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Começa na Bahia julgamento de acusados por explosão em fábrica que matou 64 pessoas

Especial para o UOL Notícias<br>Em Salvador

20/10/2010 12h32

 

Com a exibição de um vídeo, começou na manhã desta quarta-feira (20), em Salvador, o julgamento de oito pessoas acusadas de participação na explosão de uma fábrica clandestina de fogos de artifício em Santo Antonio de Jesus, no Recôncavo Baiano. A explosão, que provocou a morte de 64 pessoas e deixou outras cinco feridas com lesões graves, aconteceu no dia 11 de dezembro de 1998.

O julgamento começou com uma hora de atraso por causa das fortes chuvas que atingiram Salvador esta manhã. Até as 11h30 (12h30 de Brasília), duas testemunhas tinham sido ouvidas pelo juiz Moacir Pita Lima Júnior. Ex-funcionária da fábrica, Maria Joelma disse que os trabalhadores não recebiam treinamento e, quando havia fiscalização, “os donos pediam para as crianças serem retiradas do local”. Patrícia Oliveira, que deixou a fábrica sete meses antes da explosão, disse à Justiça que os trabalhadores não tinham nenhuma garantia. “Eles não assinavam nossa carteira.”

Com camisas e blusas pretas e segurando 64 cruzes -- o número de mortos na explosão, familiares e amigos das vítimas passaram a madrugada em frente ao Fórum Ruy Barbosa. Na noite desta terça-feira (19), os manifestantes participaram de um ato ecumênico para pedir “justiça e paz”. “Nós rezamos muito e pedimos a Deus para iluminar os integrantes do júri”, afirmou Edgar Silva, um dos responsáveis pela celebração.

No começo da manhã desta quarta-feira houve uma nova manifestação. Com as fotos de todos os mortos, os parentes que acompanham o julgamento fizeram um minuto de silêncio. Rosângela Rocha, que trabalhava na fábrica, perdeu três irmãs com a explosão. “No dia (do acidente) não fui trabalhar. Agora, depois de tanto tempo, estou aqui para ver os responsáveis pela tragédia punidos.”

Chorando muito, Maria Balbina também pediu a condenação dos réus. “Perdi minha única filha no acidente. A dor é muito grande, nunca mais fui a mesma pessoa.” O julgamento foi transferido de Santo Antonio de Jesus para Salvador no ano passado por causa da “forte influência” que os proprietários da fábrica têm na cidade.

Por causa da demora em julgar os acusados, o Estado brasileiro é réu perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados americanos).

O advogado de defesa dos réus, Alfredo Venet, disse que vai apresentar “novidades” durante o julgamento. “Vou demonstrar claramente que muita coisa que publicaram e falaram sobre a explosão é mentira. Só não quero adiantar o que vou dizer.”