Topo

Grupo invadiu apartamento da filha de prefeito assassinado há três meses, diz porteiro

Fabiana Uchinaka

Do UOL Notícias<br>Em Jandira (SP)

10/12/2010 15h08

Há menos de três meses, a família do prefeito de Jandira (SP), Walderi Braz Paschoalin (PSDB), assassinado na manhã desta sexta-feira (10), havia sido vítima de um grupo que chegou a invadir o edifício Sammartino, onde morava a filha do político, Ana Paula Paschoalin, na vila Anita Costa, em Jandira. Segundo afirmou o porteiro Geraldo Souza ao UOL Notícias, a invasão ocorreu em setembro.

Paschoalin foi assassinado no bairro Santa Tereza, quando chegava à rádio Astral, onde apresentaria o programa “Bom dia, Prefeito”. Ele cumpria o terceiro mandato. Quatro pessoas foram detidas para averiguação. A polícia de Jandira trabalha com a hipótese de crime encomendado, mas não político. O Ministério Público vai acompanhar as investigações.

O porteiro diz que, na madrugada do dia 20 de setembro, foi rendido em sua casa, com a mulher e a filha, por volta de 4h. Ele foi levado pelo grupo até o prédio, e as duas, deixadas no meio do caminho, em uma estrada próxima a Cotia. “Eles me jogaram para dentro do prédio e esperaram o porteiro da noite sair para rendê-lo. Nesse meio tempo, eu consegui interfonar para Ana Paula, e ela chamou a polícia”, afirmou o porteiro, que mora no jardim Brotinho, a cerca de 1 km do centro de Jandira.

Quatro integrantes do grupo subiram até o apartamento e tentaram arrombar a porta. Mas, foram frustados com a chegada dos policiais. A delegacia da cidade fica a um quarteirão do local. “Estava todo mundo no apartamento. A filha do prefeito, o marido dela, Douglas Gozzi, a sogra dela, Ruth, e os dois filhos do casal”, diz Souza.

Agora, o porteiro afirma estar assustado e acredita que a invasão de setembro possa estar relacionada com a morte do prefeito. “Eu acho que tem ligação”, afirmou. “Porque já tinham tentado matá-lo antes e depois teve essa história com a filha.”

Segundo o porteiro, Jandira é uma cidade marcada pela disputa política. “Tem muita briga. Eu não posso afirmar sem ter certeza, mas é estranho. Menos de um mês depois...”

Ana Paula mudou-se do prédio com a família naquele mesmo dia e, de acordo com Souza, nunca mais voltou ao local. O porteiro, que trabalha há 15 anos no edifício e conhecia o prefeito desde 1985, lembra com carinho de Paschoalin. “A gente nunca tem informação boa de político, mas ele e a família toda eram muito legais. Ele sempre vinha aqui no prédio. Era um prefeito querido e popular. Antes de ontem mesmo estava na festa de aniversário da cidade. O povo está chateado.”

O líder do governo na Câmara Municipal, Henrique Francisco de Alexandria (PSDB), confirma que o prefeito já tinha sofrido outro atentado e acredita que a invasão do prédio esteja relacionada com o atual. “Eu acho que foram as mesmas pessoas, do mesmo grupo, porque eram as mesmas armas e, nos dois casos, eles estavam de capuz.”

Som de tiros
O crime ocorreu por volta das 8h desta sexta-feira (10) na rua Antônio Conselheiro, no Jardim Mirantes, em Jandira (Grande SP). O prefeito chegava à rádio Astral FM com o motorista e segurança, Wellington Martins, quando o veículo foi interceptado por outro. Ele gravaria o programa “Bom dia, prefeito”. Os disparos foram captados pela emissora, e puderam ser ouvidos ao vivo no momento em que o locutor Marcos Aleixo falava sobre o prefeito com o colega, Fernando Silva. “Que bagunça que é essa aí?”, questionou Aleixo. Ouça:

Walderi Braz Paschoalin, no PSDB, tinha 62 anos e cumpria no terceiro mandato. Ele chegou a ser atendido, mas morreu em um pronto-socorro municipal. O segurança foi encaminhado ao Hospital das Clínicas, onde passou por uma cirurgia. Ele está em estado gravíssimo.

A polícia prendeu quatro suspeitos poucos minutos após o assassinato para averiguação. Eles estavam em uma estrada de terra próxima ao local do homicídio, em um Polo. O Focus prata que interceptou o carro do prefeito foi encontrado em um barranco também na saída da cidade, sem marcas de frenagem, com os bancos molhados de gasolina e uma garrafa pet com combustível. Para a polícia, eles não tiveram tempo de incendiar o automóvel. Mais dois homens foram detidos na mesma região.

A polícia trabalha com a hipótese crime encomendado, mas diz ainda não ser possível definir a motivação. A Procuradoria Geral de Justiça designou os promotores do Júri de Jandira e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) - Núcleo São Paulo para acompanhar as investigações, que serão conduzidas pelo delegado Zacarias Katcer Padros, chefe do SHPP (Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Carapicuiba (Grande São Paulo).