Diretoria de maternidade de Alagoas onde morreram 22 bebês em abril é afastada
A Uncisal (Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas) anunciou nesta terça-feira (18) que a maternidade Santa Mônica, referência para atendimento a mães e bebês de alto risco do Estado, está sob intervenção. Todos os diretores foram afastados das funções e uma comissão foi designada para gerir a unidade por 120 dias, até que o novo diretor-geral seja eleito pela comunidade acadêmica e servidores. Os nomes devem ser publicados no Diario Oficial desta quarta-feira (19).
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Entre os vários problemas de infraestrutura que a unidade enfrenta, em abril, 22 recém-nascidos morreram na maternidade, cinco deles por conta de infecções adquiridas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A Uncisal não revelou o número de óbitos deste mês.
Em nota oficial, a Uncisal informou que a decisão foi tomada pelo Conselho Superior Universitário durante reunião no último dia 12. “Durante esse período a Pró-Reitora Estudantil, Rosimeire Rodrigues Cavalconti, responderá pela Gerência Geral da maternidade, tendo como Gerente de Gestão, a servidora Solange Lucena; como docente assistencial, a Professora Sueli Borges, devendo ainda ser definido o Gerente Técnico Médico”, afirma a nota.
A Uncisal já comunicou aos servidores sobre a mudança. Um plano de ação foi elaborado com cinco áreas consideradas fundamentais, que passam a ser acompanhadas de perto pela reitoria da universidade, por meio dos gestores interinos.
A reitora da Uncisal, Rosângela Wyszomirska, informou ao UOL Notícias, por meio da assessoria de comunicação, que não iria se pronunciar sobre a decisão e marcou uma entrevista coletiva para esta quarta, onde vai dar detalhes da intervenção.
Oficialmente, o ex-diretor da unidade, José Carlos Silver, teria colocado o cargo a disposição na última semana, após denúncias de problemas de infraestrutura e falta de insumos na unidade, no final do mês passado.
Nos bastidores, sabe-se que a reitora criticou a falta de controle gerencial da unidade, que seria um dos motivos das sucessivas crises na maternidade. Segundo profissionais da unidade, era constante a falta de insumos básicos, como luva e detergente.
Um dos pontos que teria sido determinante para a decisão da Uncisal seria um relatório de inspeção da Vigilância Sanitária Estadual, produzido no final de abril e que apontou para 23 problemas na unidade. Entre os itens apontados estavam paredes mofadas da UTI, que seriam uma “porta de entrada” para infecções hospitalares. A reportagem do UOL Notícias tentou contato com o ex-diretor José Carlos Silver, mas seu celular estava desligado.
Faltam médicos
Defensor da intervenção federal na maternidade, o presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas, Wellington Galvão, afirmou que uma intervenção em âmbito estadual só terá efeito se o governo aumentar o volume de investimentos.
“A questão lá é mais ampla, não é só gestão. Todas as unidades de saúde enfrentam problemas, e lá é um local para pacientes de alto risco, precisa ainda mais de recursos. Tem que investir mais. A questão mais grave é a dos servidores. Lá precisa de muitos neonatalogistas. Os médicos estão saindo porque a situação é caótica e os salários pagos são muito abaixo da média”, explicou.
O quadro de neonatalogistas da maternidade deveria ser composto por 49 médicos, mas somente 21 trabalham na unidade atualmente. O salário de um plantonista, que atua 24 horas por semana, não chega a R$ 2.000 líquidos, o que é considerado baixo pela categoria.
Para Galvão, uma das soluções emergenciais seria a diminuição no número de leitos. “Hoje os médicos não conseguem dar conta da quantidade de leitos. Acontece que a quantidade de leitos no Estado já é pouca. Se não investir em material e recursos humanos, não vai resolver nada a intervenção. A reitora sabe exatamente o problema que tem nas mãos”, assegurou.
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