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CPI lista fake news de Bolsonaro e aliados sobre covid; veja o que checamos

19.out.2021 - O presidente Jair Bolsonaro discursa em Brasília durante almoço com o presidente da Colômbia, Iván Duque - Arte/UOL sobre Alan Santos/PR
19.out.2021 - O presidente Jair Bolsonaro discursa em Brasília durante almoço com o presidente da Colômbia, Iván Duque Imagem: Arte/UOL sobre Alan Santos/PR

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

20/10/2021 14h20

O relatório final da CPI da Covid, apresentado hoje no Senado Federal, diz que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus três filhos mais velhos — o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) — comandaram uma organização de propagação de informações falsas sobre a pandemia.

De autoria do senador Renan Calheiros (MDB-AL), o texto diz que o grupo teria como objetivo "influenciar a opinião da população" por meio de informações falsas. O relatório lista uma série de declarações do presidente, dos filhos e de outros aliados com falsidades ou distorções sobre temas como vacinas, uso de máscaras, uso de medicamentos e a responsabilidade do governo federal no controle da pandemia.

Na prática, ao estimular a população a se aglomerar, a não se vacinar, a desobedecer às regras de uso de máscara e de lockdown, pessoas influentes e agentes políticos contribuíram para o agravamento da pandemia."
Relatório da CPI da Covid

Desde março de 2020, o UOL Confere publica checagens de afirmações de Bolsonaro e seus aliados sobre a pandemia. Veja a seguir algumas delas:

Propaganda antivacina

As informações falsas sobre vacinas contra a covid são consideradas pelo relatório como as mais nocivas daquelas que teriam sido divulgadas pela organização de desinformação. Desde março de 2020, o UOL Confere publicou pelo menos 26 checagens sobre os imunizantes, várias delas relativas a declarações de Bolsonaro.

Em outubro de 2020, depois de desautorizar publicamente a compra da CoronaVac, Bolsonaro fez pelo menos três declarações falsas para tentar justificar a recusa.

Mesmo com a contenção da pandemia após a vacinação no Brasil e no mundo, o presidente seguiu questionando a imunização. Bolsonaro desinformou para atacar a CoronaVac (aqui, aqui e aqui) e mentiu sobre a posição da OMS para a vacinação de adolescentes, por exemplo.

O relatório da CPI da Covid cita diversas declarações de Bolsonaro contra a CoronaVac e diz que elas representam "indícios da prática da infração penal de incitação ao crime de descumprimento de norma sanitária."

Mais recentemente, o presidente tem alegado que, por já ter sido infectado pelo coronavírus, teria "imunização natural", com um suposto alto nível de anticorpos, e não precisaria da vacina. Não há base científica para esta tese, como esclarece uma nota técnica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Desestímulo ao uso de máscaras

Apesar de o uso de máscaras ter eficácia comprovada como prevenção à covid, o relatório diz que algumas publicações "até indicavam suposta nocividade em seu uso".

Em junho, com mais de um ano de uso obrigatório de máscara e consenso científico de que esta é uma das principais medidas de contenção da disseminação do vírus, o presidente afirmou que seu uso em locais fechados causaria "oxigenação menor no corpo".

Isso é falso e vem sendo desmentido desde o início da pandemia, como o UOL Confere mostrou em junho e verificações feitas pelo Projeto Comprova mostraram em maio, agosto e dezembro de 2020.

Um informe publicado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em agosto do ano passado aponta que as máscaras são utilizadas há décadas por profissionais de saúde e não apresentam contraindicações.

Desestímulo ao isolamento social

O relatório também diz que o grupo promoveu o desencorajamento das medidas de isolamento social. O UOL Confere desmentiu Bolsonaro mais de uma vez sobre o tema (veja exemplos aqui, aqui e aqui).

Em outubro do ano passado, Bolsonaro afirmou que já tinha provado que "não dava certo essa política", indo na contramão de pesquisas que mostravam o contrário. Um estudo da UFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) estimou que, só de março a maio de 2020, até 118 mil vidas podem ter sido poupadas no Brasil graças às medidas de isolamento.

