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Em meio a atrito no setor, Grande São Paulo fica 307 horas sem água devido à falta de luz em 2011

Moradora enche galão com água do poço da vizinha: falta de luz gerou 74 cortes de água em 2011 - Juca Varella/Folhapress
Moradora enche galão com água do poço da vizinha: falta de luz gerou 74 cortes de água em 2011 Imagem: Juca Varella/Folhapress

Arthur Guimarães<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

27/04/2011 07h00

Os apagões elétricos que atingiram a região metropolitana de São Paulo em 2011 trouxeram, além da escuridão, um prejuízo extra à população: as torneiras ficaram sem água, no geral, por mais de 300 horas de janeiro até ontem.

Em meio ao problema, ganha corpo um embate de bastidor entre a estatal Sabesp e a concessionária AES Eletropaulo. A companhia de saneamento acusa a distribuidora de energia de não ter garantido um abastecimento elétrico estável nos primeiros meses deste ano, o que fez as máquinas de fornecimento de água pararem repetidamente.

“Temos a consciência dessa piora na qualidade do atendimento [da Eletropaulo]", diz Paulo Massato, diretor da Sabesp responsável pela área. Segundo ele, a situação é agravada pela demora no religamento da energia. "O tempo até o retorno da luz foi maior este ano, principalmente na área de concessão da AES Eletropaulo."

A Sabesp reclama que, por conta de apagões nos bairros de suas estações, enfrentou paralisações sistemáticas das máquinas que distribuem água, o que obrigou os moradores da região a ficar 307 horas na seca em 2011, somando-se todas as ocorrências registradas por este motivo. É o equivalente, em média, a mais de 12 dias. Cerca de 1,5 bilhão de litros deixaram de ser enviados para as residências. A AES Eletropaulo rebate as críticas e afirma que a Sabesp não estaria preparada para agir nos momentos de crise (leia mais abaixo).

Ações judiciais, assim como cobranças via agências reguladoras, foram abertas contra a companhia de saneamento, diz Massato, mas ele afirma que não se vê como culpado. Segundo o diretor, levar água para a Grande São Paulo requer muita energia elétrica, por conta do terreno acidentado que não permite a distribuição apenas pela gravidade, por exemplo. Dessa forma, a energia vira um item essencial para bombear a água para os pontos mais altos.

"Se houve uma falta de energia, até conseguirmos recuperar as máquinas, pode demorar uma hora e meia", explica o diretor da empresa. Segundo ele, depois que a energia volta, há uma sucessão de processos que devem ser reiniciados. Em casos extremos, como alguns registrados este ano, um bairro pode ficar sem água por mais de uma semana devido a um corte pontual de energia, especialmente no verão.

74 casos em 2011

De 1º de janeiro até ontem, foram 74 registros de falta de água na região metropolitana causados especificamente por apagões em estações da Sabesp. Em abril, foram 15 ocorrências do tipo.

Em 12 de abril, por exemplo, a unidade Embu-Centro ficou duas vezes no escuro. A primeira interrupção no fornecimento de energia começou às 15h55 e terminou às 18h09, segundo dados da estatal. Mais tarde, a luz caiu novamente às 22h, voltando somente às 13h do dia seguinte. Foram mais de 17 horas sem luz, e 11 mil metros cúbicos deixaram de circular pelos dutos da Sabesp na ocasião.

Segundo Massato, os intervalos equivalem aos períodos em que a energia era insuficiente para ligar as máquinas pesadas. “Muitas vezes a AES Eletropaulo diz que a energia voltou. Dá para acender uma luz, mas não há tensão para fazer os equipamentos rodarem", afirma o diretor da Sabesp.

Ele diz ainda ser impensável contratar serviços de geradores, que precisariam ser verdadeiras "temoelétricas", já que algumas estações do sistema de abastecimento de água consomem tanta energia quanto algumas cidades do interior de São Paulo. "Algumas são uma Jundiaí."

Eletropaulo responde

Repleta de pendências com o Procon-SP e responsável pela distribuição da energia em boa parte da região metropolitana, a AES Eletropaulo dá a entender que a Sabesp não estaria preparada para agir nos momentos de crise.

Em entrevista, Sidney Simonaggio, diretor executivo da empresa, acusa a estatal de não ter supervisão sobre suas unidades, além de ser rigorosa demais nos limites aplicados aos dispositivos que desligam os equipamentos em caso de baixa tensão.

A AES Eletropaulo afirma que sabe da importância da Sabesp para a população e, por isso, dá tratamento especial à estatal. “A Sabesp tem tratamento privilegiado, tem os telefones de todos os diretores regionais. A Sabesp tem uma pessoa dedicada 24 horas, tem todo o tratamento de um cliente grande, tem toda a informação”, ressalta  Simonaggio.

Nos momentos de crise, no entanto, o protocolo fica de lado e os dois diretores chegam a se falar diretamente. “Toda hora que o Paulo (Massato, da Sabesp) precisou, ele ligou para mim e foi bem atendido. Várias vezes nossas equipes foram até a estação dele para ajudar a religar a luz”, diz. “De toda forma, toda vez que ele me liga, minha sala de situação já está sabendo da ocorrência."

Massato confirma que as empresas estão em “contato direto”. “Fizemos várias reuniões, e há um esforço concentrado, tanto da Sabesp como da Eletropaulo. Nossas unidades mais críticas estão mapeadas, entregamos nossos relatórios para eles”, diz o representante da estatal.

O diretor da Sabesp não esconde, no entanto, que farpas são trocadas em algumas negociações entre as duas empresas. “Existe um atrito saudável. Em momentos críticos, dá uma azedada, mas voltamos e conversamos para ficar tudo bem”, finaliza.