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Nardoni diz que avó materna não queria Isabella; avô reage na plateia

Rosanne D'Agostino<br> Do UOL Notícias<br> Em São Paulo

25/03/2010 13h17

Alexandre Nardoni afirmou nesta quinta-feira (25) que a mãe de Ana Carolina Oliveira, Rosa Oliveira, não queria o nascimento da neta, Isabella. O depoimento aconteceu durante o júri popular no qual ele responde pelo assassinato da menina. Nardoni chorou, negou o crime, disse que teve desentendimentos no edifício London, onde tudo aconteceu, em março de 2008, e que chegou a receber uma proposta de acordo para assumir sozinho um homicídio culposo (quando não há intenção de matar), livrando a mulher, Anna Carolina Jatobá, das acusações.

“Eu briguei para ela nascer, porque a avó materna queria que ela [Ana Oliveira] abortasse. A Ana mesma não aceitava essa imposição da própria mãe”, afirmou Nardoni. Neste momento, o avô José Araújo de Oliveira, sorriu, reprovando o depoimento. Nardoni disse que Isabella era sua “princesinha”. A avó, Rosa Oliveira, não está no plenário, assim como Anna Jatobá, que não acompanha o interrogatório.

Choro e presença da mãe
"Aquilo ali foi meu pior dia. Ali eu perdi tudo de mais valioso na minha vida. Ali eu perdi o chão. E ninguém estava acreditando no que estava acontecendo", disse Nardoni, que pediu ao juiz que pudesse falar diretamente aos jurados. O relato referia-se ao momento em que recebeu a notícia, já no hospital, de que a filha havia morrido.

Chorava de frente ao juiz, como chorou às 10h46 ainda no banco dos réus, quando teve início a sessão e pôde ver sua mãe, Cida, no plenário. Ela levantou, bateu no peito aos prantos, e disse: "Meu filho". Recebeu em troca lágrimas e saiu. Não voltou mais.

Este é o quarto dia de júri popular do caso, que decide se o casal é culpado ou inocente pela morte da menina, que caiu da janela do 6º andar do prédio onde moravam.

Abuso da polícia e acordo
Nardoni disse ainda que, depois da queda da menina da janela do 6º andar do apartamento e sua morte no hospital, foi obrigado a passar praticamente a madrugada de domingo até segunda de manhã na delegacia, onde ele e Jatobá foram separados em duas salas. “Não desejo nem para o pior inimigo isso que passei e que estou passando hoje.”

Segundo Nardoni, delegados jogaram objetos nele. “Aí começou a sessão de xingamentos. Eu só falava que estava ali para ajudar e que eles podiam até me bater, mas teriam que responder por isso. Aí a Renata [Pontes, que relatou o boletim de ocorrência] pediu para algemar. Eles não estavam se conformando com aquilo”, disse.

Mais adiante, questionado pelo promotor Francisco Cembranelli se ele sabia o nome da professora e da pediatra de Isabella, Nardoni começou a relatar mais sobre o que teria acontecido em um interrogatório, que contava inclusive com a presença do promotor. “Eles mostraram a foto da minha filha no necrotério e houve uma proposta de acordo. Ele queria que eu assinasse um homicídio culposo e tirasse a minha esposa do processo. Eu disse que tava querendo descobrir a verdade. O Dr. Calixto [Calil Filho, delegado] explicou qual era a diferença entre homicídio culposo e doloso”, disse.

O promotor questionou Nardoni se todos os que ele estava citando haviam participado daquela negociação e perguntou ao juiz o que tinha aquilo a ver com a pergunta que fora feita. “Eu só estou falando o que houve no interrogatório, no dia 18 de abril de 2008”, respondeu o réu.
 


O que ainda deve acontecer

Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são réus por homicídio triplamente qualificado e fraude processual (entenda as acusações). O julgamento teve início nesta segunda-feira (22), quando o casal se encontrou pela primeira vez desde maio de 2008, e deve durar até o final desta semana.

O casal é julgado por quatro mulheres e três homens, sorteados no primeiro dia de sessão. Destes, cinco nunca participaram de um júri.

Em seguida, foram tomados os depoimentos das testemunhas. Os réus são os últimos a serem ouvidos. Depois, ocorrem os debates, quando defesa e acusação apresentam seus argumentos. São duas horas e meia para cada (por se tratarem de dois réus), o que deve ocupar toda a sessão de sexta-feira (24). Se o Ministério Público pedir réplica, de duas horas, a defesa tem direito à tréplica, também de duas horas.

Ao final, o júri se reúne em uma sala secreta para responder a quesitos formulados pelo juiz. Eles decidirão se o casal cometeu o crime, se pode ser considerado culpado pela atitude, e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. De posse do veredicto, se houver condenação, o juiz dosa a pena com base no Código Penal. Se houver absolvição, os Nardoni deixam o tribunal livres. A sentença deve sair ainda na noite de sexta.

Primeiros dias de julgamento
No primeiro dia do júri, prestou depoimento Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella. Ela chorou por pelo menos três vezes, provocou o choro de ambos os réus e relatou o amor de Alexandre pela filha e o ciúme que a madrasta teria da relação do marido com a menina e com sua ex-mulher.

O segundo dia de júri foi marcado pelas fotos do corpo de Isabella no IML (Instituto Médico Legal), que chocaram muitos dos presentes. Um dos peritos convocados disse que alguém tentou calar os gritos de Isabella, que morreu de asfixia, fruto de uma esganadura, e da queda do prédio. Pouco antes, ela teria sido atirada com força ao chão, segundo a perícia.

Já o terceiro dia de julgamento finalizou a fase das oitivas das testemunhas, com a desistência da defesa em ouvir os depoimentos que havia convocado. Pela acusação, a perita Rosângela Monteiro, do Instituto de Criminalística, afirmou que marcas na camiseta de Alexandre Nardoni são compatíveis com as de alguém que atirou Isabella pela janela do apartamento. Irônica, ela provocou a reação indignada do réu.

 


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