É falso que emissoras de TV pagaram honorários de advogados de Adélio Bispo
Letícia Mutchnik
Colaboração para o UOL, em São Paulo
27/09/2023 17h41
É falso que emissoras de TV tenham mandado matar Bolsonaro e tenham bancado a defesa de Adélio Bispo, autor de facada no então presidenciavél em 2018, Jair Bolsonaro. A desinformação circula pelo menos desde 2019.
O vídeo, que voltou a viralizar nas redes sociais, mostra trechos trechos selecionados de entrevista do advogado Zanone Júnior a uma integrante de um grupo simpatizante a Bolsonaro em Juiz de Fora, Minas Gerais. Os recortes dão a entender erroneamente que emissoras de televisão teriam pagado os honorários da equipe de defesa de Adélio.
O que diz o post?
Na versão entrecortada que se tornou viral, a pessoa faz a seguinte pergunta: "A quem interessa manter em segredo, esconder quem mandou matar Bolsonaro?".
Em resposta, o advogado Zanone Júnior afirma: "(Interessa) À pessoa que me pagou".
No vídeo editado o advogado afirma: "Tirando aquele primeiro contato em que a pessoa me pagou, eu, Zanone, no interior do meu escritório, a partir daí todas as despesas foram bancadas por algumas emissoras de televisão, não vou citar o nome para você, nem para o Brasil."
Ele, em seguida, menciona que algumas emissoras de televisão assumiram os custos a partir desse ponto, mas opta por não divulgar o nome das emissoras que teriam as despesas.
Além disso, ele acrescenta que os próprios advogados da equipe também contribuíram financeiramente para alguns gastos.
Sobreposto às imagens está escrito: "Advogado de Adélio confessou que emissoras de TV bancava (sic) tudo".
Por que é falso?
Em 2019, o advogado Zanone Júnior explicou ao jornal Correio Braziliense (aqui) que suas declarações foram feitas "em tom jocoso". Ele esclareceu que quando mencionou as emissoras, estava se referindo ao custeio de despesas relacionadas a reportagens, não aos honorários.
Zanone detalhou que foi convidado para jantar em restaurantes e outros compromissos para dar entrevistas, e a imprensa custeou essas despesas. Além disso, ele mencionou ter feito viagens, nas quais as passagens aéreas foram pagas pela imprensa.
O relatório final da Polícia Federal no caso de Adélio também mencionou a justificativa de Zanone Júnior (aqui - entre as páginas 99 e 102). Ele afirmou que suas respostas foram feitas de forma descontraída, devido à aparência da entrevistadora, que estava vestida com roupas da seleção brasileira e usando uma faixa presidencial, segurando um celular.
A entrevista com Zanone Júnior na íntegra (aqui) não fornece evidências de que emissoras de televisão estavam por trás do pagamento da equipe de defesa. A investigação da Polícia Federal (aqui e aqui) posteriormente esclareceu que o canal SBT custeou despesas de viagem e alimentação para entrevistar Adélio, mas não pagou honorários advocatícios.
A veracidade da informação foi verificada em dois anos diferentes. O Boatos.org a analisou em 2019, e o Estadão Verifica fez uma análise em 2021 quando a mesma informação voltou a circular pela primeira vez.
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