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Kassab diz que piscinões evitaram mais prejuízos em SP; analistas veem descaso histórico

Do UOL Notícias

Em São Paulo

11/01/2011 13h24Atualizada em 11/01/2011 14h32

Em meio a chuvas que atingem a cidade de São Paulo desde o início do ano, somando 93% do esperado para todo o mês de janeiro, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmou nesta terça-feira (11) que os piscinões espalhados pela capital evitaram ainda mais prejuízos. Ele disse também que, apesar do momento difícil, a população precisa reconhecer investimentos feitos na área, o que é contestado por especialistas em arquitetura e urbanismo, críticos do modelo de planejamento da maior metrópole da América Latina.

Após um evento de lançamento do Carnaval paulistano, Kassab repetiu o discurso do ano passado, quando inundações também alagaram bairros e causaram vítimas em São Paulo. "O importante é que as pessoas entendam o investimento que se faz na cidade", afirmou o prefeito. "Cada vez chove mais. Por isso é cada vez mais importante a função dos piscinões, que corresponderam à expectativa em relação à sua capacidade e estavam preparados. Eles ajudaram para que a consequência não fosse maior."

Mais cedo, o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) informou que desde segunda-feira (10) até às 7h da manhã de hoje (11), choveu em média na capital 68,8 mm, o equivalente a 29% para o mês de janeiro. No acumulado do mês, choveu na cidade 221,2 mm, o que equivale a 93% do esperado para o mês, que é de 239 mm. Em 2010, o volume de chuvas em janeiro foi de 157,3 mm, ou 66% do esperado para todo mês de janeiro.

Nesta tarde, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) se reune com secretários na sede do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica). O objetivo é discutir ações emergenciais e preventivas e anunciar medidas contra as enchentes em todo o Estado - onde a chuva da madrugada já provocou a morte de pelo menos dez pessoas. Entre as cidades com vítimas, estão São José dos Campos, Mogi das Cruzes, Embu e Mauá, além da capital paulista. Mais cedo ele sobrevoou áreas alagadas e conversou por telefone com os prefeitos de São Paulo, Mauá, São José dos Campos e Atibaia.

Descaso histórico

Para o arquiteto Benny Schavsberg, professor da UnB (Universidade de Brasília), os problemas em São Paulo, ao contrário do que diz o prefeito, não podem ser imputados à natureza. "A responsabilidade é do poder público, que, sabendo dos indicadores, dos mapeamentos de área de risco e de tudo mais, não tomou as medidas técnicas", disse ele ao UOL Notícias. "Em curto prazo as medidas são sempre de limpeza de bueiros e de galerias, prevenção nos pontos críticos de alagamento, de enxurrada. Essas providências de curto prazo deveriam ter sido tomadas."

CAOS E CHUVA EM SÃO PAULO

Arquiteta da USP (Universidade de São Paulo), Raquel Rolnik escreveu um texto para dizer que os alagamentos na capital paulista se devem à "opção de construir um sistema viário principal ao longo da várzea dos rios". "Foi um erro pelo qual toda a região metropolitana de São Paulo paga a cada mês de janeiro", afirmou. A especialista também minimizou a questão dos piscinões, exaltados por Kassab, para evitar novas e tradicionais enchentes de início de ano.

"Não se trata de uma questão de projeto de drenagem, mas de um problema causado por uma opção de política de mobilidade rodoviarista que foi tomada há décadas atrás e que hoje se percebe claramente que foi equivocada", afirmou. "O pior de tudo é que os novos projetos nessa área, como, por exemplo, o alargamento da marginal do Tietê, repetem exatamente o mesmo paradigma, ainda que já saibamos que as consequências serão funestas."

Schavsberg, da UnB, diz que, independentemente dos piscinões, "não faltavam indícios meterologicos de que haveria alta pluviosidade e de necessidade de drenagem". Para o especialista, o tipo de gerenciamento potencializa os prejuízos causados pelas chuvas pesadas de início de ano "As cidades que promoveram um sistema de planejamento e gestão metropolitanos, integrados e participativos têm melhores resultados. Em São Paulo é tudo centralizado e há pouco compartilhamento de dados. E isso é responsabilidade do poder público", afirmou.

"Um outro modelo de planejamento, integrado com os outros municípios, daria maior efetividade às iniciativas que têm de ser tomadas. Jogar a culpa na natureza é muito pouco para uma cidade do porte de São Paulo. Dizer que choveu acima da média também não é aceitável, porque o impacto sempre pode ser menor se existe um bom planejamento. Só falta daqui a pouco jogarem a culpa na moça da previsão do tempo."