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Investigador diz que maior parte das ligações entre Mércia e Mizael foi feita por ela

Cláudia e Márcio, irmãos de Mércia, chegam para audiência; VEJA MAIS FOTOS - Rivaldo Gomes/Folhapress
Cláudia e Márcio, irmãos de Mércia, chegam para audiência; VEJA MAIS FOTOS Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Arthur Guimarães<br> Do UOL Notícias

Em São Paulo

18/10/2010 17h00

A segunda testemunha ouvida nesta segunda-feira (18) na primeira audiência judicial sobre a morte da advogada Mércia Nakashima foi o investigador Alexandre S. Silva, policial do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). O depoimento revelou detalhes e bastidores de todo rastreamento telefônico feito nos celulares de Mizael Bispo de Souza e Evandro Bezerra da Silva Mizael, os dois acusados pelo crime.

Uma das informações mais importantes relatadas é a de que nas semanas anteriores ao desaparecimento de Mércia, das 41 ligações que aconteceram entre ela e Mizael, a maioria foi feita pela advogada. A informação difere da afirmação da família da vítima, que diz que era ele quem a procurava constantemente.
 
Ameaças
Também foi ouvido na sessão de hoje o irmão de Mércia, Márcio Nakashima, que ressaltou que sua família vem recebendo uma série de ameaças.
 
“É um excesso de coincidências”, disse, ao relatar que alguns parentes recebem telefonemas anônimos com ameaças e enfrentam outros acontecimentos identificados como suspeitos pelo depoente. Ele contou, por exemplo, que recentemente bateram em seu carro quando ele andava por Guarulhos (Grande São Paulo) e, na ocasião, o motorista do outro veículo foi agressivo. Mais tarde, Márcio descobriu que o rapaz era um policial militar que trabalhava na cidade, assim como Mizael.
 
Além disso, o irmão lembrou que seu tio, que tem uma barraca em uma feira de Guarulhos, teve sua banca revirada e destruída por desconhecidos. “Agrediram meu tio e não levaram nenhuma moeda”, disse ele, insinuando que tais acontecimentos seriam uma tentativa de calá-lo e desincentivá-lo a prosseguir investigando a causa da morte da irmã.
 
Ele assumiu que não concordava com o relacionamento de Mércia com Mizael, mas disse que respeitava a posição da irmã. Ele afirmou que Mizael era extremamente ciumento e tratava sua irmã com tom ríspido.
 
Márcio disse ainda que, apesar da inimizade com Mizael, inicialmente não queria acreditar que o ex-namorado de sua irmã poderia ser o autor do crime. “Achava que era um sequestro”, contou ele. Por conta disso, a família chegou a circular por favelas da região pedindo informações para pessoas que se identificavam como traficantes líderes do crime organizado nesses bolsões. Com o tempo, as evidências o fizeram mudar de opinião, afirma.
 
Mostrando que tem convicção de que Mizael foi o autor da execução de sua irmã, Márcio usou de ironia para responder ao advogado do réu, Samir Haddad Jr.Samir, que perguntou: “Você já ficou algum tempo sem conversar com a Mércia por causa de algum problema relacionado com o Mizael?”. Márcio respondeu: “Sim, desde o dia 23 de maio”, dia em quem ela desapareceu.
 
O advogado chegou a reclamar da ironia para o juiz, que pediu que ele refizesse as perguntas.
 
Depoimento da irmã
A primeira pessoa a ser ouvida nesta segunda-feira foi a irmã de Mércia, Cláudia Nakashima. Ela pediu que Mizael e Evandro deixassem a sala durante seu depoimento.
 
Convocada pela acusação, Cláudia contou que sua irmã vivia um relacionamento repleto de atritos com Mizael. “Ele era muito ciumento, não deixava a Mércia conversar com ninguém. Era muito grosso”, disse.
 
Segundo ela, depois que o réu perdeu a eleição de 2008, na qual disputava um cargo de vereador em Guarulhos (SP), o desgaste entre o casal piorou. Cláudia disse não saber o motivo de tal mudança, pois sua irmã era muito “reservada” e tinha “medo” de falar de seus problemas com o então namorado, mas afirmou que a derrota teria sido um marco para os problemas na relação. “Desde então, ela tinha ódio dele. No final, só piorou”, relatou ao juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano.