"Perdi tudo de mais valioso que tinha na vida", diz Alexandre Nardoni sobre morte de Isabella
Aos soluços e chorando, Alexandre Nardoni afirmou nesta quinta-feira (25) que a morte de sua filha, Isabella, foi a pior coisa que podia ter acontecido na vida dele. Em depoimento como réu, no júri popular no qual responde pelo assassinato da menina, Nardoni negou o crime. "É falsa, mentirosa, isso não existe", afirmou, sobre a acusação. Anna Jatobá não está acompanhando a sessão, que ainda está acontecendo no Fórum de Santana.
Mais sobre o julgamento
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Nardoni disse ainda que teve desentendimentos no edifício London, onde tudo aconteceu, em março de 2008, que foi alvo de abuso da polícia durante as investigações e que chegou a receber uma proposta para livrar a mulher, Anna Carolina Jatobá, assumindo tudo sozinho como homicídio culposo (sem intenção de matar).
"Aquilo ali foi meu pior dia. Ali eu perdi tudo de mais valioso na minha vida. Ali eu perdi o chão. E ninguém estava acreditando no que estava acontecendo", disse Nardoni, que pediu ao juiz para falar diretamente aos jurados. O relato referia-se ao momento em que recebeu a notícia, já no hospital, de que a filha havia morrido.
Ele chorava de frente para o juiz, como chorou às 10h46 ainda no banco dos réus, quando teve início a sessão e ele viu sua mãe, Cida, no plenário. Ela levantou, bateu no peito aos prantos, e disse: "Meu filho".
Este é o quarto dia de júri popular do caso, que decide se o casal é culpado ou inocente pela morte da menina, que caiu da janela do 6º andar do prédio onde moravam.
Nardoni deu início ao depoimento negando o crime. Contou como foi o dia do casal no dia da morte e disse que eles chegaram ao edifício London à noite, depois de terem ido ao Sam's Club, supermercado em Guarulhos (Grande São Paulo), onde foram filmados pelo circuito interno.
Segundo Nardoni, não houve brigas. Os filhos brincaram, Isabella ensinou Pietro, o meio-irmão, a mergulhar. "Minha esposa trocou, pôs biquíni nela. A Isabella estava feliz por ensinar o irmão", disse aos soluços.
Em seguida, voltou a dizer que chegou à garagem, deixou Isabella no apartamento porque ela estava dormindo, voltou para buscar a mulher com os outros dois filhos e quando retornou, a luz estava acesa. Com Pietro no colo, olhou pela janela. Alexandre mostrou aos jurados a posição. Disse que teve que fazer força com o rosto contra a tela de proteção cortada, sempre com o filho no colo, de joelhos sobre a cama dos irmãos. “Comecei a gritar, falei pra minha esposa ligar pros nossos pais”, disse.
Quando desceram para ver Isabella, Nardoni disse que Jatobá esperou com os filhos no hall de entrada e não foi até a menina. “O porteiro veio correndo do fundo. Perguntei onde ele estava, que tinha deixado o prédio sozinho.”
Nardoni disse que ficou o tempo todo perto da filha, mas que um vizinho não o deixou encostar nela, com medo de que o estado dela piorasse. “O coraçãozinho dela estava batendo, eu estava desesperado. Falei para a minha esposa ligar para a Ana Carolina Cunha de Oliveira”, disse Nardoni ao citar a mãe de Isabella. “Nessa hora tinha um monte de gente entrando no prédio, aquilo virou uma bagunça.”
Quarto dia de julgamento
Nardoni afirmou também que foi obrigado a passar praticamente a madrugada de domingo até segunda de manhã na delegacia, onde ele e Jatobá foram separados em duas salas. “Não desejo nem para o pior inimigo isso que passei e que estou passando hoje.”
Segundo ele, delegados jogaram objetos nele. “Aí começou a sessão de xingamentos. Eu só falava que estava ali para ajudar e que eles podiam até me bater, mas teriam que responder por isso. Aí a Renata [Pontes, que relatou o boletim de ocorrência] pediu para algemar. Eles não estavam se conformando com aquilo”, disse.