Um ano depois, o presidente insistia em tratar a necessidade de medidas de isolamento de forma enganosa, desta vez para tentar justificar problemas econômicos enfrentados pelo Brasil e por outros países, como a inflação.

Em uma linha similar, Carlos Bolsonaro e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) — também citados no relatório como integrantes da organização — compartilharam um vídeo que associava, de forma falsa, os lockdowns a recentes casos de desabastecimento na Europa. As prateleiras ficaram vazias por questões pontuais, envolvendo imigração e greves.

Em um depoimento na própria CPI da Covid, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) — outro citado como parte da organização de propagação de fake news — também mentiu sobre a medida, dizendo que ela não funciona na contenção do vírus, quando evidências científicas mostram o oposto.

"Tratamento precoce"

O texto indica que a organização teria incentivado o uso de remédios sem eficácia contra a covid-19, com a cloroquina como carro-chefe, com base em estudos falhos. O UOL Confere e o projeto Comprova, do qual o UOL faz parte, publicaram dezenas de desmentidos relativos a estes medicamentos, vários deles de declarações do próprio presidente.

Em agosto de 2020, Bolsonaro chegou dizer que a cloroquina teria salvado 100 mil vidas, sem apresentar prova alguma. À época, os estudos apontavam que não havia eficácia. Desde dezembro, seu uso contra covid é contraindicado pela OMS.

Ainda assim, o presidente segue defendendo o uso de remédios sem provas de eficácia, principalmente nas lives que faz às quintas-feiras. Na semana passada, Bolsonaro comparou remédios contra covid em fase experimental e que apresentam bons resultados com a ivermectina, que também é contraindicada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no combate à doença.

Isenção de responsabilidade do governo Bolsonaro

O grupo também teria estimulado o discurso de que, por causa de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), o governo federal estaria impedido de tomar decisões sobre a pandemia, cuja responsabilidade seria inteiramente de estados e municípios. Bolsonaro repetiu esta mentira ao longo da pandemia.

O Supremo determinou que as medidas para enfrentar o coronavírus deveriam respeitar a autonomia de estados e municípios, mas que a competência entre os entes federativos —União, estados, Distrito Federal e municípios— é concorrente, ou seja, todos eles têm o dever de tomar providências para enfrentar a pandemia.

Mentiras sobre número de mortes

O relatório lembra ainda das notícias falsas que "davam a entender que médicos e demais profissionais da saúde eram incentivados ou coagidos a registrar os óbitos como decorrentes de covid-19, independentemente de sua real causa".

A deputada Bia Kicis (PSL-DF), citada como parte da organização apontada pelo relatório, compartilhou em março de 2020 a mentira de que um homem que teria morrido ao trocar um pneu de caminhão teve a covid como causa da morte em seu atestado de óbito. O homem morreu de influenza A.

Em junho deste ano, o teor de um documento do TCU (Tribunal de Contas da União) para lançar dúvidas sobre o impacto da covid no Brasil, falando em uma suposta supernotificação de casos e óbitos decorrentes da doença.

Origem do coronavírus

Segundo o relatório, a organização teria espalhado "notícias infundadas sobre a origem do vírus, perpetrando e encorajando ataques à China e seu povo, por meio de conteúdo nitidamente xenófobo".

Em março de 2020, o ativista bolsonarista Oswaldo Eustáquio, citado pelo relatório como parte do núcleo de disseminação de fake news, publicou um texto em que dizia o coronavírus tinha sido criado em um laboratório ligado ao Partido Comunista da China. A checagem da afirmação mostrou que não havia nenhuma prova disso.

Um artigo publicado na revista científica Nature Medicine naquele mês considerava que qualquer cenário de surgimento do vírus em laboratório não era "plausível". A OMS (Organização Mundial da Saúde) chegou à mesma conclusão no começo do ano, mas ainda tenta determinar a origem do Sars-CoV-2.

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