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"Era um cara que andava em carro blindado, mas de vidro abaixado", diz presidente da Câmara

Janaina Garcia <br>Do UOL Notícias

Em São Paulo

10/12/2010 14h54

A morte do prefeito de Jandira, Braz Paschoalin (PSDB), está longe de ser o primeiro assassinato com sinais de execução no município de 108.436 habitantes. “Eu vi a história voltando na minha cabeça, depois de tanto tempo”, relata o presidente da Câmara Municipal, Wesley Teixeira (PSB).

Em 19 abril de 1983, o então prefeto Dorvalino Abílio (PDS), pai do vereador, também foi morto a tiros (dez, ao todo), quando chegava em casa. O caso foi registrado como latrocínio (roubo seguido de morte) -- os dois principais suspeitos também foram mortos executados, pouco tempo depois.

O presidente da Câmara é um dois oito que compunham a base aliada do prefeito, que tinha em seu grupo oito dos 11 membros do plenário. Teixeira disse que soube do assassinato do colega por volta de 8h10, quando tomava café em casa. Negou que o tucano tivesse relatado recentemente alguma ameaça ou desafeto na cidade.

“Na verdade ganhar uma eleição já vira uma ameaça para a pessoa. Mas o Braz era um cara que andava em carro blindado com os vidros abaixados, era um sujeito tranquilo”, definiu o parlamentar, para quem, “mais uma vez, está claro que foi execução”.

“Porque, além do meu pai, já teve o assassinato do vereador Mario Soares de Almeida na frente da família delem em 2001, e, há quatro meses, o do vereador Waldomiro Moreira de Oliveira, o Mineiro, da mesma forma – fora um primeiro suplente também executado, o Ivo do Gaz – primeiro suplente, e dois chefes de fiscalização nos dois últimos mandatos do Braz na Prefeitura. São vários crimes políticos”, completou.

O vereador confirmou o que a assessoria de imprensa da Prefeitura de Jandira já havia dito sobre rompimento entre Braz e a vice-prefeita, Anabel Sabatine (PSDB), desde 2009. “Vamos ver como vai se desenhar tudo agora até a posse dela. A cidade tem que ser a maior preocupação”, resumiu.

Apesar da maioria na Câmara, no atual mandato, o prefeito já havia enfrentado problemas como Legislativo no ano de 2004. Na ocasião, os vereadores mantiveram o parecer do Tribunal de Contas do Estado pela reprovação das contas de 1999 e 2000. A inelegibilidade foi revertida na Justiça.

Som de tiros
O crime ocorreu por volta das 8h desta sexta-feira (10) na rua Antônio Conselheiro, no Jardim Mirantes, em Jandira (Grande SP). O prefeito chegava à rádio Astral FM com o motorista e segurança, Wellington Martins, quando o veículo foi interceptado por outro. Ele gravaria o programa “Bom dia, prefeito”. Os disparos foram captados pela emissora, e puderam ser ouvidos ao vivo no momento em que o locutor Marcos Aleixo falava sobre o prefeito com o colega, Fernando Silva. “Que bagunça que é essa aí?”, questionou Aleixo. Ouça:

Walderi Braz Paschoalin, no PSDB, tinha 62 anos e cumpria no terceiro mandato. Ele chegou a ser atendido, mas morreu em um pronto-socorro municipal. O segurança foi encaminhado ao Hospital das Clínicas, onde passou por uma cirurgia. Ele está em estado gravíssimo.

A polícia prendeu quatro suspeitos poucos minutos após o assassinato para averiguação. Eles estavam em uma estrada de terra próxima ao local do homicídio, em um Polo. O Focus prata que interceptou o carro do prefeito foi encontrado em um barranco também na saída da cidade, sem marcas de frenagem, com os bancos molhados de gasolina e uma garrafa pet com combustível. Para a polícia, eles não tiveram tempo de incendiar o automóvel. Mais dois homens foram detidos na mesma região.

A polícia trabalha com a hipótese crime encomendado, mas diz ainda não ser possível definir a motivação. A Procuradoria Geral de Justiça designou os promotores do Júri de Jandira e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) - Núcleo São Paulo para acompanhar as investigações, que serão conduzidas pelo delegado Zacarias Katcer Padros, chefe do SHPP (Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Carapicuiba (Grande São Paulo).