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Carnaval não está acabado, diz velha guarda da Portela; Grande Rio diz que desfile estava "pronto"

Fabíola Ortiz

Especial para o UOL Notícias<br>No Rio de Janeiro

07/02/2011 14h34Atualizada em 07/02/2011 15h21

Após o incêndio que atingiu na manhã desta segunda-feira (7) os barracões da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), da Grande Rio, da Portela e da União da Ilha, destruindo ao menos 8.000 fantasias das escolas, a velha guarda da Portela mostrou confiança de que o Carnaval não está acabado. Já a Grande Rio afirma que o desfile estava "pronto", mas que já trabalha na reconstrução.

 “Estou muito abalada com todo esse acontecimento. Eu não falo só pela Portela, mas por todas as agremiações, a Grande Rio e a União da Ilha. Foram oito meses de trabalho e ficou tudo destruído em oito segundos”, afirmou tia Surica, 70 anos, uma das mais antigas integrantes da Portela e chefe da velha guarda, que desfila pela escola desde 1944.

A Portela é uma das escolas atingidas pelo incêndio na Cidade do Samba, zona portuária do Rio de Janeiro. Com mais de 3.000 componentes, a escola leva para a avenida um enredo “Rio azul da cor do mar”. É também a escola com mais títulos do carnaval carioca, ao todo, 21.

“A escola vai perder o brilho das fantasias. As roupas da comunidade foram todas destruídas, é muito triste. Hoje, eu não vou para o barracão, não tenho coragem. Não há palavras de conforto”, diz Surica, que acordou com a notícia do incêndio. “Eu como sambista nunca vi isso, perder tudo num barracão.”

Mas, segundo ela, o desfile na Marquês de Sapucaí está mantido. “A Portela é guerreira. Este ano não vai ter toda a perfeição, mas, que a escola vai para a avenida, isso vai. A Portela é minha identidade, é meu sangue azul e branco. Estamos mantendo aceso o samba”, afirmou.

Outro membro da velha guarda também lamentou o estrago. “Nessa hora tem que esperar para acalmar. Prefiro não ir ao barracão e ficar na quadra. Daqui para frente, para salvar o Carnaval, vamos ter que fazer um mutirão”, disse Ubirajara Vieira de Araújo, um dos diretores de bateria de honra da escola, mais conhecido como Mestre Bombeiro, de 76 anos.

“A comunidade está dando aquela força, tem que entrar com raça, levantar o astral, não pode deixar cair”, afirmou ele.

Grande Rio

Simone Oliveira, mulher do presidente da Grande Rio, Helinho Oliveira, chegou abalada na quadra da escola. “Não sobrou nada, só ficaram as fantasias da bateria. Não tinha Carnaval igual ao da Grande Rio”, disse, ainda em estado de choque. Segundo ela, a agremiação havia recebido uma grande quantidade de material importado dos Estados Unidos para os carros alegóricos, que também foi destruído.

O Carnaval da Grande Rio estava “pronto”, complementou o diretor de departamento de fantasias, Walter dos Santos Rodrigues, mais conhecido como 59. “O prefeito do Rio deu 30 dias para o Helinho e vamos colocar na rua o que a gente tem. A escola foi a mais prejudicada”, afirmou Simone.

Ela disse que a escola já está recebendo doações de outras agremiações para ajudar na reconstrução. Empresários e comerciantes entraram em contato oferecendo galpões, espaços para servir de barracão, além de ônibus para logística. Contudo, ela admite que “não há tempo hábil”.  “Este ano a gente queria tirar o atraso de cinco vice-campeonatos. Era para ser o Carnaval da virada. Foi perda total”, disse.

Marli Pereira de Morais, uma das fundadoras da escola, estava inconsolável. “Fizemos ontem um ensaio tão bonito. Isso não podia ter acontecido. Esse ano, ninguém tirava o nosso campeonato, mas a gente vai desfilar nem que seja de camiseta e bermuda”, disse. Ela se colocou à disposição para ajudar no mutirão para reconstruir o Carnaval.

“Nós vamos entrar com garra”, reforçou Maria das Graças Pereira, que integra a ala das baianas. “Não tem para ninguém. Não vamos deixar a peteca cair. Vou fazer 60 anos na avenida. Estamos juntos, aqui é a família Grande Rio.”