Investigação sobre morte de casal em pousada não descarta homicídio culposo, diz delegada

A delegada Elenice Ferreira, responsável pela investigação sobre a morte de um casal em uma pousada de luxo na Grande Belo Horizonte, disse, nesta quinta-feira (24), que o inquérito pode concluir por homicídio culposo -- os responsáveis pelo estabelecimento podem ser acusados de negligência por não alertar os hóspedes sobre os riscos decorrentes da utilização da lareira nos quartos.

No entanto, a polícia também admite que as apurações também seguem indícios de que as mortes de Gustavo Lage Caldeira Ribeiro, 23, e Alessandra Paolinelli de Barros, 22, foram acidentais e, portanto, não seriam passíveis de indiciamento criminal.

Os corpos dos jovens foram encontrados no dia 17 de março sobre a cama em um dos chalés da pousada Estalagem do Mirante, na cidade de Brumadinho. Laudo pericial detectou alta dosagem de monóxido de carbono no sangue de ambos, o que levantou à suspeita de asfixia provocada pela queima da lenha no quarto.

A polícia aguarda laudo técnico sobre a lareira do quarto onde o casal se hospedou para verificar se houve falha na construção ou entupimento do sistema. “Vamos verificar, por exemplo, se houve homicídio culposo, no caso de ter acontecido algum tipo de negligência por parte da pousada”, disse a delegada Elenice Ferreira. O homicídio culposo pode ser imputado quando uma pessoa assume o risco de matar, mesmo sem a intenção de cometer um crime.

Dono da pousada

Na manhã desta quinta (24), o proprietário da pousada, Luciano Drumond, prestou depoimento no Departamento de Investigações da Polícia Civil, em Belo Horizonte. Ele disse à delegada que as lareiras passam por rigorosa manutenção. Drumond chegou à delegacia acompanhado de dois advogados e não quis conversar com a imprensa.

O advogado Fernando Júnior disse que o proprietário está bastante “tranquilo” e vai colaborar com as investigações. “É natural que a polícia investigue várias hipóteses e não vamos comentar essa possibilidade (de homicídio culposo) agora. É hora de ter muita paciência e aguardar a conclusão do inquérito”, afirmou.

A polícia ainda vai colher o depoimento de funcionários da pousada, entre os quais um gerente que teve contato com o casal pouco antes das mortes.

O caso

Os corpos de Gustavo e Alessandra foram encontrados na quinta-feira (17), sobre a cama de um dos chalés da pousada Estalagem do Mirante. O casal de universitários havia se hospedado na terça-feira (15) para comemorar um ano de namoro. Por não conseguir fazer contato, as famílias acionaram a polícia, que descobriu o paradeiro dos jovens dois dias depois, por meio de mensagens publicadas no Facebook.

Não foram encontradas marcas de violência nos corpos, nem sinal de arrombamento no quarto. A hipótese levantada de que tenha ocorrido um crime passional revoltou amigos e parentes do casal. Pessoas próximas aos jovens foram unânimes ao dizer que o relacionamento dos dois era extremamente afetuoso e nenhum deles teria motivo para praticar um crime.
A morte do casal levou o governo de Minas a confeccionar uma cartilha para alertar hóspedes sobre a correta utilização de lareiras.