"Perdi um filho, mas tenho outra e ela precisa estudar", diz pai na volta às aulas
No retorno de todas as turmas à escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, uma cena causou emoção maior. Vestindo uma camiseta com a foto do filho Rafael, morto aos 14 anos na chacina do último dia 7, Carlos Maurício Pinto trouxe nesta terça-feira (19) a filha, Ana Beatriz, 12. “Vim para dar um incentivo. Minha filha tem um futuro pela frente. A vida continua”, disse.
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A menina, contou o pai, não queria voltar à escola, mas ele insistiu, apesar da dor pela morte do garoto. “Perdi um filho, mas tenho outra, que precisa estudar. E a culpa do que aconteceu foi de um maluco”, disse.
O diretor da escola, Luis Marduk, estava recebendo pais e alunos à frente do portão. Um carro da Guarda Civil Metropolitana permanecia a estacionado em frente, mas os policiais estavam dentro. “Eu quero receber os alunos. Não os policiais”, afirmou Marduk.
Apesar do turno reduzido, das 8h às 11h, a maior parte das crianças chegou no horário normal, às 7h15. O diretor pedia aos pais para levarem as mochilas das crianças para casa, já que elas não subiriam às salas. As atividades do dia ocorreram na quadra.
Várias mães, com lágrimas nos olhos, permaneciam na entrada da escola. “Nem tenho vontade de ir pra casa. Por mim, ficava junto com ela”, disse Fabiana Reis dos Santos, cuja filha, Natalia, 10, resistiu muito antes de aceitar retornar. “A psicóloga convidou ela a voltar”, explicou a mãe.
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“Se ela ficar nervosa, alguém liga e a senhora vem buscar”, explicava Marduk às mães preocupadas com as reações das filhas. Caso de Julia, amiga de Carine, uma das meninas mortas na chacina. “Ela não queria vir de jeito nenhum. Diz que está vendo a Carine”, contou a mãe, Maria Valeria Barbosa de Freitas. “Estou muito preocupada dela não querer ficar. Ela veio na marra”.
Dois meninos com braço na tipoia, possivelmente feridos no ataque de Wellington Menezes, retornaram às aulas pela manhã. Também voltou Marcos Paulo, 14, amigo de Larissa, uma das vítimas do atirador. “Era nossa vizinha. Normalmente, eles vinham juntos”, contou a mãe, Ivanisa Barroso. “Hoje ele falou; ‘Mãe, vem comigo’. Ele nunca pede”.
Depois de deixar o filho, uma mãe se dirige ao inspetor e implora: “Seu Joaquim, às 11h venho buscar meu filho. Não deixa ele sair antes”. “Sou que nem carcereiro, responde o inspetor. Entrar, eles entram. Sair, não...”.
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