Mais adiante, questionado pelo promotor Francisco Cembranelli se ele sabia o nome da professora e da pediatra de Isabella, Alexandre começou a falar mais sobre o que teria acontecido em um interrogatório, que contava inclusive com a presença do promotor. “Eles mostraram a foto da minha filha no necrotério e houve uma proposta de acordo. Ele queria que eu assinasse um homicídio culposo e tirasse a minha esposa do processo. Eu disse que tava querendo descobrir a verdade. O Dr. Calixto [Calil Filho, delegado] explicou qual era a diferença entre homicídio culposo e doloso”, disse Nardoni.
O promotor questionou o réu se todos os que ele estava citando haviam participado daquela negociação e perguntou ao juiz o que tinha aquilo a ver com a pergunta que fora feita. “Eu só estou falando o que houve no interrogatório, no dia 18 de abril de 2008”, respondeu Nardoni.
O julgamento
A sessão de hoje começou por volta de 10h45, com 1h45 de atraso. Logo na abertura, o juiz pediu a compreensão de todos e afirmou que estava "resolvendo problemas administrativos", justificando a espera. Depois de Alexandre Nardoni será a vez de Anna Carolina Jatobá ser interrogada. A madrasta permaneceu fora da sala durante o depoimento de Alexandre.
Os depoimentos são a aposta da defesa para reverter um júri que, até agora, trouxe provas periciais que apontam para a culpa do casal e argumentos da defesa para tentar desqualificar os resultados dessas perícias. A Promotoria defende que o pai jogou Isabella pela janela. Antes, ela teria sido esganada pela madrasta e agredida por ambos. Já a defesa do casal insiste na tese de que havia uma terceira pessoa no prédio.
Uma confissão pode diminuir pena do casal Nardoni. Essa é uma possibilidade de reação dos réus, que podem ainda ficar em silêncio ou manterem a mesma versão. A confissão é um atenuante na pena em caso de condenação.
No quarto dia de julgamento, Anna Carolina Jatobá está vestida com uma camiseta azul clara, calça jeans e sapatilha preta. Alexandre Nardoni usa camisa verde com listras brancas, calça jeans e tênis preto.
O que ainda deve acontecer
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são réus por homicídio triplamente qualificado e fraude processual (entenda as acusações). O julgamento teve início nesta segunda-feira (22), quando o casal se encontrou pela primeira vez desde maio de 2008, e deve durar até o final desta semana.
O casal é julgado por quatro mulheres e três homens, sorteados no primeiro dia de sessão. Destes, cinco nunca participaram de um júri.
Em seguida, foram tomados os depoimentos das testemunhas. Os réus são os últimos a serem ouvidos. Depois, ocorrem os debates, quando defesa e acusação apresentam seus argumentos. São duas horas e meia para cada (por se tratarem de dois réus), o que deve ocupar toda a sessão de sexta-feira (26). Se o Ministério Público pedir réplica, de duas horas, a defesa tem direito à tréplica, também de duas horas.
Ao final, o júri se reúne em uma sala secreta para responder a quesitos formulados pelo juiz. Eles decidirão se o casal cometeu o crime, se pode ser considerado culpado pela atitude, e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. De posse do veredicto, se houver condenação, o juiz dosa a pena com base no Código Penal. Se houver absolvição, os Nardoni deixam o tribunal livres. A sentença deve sair ainda na noite de sexta.
Primeiros dias de julgamento
No primeiro dia do júri, prestou depoimento Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella. Ela chorou por pelo menos três vezes, provocou o choro de ambos os réus e relatou o amor de Alexandre pela filha e o ciúme que a madrasta teria da relação do marido com a menina e com sua ex-mulher.
O segundo dia de júri foi marcado pelas fotos do corpo de Isabella no IML (Instituto Médico Legal), que chocaram muitos dos presentes. Um dos peritos convocados disse que alguém tentou calar os gritos de Isabella, que morreu de asfixia, fruto de uma esganadura, e da queda do prédio. Pouco antes, ela teria sido atirada com força ao chão, segundo a perícia.
Já o terceiro dia de julgamento finalizou a fase das oitivas das testemunhas, com a desistência da defesa em ouvir os depoimentos que havia convocado. Pela acusação, a perita Rosângela Monteiro, do Instituto de Criminalística, afirmou que marcas na camiseta de Alexandre Nardoni são compatíveis com as de alguém que atirou Isabella pela janela do apartamento. Irônica, ela provocou a reação indignada do réu.
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