Bolsonaro recicla fakes estrangeiras sobre vacinas contra covid e máscaras
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reciclou conteúdos falsos estrangeiros para mentir sobre as vacinas contra a covid-19 e o uso de máscaras na live de hoje (21).
Bolsonaro deu dados falsos sobre a vacinação contra a covid no Reino Unido, apresentou uma tese fantasiosa sobre efeitos colaterais dos imunizantes e reproduziu uma alegação mentirosa sobre supostos danos do uso de máscaras.
Todas as vacinas contra a covid disponíveis no Brasil são seguras e eficazes, e tiveram seu uso autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Elas têm sido essenciais para a redução no número de mortes e internações por causa da doença. Diversos estudos já comprovaram que o uso de máscara é peça-chave para conter a disseminação do coronavírus.
Veja o que o UOL Confere checou:
Temos um estudo aqui do Reino Unido onde 70% dos mortos com covid estavam vacinados. Não vou tecer comentários (...). Então, 70% dos mortos por covid no Reino Unido estavam vacinados."
Presidente Jair Bolsonaro em live semanal
A declaração do presidente é FALSA. Os completamente vacinados — que receberam as duas doses — representaram menos de 1% das mortes por covid no Reino Unido nos seis primeiros meses do ano.
De acordo com dados divulgados em setembro pelo ONS, órgão de estatísticas do governo britânico, apenas 458 das 51.281 pessoas que morreram de covid entre 2 de janeiro e 2 de julho de 2021 tinham completado o ciclo vacinal há mais de 21 dias — tempo considerado seguro.
A alegação de Bolsonaro vem de uma desinformação que circulou nos EUA e na Europa em julho, que distorcia os dados de uma pesquisa do governo britânico sobre as variantes do coronavírus.
O estudo não trazia nenhum dado sobre o total de mortos pela covid entre vacinados, e informava apenas a proporção de vacinados entre os mortos pela variante delta, naquele momento a mais recente em circulação no país.
A pesquisa mostrava que, entre 1º de fevereiro e 21 de junho, 117 pessoas morreram por causa da variante delta, e que 62% delas eram adultos que haviam tomado pelo menos uma dose da vacina. No entanto, naquele momento, a delta representava apenas 3% das 4.408 mortes por covid ocorridas no Reino Unido.
Ou seja: o conteúdo falso tratou a proporção de vacinados entre os mortos pela variante delta como se fosse a fatia de vacinados entre todas as vítimas da covid.
Ao jornal norte-americano USA Today, que checou o conteúdo em julho, o governo britânico disse que ainda não existiam dados suficientes para fazer qualquer avaliação. Em setembro, com os dados do ONS, os resultados deixaram clara a importância da vacinação para a redução de mortes pela covid.
Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados [...] estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto."
Presidente Jair Bolsonaro em live semanal
A declaração do presidente é FALSA. Em outra mentira envolvendo o Reino Unido, o presidente cita inexistentes "relatórios oficiais" para afirmar que vacinados têm mais facilidade para desenvolver síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids), quando não há nenhum estudo que indique isso.
Ao contrário, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que portadores de HIV que estejam em fase Aids, com imunidade muito baixa, não só se vacinem como tomem a dose de reforço, algo já disponibilizado no Brasil para imunossuprimidos 28 dias após a segunda dose.
Também não há nenhuma evidência que portadores de HIV desenvolvam mais efeitos colaterais do que a população em geral, de acordo com a Sociedade de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (IDSociety).
No documento de perguntas e respostas atualizado em 26 de setembro, a IDSociety afirma que os efeitos colaterais em portadores de HIV "ainda estão sendo estudados", mas os dados atuais não sugerem mudanças para este grupo.
"Os efeitos colaterais mais comuns entre os participantes incluem dor e inchaço no local da injeção, fadiga e dor de cabeça. Um número inferior relatou febre. Estes efeitos colaterais não duraram mais do que poucos dias, no máximo", diz o texto.
A "fonte" do que Bolsonaro falou é um texto anônimo publicado em um site em inglês recheado de teorias da conspiração, onde qualquer pessoa pode publicar qualquer coisa sem se identificar.
O doutor [Anthony] Fauci dizendo, em um artigo de 2008, que a maioria das vítimas da gripe espanhola não morreu de gripe espanhola. Sabe do que eles morreram, na verdade? De pneumonia bacteriana causada pelo uso de máscaras."
Presidente Jair Bolsonaro em live semanal
Mais uma declaração FALSA do presidente que também é uma fake news antiga e vinda do exterior. O estudo citado por Bolsonaro existe, mas sequer cita máscaras.
Anthony Fauci, um imunologista e conselheiro médico do presidente dos EUA, Joe Biden, publicou com mais dois pesquisadores em 2008 um artigo com os resultados de uma análise de tecidos e autópsias de vítimas da gripe espanhola, em 1918, e descobriram que vários deles tiveram pneumonia bacteriana.
No entanto, uma coisa não exclui a outra, como disse Bolsonaro. O estudo conclui que o vírus da gripe espanhola facilitou com que as pessoas desenvolvessem também pneumonia bacteriana.
Esta alegação falsa circulou nos EUA entre outubro e novembro do ano passado, e já tinha sido checada por diversos veículos de imprensa estrangeiros, como USA Today, Reuters e PolitiFact.
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