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Após roupas mofarem em ginásio, prefeitura de Nova Friburgo diz que doações "excedentes" foram redirecionadas

Garrafas d"água para vítimas da região serrana do Rio também ficaram "encostadas" em depósito - Hanrrikson de Andrade/UOL
Garrafas d'água para vítimas da região serrana do Rio também ficaram "encostadas" em depósito Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade <br>Especial para o UOL Notícias <br>No Rio de Janeiro

04/04/2011 18h01

Grande parte das roupas doadas para as vítimas das enchentes em Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, que estavam mofando amontoadas em quadras poliesportivas à espera de distribuição, já receberam destino, segundo o secretário de Comunicação da prefeitura local, David Massena. O órgão municipal, em parceria com a ONG Viva Rio, afirmou na última sexta-feira (1) que os donativos excedentes foram redirecionados para outras regiões do Rio, aos sobreviventes das chuvas na região Sul do país e para as vítimas do terremoto seguido de tsunami no Japão.

O Viva Rio confirmou a atuação no processo de triagem e redistribuição das doações acumuladas em trabalho conjunto com associações de moradores, igrejas e outras instituições, tais como o Centro Integrado de Desenvolvimento Comunitário (CIDC). Foram beneficiadas algumas comunidades pacificadas, a exemplo do Salgueiro, na zona norte, e Cidade de Deus e Jardim Batan, ambas na zona oeste.

De acordo com o secretário, o ginásio municipal Alberto da Rosa Pinheiro, em Conselheiro Paulino, já foi esvaziado. Ainda resta o ginásio de Duas Pedras, cujos donativos estão passando por mais um trabalho de triagem. Muitas roupas mofaram em razão das chuvas e do alto grau de umidade no período do verão. Massena afirma que parte dessas doações acabou sendo incinerada, já que, além do bolor, itens como fantasias de carnaval e vestes rasgadas não são apropriados para ajudar as vítimas.

"O problema foi sanado. Muita coisa pode ter mofado, já que os ginásios são fechados e durante o verão há um aumento da umidade do ar. Mas esses donativos já estão sendo distribuídos para vítimas de outras tragédias", disse ele.

O secretário afirmou ainda que, dos 84 abrigos organizados nas semanas que sucederam à tragédia, restam apenas 12. Aproximadamente 56 famílias vivem nestes locais improvisados. Na próxima semana, a prefeitura iniciará a segunda fase de cadastramento do programa Aluguel Social, que paga R$ 500 mensais durante um ano às vítimas das enchentes. O benefício começou a ser pago no dia 17 de fevereiro deste ano e, no total, 2.081 famílias de Nova Friburgo foram cadastradas na primeira fase do programa.

Massena diz que a grande comoção e a onda de solidariedade fomentadas pela tragédia climática na região serrana acabou gerando um "excesso" de doações de roupas e sapatos, mas acredita que o principal fator de descaso se deve ao amadorismo da estrutura montada para receber donativos.

"É claro que nenhum município está preparado para o que ocorreu na região serrana, mas o sistema de doações foi tratado de forma amadora. Eu te diria que houve um desmazelo. Não há qualificação de voluntários, muitos chegam no primeiro dia, alguns no segundo dia e no terceiro não há mais ninguém", afirma.

Para a auxiliar de enfermagem Luciana Martins, 34, que trabalhou como voluntária no socorro às vítimas, faltou integração no processo de captação de donativos.

"A prefeitura e a Defesa Civil cadastraram muitos voluntários, mas teve gente que contribuiu aleatoriamente. A Cruz Vermelha também ajudou bastante e até os próprios moradores organizaram campanhas. Teria sido melhor se todos concentrassem os esforços em uma campanha unificada, mas a disposição para ajudar era grande, não houve tempo para isso", disse.

O comerciante Jackson Costa, 32, que mora no município há 18 anos, acredita que falta uma melhor logística de distribuição para que os donativos tenham um destino final.

"No começo tinha de tudo aqui, até gente usando carrinho de mão para ajudar a distribuir essas doações. Agora tem pouca coisa, pelo menos eu quase não vejo. A população tem que ajudar, os empresários têm que ajudar, senão tudo vai se estragar e as pessoas não vão conseguir reconstruir suas vidas".

"Desperdício"

Já a operadora de telemarketing Suzana Leal, 29, acredita que as vítimas deixam de aceitar doações de roupas e sapatos por não ter onde colocá-las."Tem gente que está em abrigo e pegou muita roupa, mas não há espaço para guardar. É um desperdício", disse.

O descaso com os donativos em alguns municípios da região serrana, entre os quais Nova Friburgo e Teresópolis, tem sido noticiado por jornais desde o início de março. O subsecretário de Assistência Social de Nova Friburgo, Gilberto Paulo de Souza, chegou a dizer que a desorganização nos ginásios ocorreu em função da ansiedade dos moradores. Há denúncias de que animais e crianças teriam urinado sobre as pilhas de roupas do ginásio de Conselheiro Paulino. A prefeitura nega.

Com o excesso de roupas e sapatos, os órgãos municipais da região serrana pedem que outros itens sejam doados nesta fase de reestruturação social, tais como óleo, café, açúcar, macarrão, além de materiais e produtos de limpeza.

As chuvas na região serrana do Rio causaram mais de 900 mortes (345 vítimas ainda estão desaparecidas) na região em janeiro deste ano. Em Teresópolis há 386 mortos. Nova Friburgo registra 428 vítimas, enquanto que em Petrópolis já foram resgatados 73 corpos. Também houve 22 mortes em Sumidouro, 6 em São José do Vale do Rio Preto e 1 em Bom Jardim.

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