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MP vai intermediar negociação entre moradores e construtora de prédio que desabou no PA

Sandra Rocha<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Belém

31/01/2011 20h29Atualizada em 31/01/2011 20h35

O Ministério Público Estadual do Pará vai intermediar as negociações entre as pessoas atingidas pelo desabamento do edifício Real Class, no último sábado (29) em Belém, e os responsáveis pelo empreendimento. “Esperamos que a empresa repare os danos”, disse o promotor Marco Aurélio Nascimento.

Entre as pessoas consideradas prejudicadas estão as que haviam comprado apartamentos no prédio que desabou e as que tiveram bens destruídos, como casas e veículos.

O promotor disse que esteve hoje com um dos advogados da Real Engenharia, Roland Massoud, que se mostrou disposto a contribuir. Porém, não está descartada uma ação coletiva por danos caso não haja acordo entre as partes envolvidas. Nascimento afirmou que a empresa deve fornecer em breve uma lista com os nomes das pessoas que compraram os apartamentos destruídos.

O promotor afirmou que, inicialmente, os futuros moradores do Real Class e as pessoas diretamente afetadas pela queda do edifício são prioridade do MP, mas ressaltou que o órgão deve se reunir nesta terça-feira com os síndicos de dois outros prédios vizinhos ao local para checar as demandas dos moradores.

De acordo com Nascimento, há informações de que algumas pessoas já pagaram o valor integral dos apartamentos destruídos. Conforme informações da empresa, os imóveis estavam sendo vendidos por cerca de R$ 500 mil.

Buscas em escritório

O promotor Marco Aurélio Nascimento disse que quatro engenheiros civis auxiliaram as buscas no escritório da Real Engenharia, na rua Timbó, em Belém, para garantir que os documentos apanhados se refiram às ordens de serviço, cálculos de estrutura e outros dados considerados fundamentais para a análise do que pode ter causado o desabamento do edifício.

Entre os documentos estão o projeto arquitetônico da obra, cálculos das fundações e planilha de acompanhamento de perfuração do solo elaborada pela empresa Solotécnica.“Apanhamos exclusivamente documentos que dizem respeito àquela construção para subsidiar o inquérito”, disse.

O promotor informou que aguardará a análise dos documentos e dos laudos periciais sobre o material retirado da construção para decidir se moverá alguma ação criminal contra a empresa. Por enquanto, o que há é um inquérito policial aberto no último sábado.

O diretor geral do Instituto de Perícias Científicas Renato Chaves, Orlando Salgado, que também é engenheiro, disse que cinco engenheiros civis estão trabalhando na coleta do material que será encaminhado para análises laboratoriais.

A previsão feita pelo diretor é que as primeiras informações sobre as causas do desabamento só saiam dentro de 90 a 120 dias.

Histórico

O desabamento do prédio de 32 andares, que estava em construção, aconteceu no sábado (29) no bairro Nazaré. Os escombros atingiram quatro casas e pelo menos seis moradores tiveram ferimentos leves.

Segundo o subcomandante do Corpo de Bombeiros, coronel Mário Wanzeler, a forma como o prédio caiu, totalmente na vertical, denota que o problema ocorreu na base do imóvel. E também leva a crer que houve um afundamento do solo de cerca de três andares.

Até o momento, foi confirmada a morte de uma mulher, de 67 anos, cujo corpo foi retirado dos escombros por volta das 16h de ontem (30). Ela foi atingida em uma das casas vizinhas ao prédio. O corpo já foi reconhecido pela família.

As buscas a dois operários dados como desaparecidos continuam no local. Segundo informações do Corpo de Bombeiros do Estado, os dois desaparecidos eram operários que trabalhavam no momento do acidente. Equipes e viaturas de todas unidades operacionais do Corpo de Bombeiros trabalham ininterruptamente na busca dos desaparecidos, com a ajuda de cães farejadores.

Dois equipamentos usados para localizar vítimas em acidentes de grandes proporções chegaram a Belém, no início da tarde de ontem, vindos direto do Paraná. Um deles, a almofada pneumática, consegue levantar 66 toneladas de escombros. A outra, denominada Delsar, ajuda a encontrar soterrados com sensores que conseguem detectar até a respiração humana.

Trabalho no local

O Corpo de Bombeiros começou a liberar nesta segunda-feira o retorno dos moradores vizinhos ao edifício Real Class aos seus imóveis. Por enquanto, o único mantido sob interdição é o vizinho edifício Blumenau, de 16 andares.

Segundo o síndico do prédio, Sancley Fernandes, os moradores puderam entrar por até 15 minutos nos apartamentos para retirarem objetos que considerem importantes. Fernandes afirma que, por enquanto, não há mobilização para pedir indenizações porque a maior preocupação é com a retomada da vida normal.

Segundo o coronel Mário Wanzeler, a avaliação do Corpo de Bombeiros é que não há mais riscos para a vizinhança. As pessoas estão sendo instruídas a observarem se há alterações dentro das casas e apartamentos, como vidraças trincadas e objetos quebrados. Os problemas devem ser informados à Defesa Civil.

Também há orientação para que os carros sejam retirados das garagens e não retornem enquanto perdurar o serviço de retirada de entulhos do local do desabamento. A medida, explica o coronel, visa evitar problemas por causa da intensa circulação de maquinário na rua 3 de Maio.

A estimativa é que a operação de retirada de material se estenda pelos próximos quinze dias. Cerca de 200 homens continuam trabalhando no local.