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Ex-chefe da Polícia Civil do Rio depõe na PF sobre denúncia de propina e proteção a milícias

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

17/02/2011 17h28Atualizada em 17/02/2011 18h08

O ex-chefe da Polícia Civil no Rio, delegado Allan Turnowski, presta depoimento desde as 15h desta quinta-feira (17) na sede da Polícia Federal (PF) da capital fluminense sobre as denúncias de suposto recebimento de propina  e de proteção a milícias.

Substituído pela delegada Martha Rocha, Turnowski deixou o posto na última terça-feira (15) e foi citado por uma testemunha nas investigações da operação Guilhotina, deflagrada sexta passada (11) pela PF e Ministério Público do Rio (MP-RJ). Segundo reportagem do jornal "O Globo" desta quinta-feira, a testemunha teria sido durante 15 anos informante do subchefe operacional da Polícia Civil, Carlos Oliveira, homem de confiança de Turnowski e um dos presos na operação da PF. O jornal teve acesso aos depoimentos da PF que subsidiaram o relatório final do inquérito.

Segundo essa fonte, em depoimento, o ex-chefe da Polícia Civil teria recebido propina de R$ 100 mil mensais para não atrapalhar a venda de produtos falsificados no camelódromo da rua Uruguaiana, no centro.

O local foi alvo de uma devassa em janeiro passado, realizada pela Polícia Civil e pela Receita Federal por determinação da 6ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça (TJ). A medida judicial atendeu pedido feito pelo Grupo de Proteção à Marca, sediado em São Paulo. Nas insvetigações subsequentes à operação na Uruguaiana, a PF identificou o envolvimento de policiais que disputavam o controle do mercado, ainda mais acirrado depois da morte do líder dos camelôs, Alexandre Farias Pereira, em maio de 2007, vítima de assassinato. A suspeita é que Pereira tenha  se recusado a pagar propina a policiais.

Ainda conforme a reportagem, a testemunha cita também o pagamento de R$ 500 mil mensais de propina que seria paga a Turnowski por um policial militar da Divisão Antissequestro (DAS), líder de uma milícia em Jacarepaguá (zona oeste).

Pela operação Guilhotina, já foram presas 38 pessoas, 30 delas, policiais civis e militares, suspeitos de envolvimento em milícias, proteção a pontos de jogos clandestinos e venda de infromações a criminosos, além de extorsão contra traficantes.

Grupo de extermínio no Rio

Nessa quarta (16), a PF entregou ao secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, relatório que aponta suposto envolvimento de policiais civis e militares em grupo de extermínio. Na investigação de desvio de armas e drogas, e vazamento de informações, a PF também se deparou com assassinatos cometidos ou acobertados por policiais.

Entre os crimes cometidos pela quadrilha estaria um atentado, em 2010, contra Rogério de Andrade, acusado de chefiar a máfia dos caça-níqueis na cidade. Uma bomba explodiu sob seu carro, matando seu filho de 17 anos e o deixando ferido.

Outro caso seria o da comerciante chinesa Ye Guoe, sequestrada em 2008 após trocar R$ 220 mil por US$ 130 mil numa casa de câmbio.

A investigação também aponta uma tabela de preços para a morte de políticos, policiais, empresários, promotores, juízes e outros.

A PF relata que a suposta quadrilha seria responsável por pelo menos sete mortes, entre elas a do presidente do camelódromo da Uruguaiana, e do ex-parlamentar Ary Brum, morto na Linha Vermelha, ambos em 2007.

Segundo a investigação, a morte de Pereira "se deve a uma intensa disputa pelo controle do camelódromo situado na rua Uruguaiana, poderoso centro revendedor de mercadorias falsificadas".

A PF aponta que o responsável pela segurança do camelódromo teria ligação com Turnowski, à época chefe do Departamento de Polícia Especializada.

Crise

Turnowski deixou na terça o cargo depois de uma conversa com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Desgastado com a operação Guilhotina, deflagrada sexta-feira passada (11) pela Polícia Federal (PF) e Ministério Público do Rio (MP-RJ) -- o delegado foi um dos primeiros a ser chamado à PF para prestar esclarecimentos --, o ex-chefe da polícia realizou na segunda-feira (14) uma varredura na Draco, chefiada pelo delegado Cláudio Ferraz, na qual disse ter encontrado irregularidades em inquéritos abertos e arquivados dois dias depois.

Homem de confiança de Beltrame, Ferraz ficou conhecido à frente da Draco pela atuação de combate às milícias -- justamente um dos focos de combate da Guilhotina.

* Com informações da Folha.com