Passageiro". Fez tanto sucesso que gerou mais três filmes e uma franquia com uma penca de produtos. No original e nas sequências, os monstrengos se apoderam das pessoas, à sua revelia, e saem de suas entranhas de modo assustador. Pergunto: será Marçal um "alien" na relação com o bolsonarismo? Acho que não.
Que o "coach" tenha saído do ventre do "Mito" e de seus seguidores, bem, sobre isso não há a menor dúvida. À diferença das criaturas horripilantes, que em nada se parecem com o seu hospedeiro, Marçal é escarrado a cara do bolsonarismo. Ele diz as mesmas coisas sem sentido, professa os mesmos valores, repete os mesmos mantras, recorre às mesmas imagens, apela aos mesmos insultos, cultua e incita os mesmos reacionarismos. Ele só o faz, dê-se a mão à palmatória, com um pouco mais de talento para a pantomima macabra.
Tarcísio está espantado com o quê?
Não foi ele mesmo a se arrepender, depois de ter sido repreendido por Carlucho, por ter dito que votaria nulo se Marçal disputasse o segundo turno com Boulos? Vale dizer: entre um candidato de esquerda, mas que é desse mundo, e uma criatura aparentemente de outro, o governador ficaria com esta. Logo, ele vê traços seus e de sua turma em... Marçal. Sob certas circunstâncias, pois, o Alien pode ser seu aliado.
Tarcísio, é verdade, fez debates civilizados com Fernando Haddad na disputa pelo governo de São Paulo em 2022. O agora ministro da Fazenda é um dos homens públicos mais lhanos e educados do país. Expõe ideias com paciência professoral, sem parecer pedante. E evita escalar conflitos. É difícil um embate ríspido com ele. E também o governador, por si, é capaz de falar uma linguagem racional. Mas sabe apelar à irracionalidade com desenvoltura e desfaçatez, não é?
Ora, quem era e, em muitos aspectos, ainda é o preposto de Bolsonaro em São Paulo? Acertou quem respondeu Tarcísio de Freitas. Se não são tantos os seus arroubos de reacionarismo retórico no dia a dia, embora os tenha praticado também, o fato é que foi encontrado no palanque indecente do 7 de Setembro, ao lado de seu chefe político, a defender a anistia para golpistas e o impeachment de um ministro do Supremo.
Todos sabem o que penso sobre Pablo Marçal. Há muito defendo que não seja chamado para debates, uma vez que não há lei que imponha a sua participação. Ele não quer debater. É um arruaceiro de quinta categoria.
Mas sou forçado a indagar: ele é mais nocivo para a democracia do que a presença do governador do estado que representa quase um terço do PIB num ato em defesa de golpistas? Ele corrói mais as instituições do que a presença do chefe de uma força de 100 mil homens num palanque que prega às escâncaras o impeachment de um ministro do STF? Tenho de fazer mais uma pergunta: a autocontenção que Tarcísio não vê em Marçal ele enxerga em si mesmo quando pratica esses atos destrambelhados?
No fim das contas, governador, Marçal não saiu do ventre de vocês? E não foram vocês, com o credo que cultivam, a estimular, país afora, o surgimento de outros "palhaços macabros", para citar uma música de Caetano?
Convenha, Tarcísio: por tudo o que diz e faz o bolsonarismo, o único pecado de Marçal, aos olhos de vocês, é não agir de modo reverente. Ele é mal-educado até com os seus iguais e não esconde a ambição: acha que pode fazer melhor o que vocês fazem.
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