Comerciantes fazem ameaça e impedem derrubada de barracas na BA pelo segundo dia
Com ameaça de suicídio, interditando ruas e impedindo a entrada de funcionários da Prefeitura de Salvador, comerciantes da praia de Ipitanga conseguiram, pelo segundo dia consecutivo, barrar uma decisão judicial que mandou demolir todas as barracas de praia da cidade.
Na tarde desta terça-feira (24), alguns barraqueiros prenderam garrafas de gasolina em seus corpos e ameaçaram atear fogo caso as autoridades efetuassem a derrubadas dos equipamentos. Os funcionários da prefeitura, então, mudaram o cronograma da derrubada e seguiram para outras praias.
Os proprietários esperam o julgamento de uma ação cautelar movida pela Prefeitura de Lauro de Freitas (região metropolitana de Salvador). A prefeita do município, Moema Gramacho (PT), alega que, embora oficialmente os equipamentos pertençam à cidade Salvador, eles são administrados pela prefeitura da cidade vizinha e, por isso, não devem ser incluídos na sentença judicial.
Os barraqueiros afirmam que vão continuar tentando, a todo custo, impedir a ação das autoridades. “Dessa barraca depende o meu sustento e o da minha família. Por isso, só vão derrubá-la se tiverem que passar por cima de mim”, declarou Maria de Lourdes dos Santos, 56.
Mais confusão de noite
As autoridades também enfrentaram protestos durante a noite de hoje. Revoltados com a derrubada de 17 barracas em Ondina, os comerciantes atearam fogo nos escombros. O incêndio atingiu uma área próxima a alguns dos principais hotéis de Salvador.
Nos dois primeiros dias da operação, 240 (de um total de 353) barracas foram demolidas.
Orla favelizada
A determinação de demolição dos empreendimentos partiu do juiz Carlos D’Ávila, da 13ª Vara da Justiça Federal. De acordo com ele, as barracas foram construídas ilegalmente porque ocupam uma faixa de areia que pertence à União. Em sua sentença, o juiz escreveu que a orla de Salvador está “favelizada, imunda, entupida de armações em alvenaria”, e a construção das barracas “reduziu as praias da cidade, outrora belas, no mais horrendo e bizarro trecho do litoral das capitais brasileiras”, tudo isso, “sob o beneplácito de desastrosas permissões de uso, outorgadas pelo Executivo local”.
“O pavor que esses comerciantes têm de perder o seu principal meio de subsistência é perfeitamente compreensível, e a prefeitura tem de providenciar, com urgência, uma solução para isso. No entanto, concordo plenamente que a orla está feia e mal cuidada”, comentou a administradora de empresas Janaína Lemos, 37, moradora de Ipitanga.
3.000 desempregados
A decisão da Justiça Federal de mandar demolir todas as 353 barracas de praia de Salvador (outras 127 foram derrubadas no primeiro semestre) deixou 3.000 pessoas desempregadas, segundo o presidente da Associação de Barraqueiros, Alan Rabellato, e acabou com o sonho de alguns empresários que chegaram a investir até R$ 500 mil em seus estabelecimentos nos últimos anos.
“Tenho uma filha de oito anos para criar e não sei o que vai ser da minha vida”, disse a cozinheira Ana Rita de Mendonça, 35, que há quase duas décadas trabalhava em uma barraca construída na praia de Patamares e que foi derrubada na manhã desta terça-feira.
Chorando muito, a comerciante Aline Brito de Souza disse que investiu R$ 400 mil em seu estabelecimento. “O que estão fazendo com a gente é um crime. Em poucos segundos, a minha vida ruiu também.” Fornecedora de sombreiros para os comerciantes, Adriana Furtado teve a mesma reação. “Tenho 16 funcionários, todos com carteira assinada. A partir de agora, não tenho alternativa, a não ser efetuar a demissão de todos eles.”
O advogado da Associação de Barraqueiros, João Maia, responsabilizou a Prefeitura de Salvador pelas demolições. “O prefeito pediu a demolição e, agora, quer se fazer de vítima.” Em nota, o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) disse que sempre procurou uma solução negociada para o impasse.
Estabelecimentos luxuosos
Muitas das barracas derrubadas por decisão da Justiça Federal ofereciam luxo e conforto para os seus clientes. Os estabelecimentos localizados na praia do Flamengo, por exemplo, colocavam à disposição dos baianos e turistas internet sem fio, sessões de massoterapia, música eletrônica, seguranças particulares, DJs, espaços gramados para as crianças se divertirem e locais para a realização de festas e casamentos.
O empresário Sílvio Ferreira, dono da barraca Cancún Beach, disse que investiu cerca de R$ 600 mil no estabelecimento. “Durante o verão, aos domingos, chegava a lucrar R$ 12 mil. Isto é o investimento de uma vida inteira”, acrescentou o empresário, que tinha 12 funcionários contratados. “Nos dias de grande movimento eu também dava emprego a alguns diaristas.”
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