Jogadora do Tigrinho 'ganha' R$ 95 mil, tem conta bloqueada e vai à Justiça
O último dia 16 de novembro nunca sairá da cabeça de Lúcia (nome fictício), 28, como a data que poderia ter mudado sua vida. Apostando no jogo do tigrinho em uma plataforma internacional, ela "ganhou" R$ 94,9 mil. Uma felicidade imensa para quem vive do Bolsa Família e pequenos bicos.
Feliz com o prêmio, ela comunicou à família e fez planos de comprar uma pequena casa para viver com os dois filhos. Mas, ao tentar sacar o dinheiro, a surpresa: a plataforma bloqueou a sua conta e não permitiu o saque.
Lúcia, que mora em Maceió, conta que conheceu a plataforma Rico33.com através da influenciadora Ana Paula Ferreira da Silva, conhecida como Paulinha Ferreira. Ela é uma das investigadas pela polícia alagoana dentro da operação Game Over, que apura fraudes na divulgação e operação do jogo do tigrinho e similares.
Ela explica que abriu uma conta e colocou R$ 400 na plataforma no ano passado para tentar a sorte.
Lúcia conta que a primeira coisa que fez ao ganhar o grande prêmio foi ligar para uma tia, que a aconselhou a não depositar dinheiro na plataforma. Ela ganhou, mas não levou: a plataforma bloqueou a conta quando a mulher tentou resgatar o valor.
Lúcia moveu uma ação contra a influenciadora por danos morais e tenta resgatar o prêmio que ganhou.
Fã da influencer
Lúcia diz que segue Paulinha "desde o tempo em que ela vendia roupa".
Ela mostrava que tinha ganhos nessa plataforma. A mãe dela morava em um lugar bem humilde, e eu a vi tirando a família de onde morava e prosperando. Eu tinha uma grande admiração. Na minha perspectiva ela é uma pessoa de baixo que cresceu na vida.
Ao ganhar o prêmio, Lúcia chegou a gravar um vídeo para mostrar a "admiração" "Mas eu fui enganada. Acreditei na pessoa, desejei tantas coisas boas para ela. Jamais imaginaria que ela iria fazer isso com os seguidores."
Contato para pedir ajuda
Ao perceber que o dinheiro não estava disponível, Lúcia fez contato com a influenciadora. Ela então passou um contato de uma pessoa que seria responsável pela plataforma em Maceió.
Quando eu falei com ele, a resposta foi: 'infelizmente foi um bug da plataforma.' Aí eu fiquei pensando: 'Quando coloco o meu dinheiro lá, eles aceitam. Agora se eu ganhar, independente do valor, é porque a plataforma bugou?' Eu não entendi.
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Ela conta, sem sucesso com o contato repassado, voltou a falar com Paulinha pelo Instagram, pedindo novamente ajuda. Para surpresa dela, a própria influencer fez um vídeo falando que a plataforma tinha apresentado problema e que havia "usuários" que teriam ganhos que seriam impossíveis de se ter.
Ela sempre dizia: 'joguem que está pagando muito.' Se eles próprios usam esse linguajar, por que eu não posso ganhar e sacar o prêmio? Eles próprios anunciam isso! A decepção foi enorme. Esse dinheiro ia mudar muito a minha vida. Eu tenho filhos, sou mãe solo e sustento eles sozinha. Pelo menos uma casinha comprava para eles.
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Paulinha teve a conta derrubada por ordem da justiça desde a operação Game Over. Um mandado contra ela foi expedido, mas ela estava em Dubai.
O advogado de Paulinha, Rodrigo Monteiro, afirma que a influenciadora apenas fazia publicidade do jogo, seguindo as normas do Conar e dentro do que prevê a lei de 2013 a aposta de cota fixa.
Ela não é a dona da plataforma, apenas divulgava. Então quem tem de responder por saques ou problemas do tipo são os proprietários, não quem faz propaganda.
A plataforma rico33.com não apresenta contato em sua página e por isso, não pode ser questionada sobre o prêmio não pago.
Investigação aponta fraudes
As investigações da Polícia Civil de Alagoas mostraram que influenciadores que faziam propaganda para o Jogo do Tigrinho e similares recebiam uma conta diferenciada dos demais usuários das plataformas, que dava acesso a uma aposta que seria "viciada em ganhar".
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A Operação Game Over, deflagrada na segunda-feira da semana passada, mirou 12 alvos e pediu apreensão no valor de R$ 38 milhões —montante movimentado desde outubro de 2023, quando a apuração teve início. Os mandados foram expedidos pela 17ª Vara Criminal. Carros de luxo, lancha e dinheiro foram apreendidos.
A investigação também apontou que os proprietários das plataformas mudam sempre as páginas e links para buscarem manter apostadores. O delegado explica que isso ocorre porque as pessoas, ao perceberem que estão perdendo dinheiro, "passam a desacreditar daquela plataforma."
Os proprietários, que geralmente são chineses, criam as plataformas e delas lançam os links de acesso para jogar e o link 'demo'. Eles exploram por um tempo e depois derrubam e criam outras, que vão mudando o nome.
Lucimério Campos
90 comentários
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Thais Fernanda Ferreira Lopes
E a influenciadora tá em Dubai… meu Deus do céu… larguem de acreditar em qualquer um, povo!
Regis Alves de Albuquerque
Brasileiro vive de esperança e ajuda do Estado. Dura realidade que acaba forçando a emoção em vez da razão… há quem aposte os 400 que não podia… a quem doe os 400 pros chamados pastores e por vai… a culpa não eh da vítima somente não… o verdadeiros responsáveis por vender a ilusão que a vida vai melhorar também deveria ser responsabilizado por enganar… estes que hoje são chamados de influencer inclusive
Marcos Mil Homens
Não adianta o advogado falar que a moça só fazia a propaganda, porque quem faz a publicidade de uma coisa notoriamente enganosa está sendo conivente, pois está passando a sua "credibilidade" para o produto.